O estado deletério da economia brasileira, com ênfase a sua política fiscal com projeções negativas soberbas para este ano e sem perspectivas de recuperação imediata, é do conhecimento geral, aqui e no exterior, e ontem mereceu uma precisa e contundente declaração do Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que vê a pior crise da história.
A observação de que observa sinais de retomada é muito mais de uma reação fundada mais na “esperança e anseio” dos setores produtivos da economia, do que a colocação efetiva em prática de mudanças que possam confirmar este sentimento, visto que matérias relevantes dependem da aprovação política, onde é notória a divergência sobre alguns temas, além do ambiente bastante perturbado em razões de medidas/sugestões judiciais em torno dos principais lideres.
O COPOM manteve a taxa de juro SELIC na reunião finda esta semana, e, a inflação seja pelo IPCA de maio último pontuando o maior índice para o mês desde 2008, sejam por outros indicadores continua aquecida, não sugerindo que o juro SELIC venha a ser reduzido na próxima reunião como prognosticado por inúmeros setores.
É frágil a tese de que o preço do dólar cai no nosso mercado porque o “index dólar” está caindo no exterior, tendo em vista que há inúmeros fatores adversos internos que necessariamente deveriam estar precificados na formação do preço. É importante considerar que o Brasil não atravessa uma situação normal que lhe permita repercussões alinhadas de forma absoluta com comportamentos de ativos no exterior.
O país, além da melhora não excessiva do humor, ainda não consolidou pontos marcantes que o façam diferente do que prevalecia, pois criar um teto para o dispêndio nossa tradição mostra que pode ser vulnerável a partir de pressões políticas. A aprovação da PEC que recria a DRU até 2023 foi uma vitória embalada pelo clima de apoio, mas por enquanto não passa disto já que permite ao governo usar livremente 30% das receitas e é um fato em perspectiva a ser observado.
Elegeu um novo Presidente para o BC e a partir de seu discurso de posse o mercado desenvolveu entendimentos, com os quais procura forjar eventual, porém descabida, valorização do real.
O Brasil, dada a recessão, conquistou até agora um expressivo saldo na balança comercial da ordem de US$ 20,0 Bi, grande parte decorrente das exportações agrícolas que são pontuais nesta época do ano. Contudo, chamou atenção o saldo negativo dos investidores em Bolsa no mês de maio e o fluxo cambial financeiro evidencia no ano que até 3 de junho deixaram o país US$ 29,2 Bi, e que o saldo final do fluxo cambial está negativo US$ 7,78 Bi e os bancos vem sendo financiados pelo Banco Central do Brasil para manterem posições vendidas (a descoberto) de US$ 28,0 Bi com as quais geram liquidez ao mercado à vista, que, a rigor, reduz as reservas cambiais para US$ 348,0 Bi.
A evidência está bastante transparente no fato de que no período o saldo da balança comercial não causou nenhum efeito crescente nas reservas cambiais, mas as saídas financeiras que se contrapõe e provocam o fluxo total liquido negativo elevaram as posições vendidas dos bancos fechadas em dezembro/15 em US$ 20,0 Bi para agora US$ 28,0 Bi.
À margem deste cenário há a possibilidade do FED elevar o juro americano e isto provocar repercussões de saídas de recursos do Brasil e a ocorrência mais acentuada de não rolagem de empréstimos vincendos, seja pela queda de demanda interna, seja pela seletividade e encarecimento dos custos.
Imaginar-se que o país atrairá investimentos no curto prazo, no nosso entender, é uma visão equivocada. Investidores precisarão ser motivados com sinais consistentes e mensuráveis de recuperação da economia do país, e isto é algo para longo prazo.
O preço do dólar mais baixo, sem intervenção do BC, torna atrativa a liquidação gradual por parte da autoridade monetária das suas posições ainda abertas de swaps cambiais, garantindo ganho e evitando a expansão do déficit fiscal. Este é um ponto que pode ser pontual e não tornar duradoura a valorização do real.
Por outro lado, há ainda excessivos posicionamentos no mercado de derivativos envolvendo o dólar que teve momentos muito atribulados no período pré-abertura do processo de impeachment e que agora precisam ser ajustados. Este ajuste pode estar afetando a tendência do dólar no mercado de câmbio local, acobertado pela queda do dólar no mercado externo que se presta a justificativa.
O país tem projeção de queda do PIB de 4%, também agora revista pelo Banco Mundial, tem projeção de déficit fiscal de R$ 170,0 BI, inflação ainda surpreendendo a despeito da forte recessão, desemprego, queda de renda e consumo, e perspectivas com melhor humor mais ainda incertas, já que carente de efetividade e consubstanciada em anseios.
O preço do dólar em descompasso com a realidade do país pode retrair as nossas exportações e promover o crescimento das importações, se não de insumos, mas de produtos acabados concorrentes dos produtos nacionais.
Não se pode perder de vista que o preço ajustado à realidade do país é o fator de mais rápido impacto motivador da retomada da atividade econômica, pois aumenta a competitividade externa e interna do produto nacional. Para um governo com parcos recursos e precisando sair deste cenário de desemprego crescente e queda de renda e consumo, este é um fator relevante.
Por isso, num ambiente cheio de anseios mas sem fatos concretos implementados e uma perspectiva que não sugere fluxos cambiais positivos líquidos, é o caso de questionar-se:
Tendência ou conveniência momentânea valoriza o real?