Perspectivas otimistas em relação a ingressos de recursos estrangeiros oriundos do leilão do excedente da cessão onerosa, marcado para 6 de novembro, além da melhor percepção sobre a atratividade do programa de concessões e privatizações do governo, que também pode atrair o investidor estrangeiro, e adicionalmente a probabilidade de retomada da captação externa de recursos por parte de empresas nacionais, revertendo o recente movimento de reversão de dívidas externas em internas, considerando a grande liquidez externa e custos baixíssimos já que tem economias fortes praticando juro zero, provocam o fortalecimento da convicção de que fluxos de recursos estrangeiros poderão se intensificar para o país, após um longo período de retração.
Naturalmente, a carência de fluxo cambial impactou na formação do preço da moeda americana no nosso mercado, e, embora com justificativas as mais diversas salientando causas, o fato é que, em tese a intervenção do BC ofertando dólares à vista em volume equivalente ao déficit líquido do fluxo cambial deveria impedir a sensibilização na taxa do fato.
Contudo, com a autoridade monetária utilizando de forma conjugada a “ação contra efeito da oferta à vista” no preço da taxa cambial com a oferta de swaps cambiais reversos em volume idêntico, provoca uma consequência dupla: geração de liquidez sem afetar a formação do preço, mantendo reflexo da demanda presente.
Além disto, com esta estratégia operacional promove de forma dissimulada e sutil a redução efetiva das reservas cambiais, pois ao ampliar a exposição na forma de “posição cambial líquida” envolvendo itens com afinidades, mas diferentes conceitualmente, acaba não dando ênfase a este fato concreto. Reservas são disponibilidades em moeda estrangeira efetiva; linhas com recompra não reduzem liquidez no conceito de liquidez internacional, mas somente de caixa pois há a recompra; e swaps cambiais são operações referenciadas em dólar mas não liquidáveis em dólar e sim por diferença em reais. A venda de dólares de forma objetiva ao mercado reduz as reservas cambiais e a redução dos swaps cambiais com swaps cambiais reversos envolve em operação liquidável por diferença em reais.
Esta disposição do BC no momento tem o objetivo de prover de liquidez do mercado à vista, não havendo em termos de fluxo de moeda relação direta com o movimento com swaps cambiais reversos que tem impacto derivativo de compra de dólares no mercado futuro, sem ser efetivamente “compra de moeda”, mas realizada de forma conjugada dá sustentação à taxa cambial contendo o impacto que haveria a partir da oferta de moeda efetiva no mercado à vista.
Algo muito técnico e estratégico!
Com a melhora do fluxo cambial e principalmente com as perspectivas de melhora no curtíssimo prazo e médio prazo, ocorre o impacto de apreciação na formação do preço do real com intensidade maior, mesmo que ainda ocorra residualmente a intervenção do BC, quebrando o efeito sustentação provocado pela eventual oferta de swaps cambiais reversos, que perde volume e tende a exaurir-se e assim a capacidade de contenção do preço, pois a pressão de oferta à margem do BC e expectativas têm maior impacto predominante e promovem a apreciação da moeda nacional.
O viés do comportamento da taxa cambial repercute o novo cenário em perspectiva, e a tendência de apreciação do real frente ao dólar com preço abaixo de R$ 4,00 se acentua fortemente, embora ainda perdurando volatilidade como ontem, pois a queda abrupta como aconteceu nesta semana atrai demanda reprimida.
Ontem, o BC do montante de oferta de dólares à vista conjugado com oferta de swaps cambiais reversos de US$ 525,0 MM só efetivou US$ 125,0 MM o que deixa evidente que o fluxo e a perspectiva de fluxos no curto prazo estão inibindo a demanda do mercado para a oferta da autoridade monetária através a intervenção.
A despeito da queda de demanda pelo mercado, face à recuperação de fluxo normal, sobre as ofertas do BC de operações conjugadas de oferta de moeda à vista com oferta de swaps cambiais reversos, o BC já anunciou que manterá esta conduta ao longo de novembro, sem interromper a conduta normal de rolagens de swaps tradicionais vincendos e linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, pois continua interessado em reduzir as reservas cambiais.
Evidentemente que as causas de momento podem ser um tanto pontuais, o que pode também determinar volatilidade até que se consolide a efetiva recuperação e normalização do fluxo cambial positivo como rotina com direcionamentos de recursos estrangeiros para o nosso mercado como investimento produtivo na conta capital, em renda variável e face a retomada do ímpeto de captações no mercado externo por parte das empresas nacionais, aproveitando o custo baixo e o excelente CDS do país em torno de 128,0 pontos.
Contudo, será extremamente relevante que as reformas continuem em pauta e a economia continue emitindo sinais de recuperação da atividade, gerando empregos, renda e consumo, sem o que o ambiente de otimismo terá dificuldade em se consolidar.
Até o momento a direção da recuperação e retomada da atividade econômica estão corretas, porém a intensidade precisa melhorar muito! Este é o desafio!
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO