Se a emoção supera a razão, os preços perdem fundamentos e as tendências críveis

O “frisson” no mercado financeiro mundial em torno do conflito envolvendo o Irã e os Estados Unidos acaba por fomentar a crença no pior cenário, que a grande maioria não acredita efetivamente factível, e com isto provoca movimentos voláteis e afastados dos fundamentos calcados na sensatez que se faz necessária no momento.

Ocorrem movimentos atípicos, ditos defensivos, mas no fundo orquestrados por ações especulativas e que se expõe ao risco de reversão tão logo surjam sinais contrários à crença prevalecente, ainda mais quando tem como centro das atenções maiores o comportamento do preço do petróleo, o ouro negro, que afeta quase todas, se não todas, as economias mundiais.

Estabelece-se então um “jogo” somente para profissionais, onde incautos “pagam a conta”, e o comportamento generalizado dos negócios no mercado financeiro ficam “nonsense”.

No Brasil, que não é uma ilha não é diferente e os movimentos atípicos ganham força neste momento, mas é importante que não se perca o foco no realismo e não nas “teorias conspiratórias” que se propagam nestas ocasiões.

O risco do “revanchismo” e a perspectiva de uma guerra mais efetiva já não são tão prováveis como, por vezes, se coloca, pois certamente ambas as partes devem ter seus temores, e isto acaba por repercutir como respeito e contenção de loucuras maiores.

Então, é o caso de se perguntar, o que aconteceu com o Brasil cheio de otimismo e perspectivas favoráveis de ganhar forte tração para o desenvolvimento de sua atividade econômica?

O desempenho do sentimento favorável predominante acerca das perspectivas alvissareiras em torno do Brasil decorria de seus próprios méritos, ainda sem a contribuição efetiva do capital estrangeiro, o qual se espera retorne como recurso agora não mais especulativo, mas com qualidade para contribuir para o fortalecimento do mercado acionário e a privatização de setores/atividades fundamentais para a infraestrutura do país.

De bate pronto, o Brasil de antes do conflito é o mesmo de hoje, o risco maior é o preço do petróleo, mas o país também é grande produtor da commodity, embora de baixa qualidade, mas também subirá de preço se esta tendência se sustentar, já que parece que o som do barulho foi maior do que o fato em si.

Se crescemos até agora “por nossa conta e ordem” devemos ficar atentos, mas nada sugere que ocorra mudança brusca para postura tão defensiva, até porque grande parte ou quase a totalidade dos investidores estrangeiros já se retirou do país e agora estamos esperando o retorno, não mais como capital especulativo.

Naturalmente, pode ocorrer o retardamento da retomada de fluxos cambiais favoráveis no curtíssimo prazo, mas a atratividade brasileira que fomentava o otimismo não foi maculada pelo atrito Irã-Estados Unidos e é possível que isto só venha a ser percebido posteriormente, pois tanto Bovespa quando dólar, para que haja venda tem que haver comprador, daí…

O nosso CDS continua no em torno de 98 pontos e nossos avanços na política fiscal não foram interrompidas e nem a dinâmica propulsora da apresentação das reformas tributária e administrativa.

Então, é imperativo que a razão predomine sobre a emoção e as coisas sigam ancoradas nas perspectivas favoráveis que continuam prevalecendo a despeito da eventual tensão maior ou menor em torno do “affair” Irã e Estados Unidos.

É imperativo que o Presidente Bolsonaro mantenha neutralidade e se omita de opinar a respeito, visto que há uma grande ansiedade de colocarem “em seu discurso” eloquência pró Estados Unidos.

Naturalmente, a Bovespa retomará a direção da valorização no curto prazo, após muitos terem perdido e outros tantos terem ganho, e o mesmo vale para o dólar, cujo preço deve retornar para o em torno de R$ 4,00, já que o país está com problema de fluxo cambial favorável mas não tem qualquer risco de crise cambial, o que é uma situação privilegiada no contexto dos emergentes.

Sensatez é a postura chave!!


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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