No nosso entender o preço do dólar mesmo entre R$ 4,00 a R$ 4,05 ainda incorpora disfuncionalidade, e, desta forma, não vemos razões concretas para alarmismos e previsões negativas acentuadas decorrentes do atrito entre Irã e Estados Unidos.
A saída expressiva dos capitais estrangeiros especulativos ocorrida no país desde agosto de 2019, que foi um fator negativo ao impactar no fluxo cambial, seguramente agora nos beneficia na medida em que o risco de fuga de capitais estrangeiros fica bastante atenuado, para não afirmar que nos deixa imune de posturas defensivas intensas e desestabilizadoras normais por parte de investidores estrangeiros em momentos de tensões geopolíticas como a presente.
O negativo que pode ocorrer será o retardamento da materialização da perspectiva de intenso fluxo de investidores estrangeiros para a Bovespa, sendo normal que, dada a postura defensiva natural nestes momentos com cenários conturbados haja mais sensatez nas movimentações de capitais.
Então, é bastante provável que a intensificação do movimento de valorização na Bovespa perca intensidade, sem, contudo, ser interrompido ou perder a direção.
Na formação do preço do dólar é preciso considerar as condições peculiares que cercam o Brasil, um país emergente bem defendido na questão cambial por não ter dependência externa para cumprir suas obrigações visto que tem reservas cambiais substantivas e operacionalidade por parte do BC que o deixa apto a suprir as carências emergenciais.
Ademais, somos preponderantemente exportadores de “commodities” que têm seus preços sensibilizados para valorização nos momentos de conflitos geopolíticos, ainda mais quando, no caso presente, afeta uma “commodity” de soberba importância como o petróleo.
E merece citação/observação o fato de que o país tem conseguido restabelecer tração de sua atividade econômica a partir das melhoras que tem conquistado no seu ambiente interno, sem a participação contumaz em alguns momentos antecedentes dos investimentos externos, que sofreram forte retração seja em conta capital, em renda fixa e que ainda não aconteceram na renda variável, como em perspectiva.
Será de extrema importância à postura de neutralidade do governo brasileiro em torno do embate entre Estados Unidos e Irã, e que conviva com o problema a margem da sua dinâmica de recuperação econômica, mantendo o foco nas reformas tributária e administrativa, que serão pontos de grande relevância para a manutenção do otimismo no país.
Parece-nos imponderável que o capital estrangeiro se direcione para o Brasil que tem uma infinidade de oportunidades para investimentos de longo prazo na sua infraestrutura e no seu mercado de capitais, com destaque para a Bovespa, no momento em que a economia emite sinais concretos de recuperação, com perspectivas de crescimento do PIB de 2,50% neste ano de 2020.
O ano de 2020 seguramente não repetirá o intenso fluxo de saídas de capitais estrangeiros como ocorreu em 2019, capitais de cunho especulativo e que foram desestimulados pela brusca mudança da taxa de juro no país e que, dado o retardamento da Reforma da Previdência e Programa de Privatizações em suas implementações, não sugestionou investidores não especulativos a promover a inflexão do fluxo com recursos de melhor qualidade, o que criou um “gap” temporal em que pontificou o substantivo volume de fluxo negativo.
Certamente, o ano de 2020 será diferente, até porque o Brasil está diferente e isto é percebido pelos investidores nacionais e estrangeiros, fato que se constata ao verificar-se o CDS de 99 pontos atribuído ao país e perspectivas efetivas presentes.
Sensatez é fundamental neste momento para não tornar o “evento Irã-Estados Unidos”, em termos Brasil, maior do que efetivamente poderá ser e gerar um sem número de conjecturas maléficas para o país.
Tudo segue!
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO