Há sinais de que empresas estão antecipando a tomada de recursos no exterior na forma de empréstimos como capital de giro novo, mas, também, presumivelmente antecipando a captação focando a rolagem de compromissos externos vincendos neste ano.
Existem dois fatores que poderiam estar fomentando esta antecipação. Primeiro face ao relevante montante vincendo este ano de empréstimos do setor privado de curto e longos prazos e empréstimos “intercompanies”, parte deixando o país pelo desinteresse de rolá-los, mas a parcela vincenda ao longo do ano motivando captação antecipada nesta fase menos atribulada do ano, já que a tendência é que fique menos favorável quanto mais próxima as eleições.
É possível admitir-se que possa continuar chegando ao país capitais especulativos que estão sendo direcionados à renda fixa, mas esta propensão deve ter a curva cadente não porque a taxa de juro não seja atraente, mas este é um ano em que o ambiente eleitoral já está no radar e o especulador não convive bem com incertezas.
Já não há indícios que os ingressos recentes sejam recursos especulativos direcionados à BOVESPA, visto que o mercado acionário parece ter deixado o “boom” altista para trás e está se preparando para a operação de desmonte das posições e saída dos recursos do país, após as expressivas altas registradas, que sugerem que aplicações na BOVESPA neste momento tenham se tornado de alto risco.
A recuperação da BOVESPA ontem foi pontual e consequente da decisão do STJ favorável à Vale.
Antecipar-se a um momento futuro no ano que sugere apresentar maior dificuldade para captação de recursos no exterior parece ser bastante cautelar, visto que com a proximidade das eleições a tendência no Brasil deve ser de acentuar-se mais o movimento de saída de recursos estrangeiros do país e maior grau de dificuldade de captação de recursos no mercado global pelos nacionais.
Contudo, se o movimento de captação for antecipado evitando que ocorra o presumível fluxo negativo nesta fase, na contrapartida fica ampliado o “gap” de fluxo faltante que se vislumbra em perspectiva, já que o capital especulativo tende, pelo menos em tese, a se retirar do país antes das eleições e, também, na mesma época poderemos ter acentuado o deslocamento de recursos não especulativos investidos no país para as economias desenvolvidas, como inicio da movimentação decorrente da perspectiva de mudança da política monetária americana no 1º semestre de 2015.
Mesmo que esteja ocorrendo um fluxo de recursos mais intenso consequente de antecipações de captações e não mais rigorosamente de acentuado fluxo de recursos especulativos, o fato é que ainda assim tem sido insuficiente para zerar a insuficiência de ingressos de recursos ocorrida no ano passado e que está sendo carregada pela posição vendida dos bancos, com financiamento concedido pelo BC, que assim vai evitando ter que vender efetivamente divisas das reservas cambiais do país.
Mas no nosso entendimento, o que vem causando a apreciação mais acentuada do real frente ao dólar é o excesso de intervenção do BC com ofertas de “swaps cambiais”, novas ofertas e rolagens, acima da necessidade do mercado, no afã de que a taxa cambial se preste a conter, juntamente com o juro, as pressões inflacionárias.
Ocorre que o real exacerbadamente apreciado pode causar repercussões muito intensas no setor produtivo nacional, aliás, o que não seria uma novidade, e, pode anular a atratividade do país até para o capital especulativo face a taxa de conversão passar a representar risco.
Não há como fundamentar uma taxa cambial em torno de R$ 2,21 no Brasil por ser absolutamente incompatível com o contexto do país, já que atualmente, diferentemente do que houve no passado, o país enfrenta problemas no setor externo e tem fluxo cambial no todo insuficiente, com uma perspectiva de déficit em transações correntes enorme, estimado em US$ 80,0 Bi.
Do lote de contratos vincendos em 2 de maio próximo restam US$ 2,233 Bi a serem rolados.
Hoje o BC não anunciou que promoverá a rolagem dos 10.000 contratos e isto de imediato impactará apreciando o preço da moeda americana.
Em princípio considerava-se como factível a rolagem de todo lote vincendo no mês, mas a eventual melhora do fluxo cambial deve ter determinado que o BC contivesse o excesso de oferta de “swaps cambiais”, visando assim reduzir o excesso de apreciação do real.
Mesmo assim, a taxa cambial perdurará desalinhada e o fato de estar ocorrendo antecipação de fluxo só faz aumentar a probabilidade de alta extremamente relevante do preço da moeda americana no último trimestre deste ano.