As contas externas brasileiras revelaram no 1º trimestre deste ano o seu maior déficit da série histórica iniciada em 1947.
O saldo negativo acumulado é de US$ 25,18 Bi. Na proporção com o PIB, o resultado atingiu 4,71% no trimestre. No acumulado de 12 meses atinge US$ 81,5 Bi equivalente a 3,64% do PIB.
Há quem observe que a tendência de crescimento agudo está atenuada, mas é necessário observar os fluxos de IED´s para verificar-se a capacidade de financiamento do déficit.
No mês de março o déficit foi de US$ 6,248 Bi e o Brasil recebeu US$ 3,6 Bi de IED´s efetivos e mais US$ 1,4 Bi de empréstimos “intercompanies”, totalizando US$ 5,0 Bi de IED´s mistos, montante insuficiente.
Tudo indica que os IED´s, projetados pelo BC em US$ 63,0 Bi para o ano, possam ficar um pouco abaixo e o déficit em transações correntes, projetado pelo BC em US$ 80,0 Bi, também pode ser um pouco menor, contudo o montante de insuficiência para financiá-lo poderá ser maior do que os US$ 17,0 Bi.
Este é um problema que alterou fortemente o perfil do déficit em transações correntes a partir do ano passado quando foi praticamente dobrado e que se mantém este ano. Uma das causas é a baixíssima formação de poupança interna.
Dado recente revela que no Brasil se poupa 14%, algo como metade da média dos emergentes, o que sugere em perspectiva que o problema do déficit em transações correntes tende a perdurar por anos e, inevitavelmente, poderá vir a comprometer as reservas cambiais brasileiras.
O déficit do ano passado foi “acomodado” pelo BC nas posições vendidas dos bancos, às quais está financiando com recursos das reservas cambiais, mas que não representa solução, até porque o fluxo para resgatá-lo continua negativo inclusive este ano. Em algum momento, esta acomodação temporária implementada pelo BC terá que ter um uma solução efetiva, e, então, atingirá o saldo das reservas cambiais.
Pouco se pode contar este ano com saldos advindos do comércio exterior, a exemplo do que já ocorreu no ano passado. A tendência este ano até parece pior do que em 2013. O IEDI relatou que as exportações do setor da indústria de transformação deterioraram no 1º trimestre com um déficit de US$ 18,8 Bi, consequente do crescimento das importações de 1,1% e queda das exportações de 6,2%.
Basicamente, o Brasil é atualmente exportador agrícola e altamente dependente da China, que vem apresentando sinais discretos de perda de crescimento e problemas com o seu modelo exportador.
O Brasil que já carregou para este ano um expressivo saldo de insuficiência de fluxo da ordem que representa US$ 10,8 Bi em posições vendidas dos bancos, já tendo sido amortizado o montante de US$ 5,4 Bi de fluxo positivo este ano.
Fortuitamente o Brasil conseguiu evitar a ampliação fortíssima do fluxo cambial negativo este ano até o 1º trimestre, já que atraiu enorme massa de recursos especulativos direcionados para a BOVESPA, da qual há sinais de que já estão realizando lucros e saindo do país, e para renda fixa.
No ano até o dia 17 de abril ingressaram no país US$ 213,0 Bi e saíram US$ 208,0 Bi, e estes números dão bem a idéia do que teria sido o impacto sem os ingressos especulativos.
Contudo, recursos especulativos são de rápida permanência e a BOVESPA, após ter-lhes proporcionado ganho expressivo, para já repercutir os movimentos de saída destes recursos que tendem, também, a deixar o país.
Temos ainda o fato de muitas empresas estarem antecipando captações de recursos no exterior e até mesmo com a finalidade de rolagem de empréstimos vincendos tendo em vista que este é um ano eleitoral, o que pode ter contribuído para o volume de ingressos.
Mas, as perspectivas para o longo do ano, em especial o último trimestre do ano, é de forte saída de recursos, seja pelo período de incerteza em torno das eleições presidenciais no Brasil, seja pela expectativa em torno da mudança de política monetária nos Estados Unidos.
Há muitos fatores que levaram o Brasil a perder atratividade perante os investidores estrangeiros. Baixo crescimento, inflação elevada com sensação de que é maior do que os índices divulgados, problemas de natureza fiscal que devem ser agravados com os acréscimos das despesas de energia que podem comprometer a meta de 1,9%, política econômica contestada pela grande maioria, baixa credibilidade nos comprometimentos de metas recentes, etc….
A inflação elevada corrói a confiança agora também das classes C e D fortemente atingidas pela elevação dos preços dos alimentos, mas o fato é que a inflação está bem disseminada.
A FGV aponta que a confiança do consumidor cai ao menor nível desde 2009 e as perspectivas pioram.
O nosso setor externo é um relevante problema a partir dos próprios problemas do país, e, nos parece bastante distante da realidade quando ocorrem tentativas de se atribuir ao exterior nossas mazelas.
Atribuir-se a fatores como Ucrânia, Rússia e mesmo por vezes Estados Unidos, etc…. é um erro relevante de avaliação de dimensão e importância do Brasil no contexto internacional, em que representamos algo em torno de 1% do comércio exterior, sendo o país de dimensões continentais.
O Brasil precisa olhar para dentro do Brasil e verificar que os problemas que temos estão aqui mesmo.
Por isso, destacamos sempre que é absolutamente irreal e contraditório termos a taxa cambial atual, com o grande viés de continuidade de fluxos negativos anuais, inexpressividade da balança comercial, e, até o fato de termos sido rebaixados na nota de crédito pela S&P que inevitavelmente nos retira ainda mais atratividade do recurso estrangeiro de qualidade.
É perfeitamente factível a ocorrência de pressões verdadeiras sobre a formação de preço da moeda americana ao longo do ano, negativando todo o esforço atual do governo em utilizar o preço da moeda americana depreciada como antídoto à inflação.
R$ 2,60 ao final do ano continua sendo uma taxa absolutamente coerente.
O Boletim FOCUS de 25 divulgado hoje, em termos deste ano procedeu poucas modificações. IPCA de 6,51% para 6,50%; PIB de 1,63% para 1,65%. Dólar e SELIC inalterados em R$ 2,45 e 11,25%.