Preços dos ativos focam os fundamentos. Dólar busca “porta de saída”

Seria imprudente creditar toda a pressão ocorrida na última sexta-feira à uma pesquisa eleitoral com divulgação tardia, tecnicamente velha já que antecedia a mais recente, que inclusive teve um “n” cinco vezes maior.

O que ocorre é que tudo indica é chegado o momento do ajuste dos ativos e das saídas de recursos externos do país, retomando a percepção dos fundamentos e afastando-se da especulação em torno das oscilações das pesquisas eleitorais.

O fato dos investidores terem acentuado o foco sobre o risco fiscal e em consequência terem exigido prêmio para comprar LFT é um fato que não ocorria desde 2009, e uma sinalização forte de percepção mais aguda da deterioração.

Na questão cambial, temos afirmado desde junho último que quando se intensificasse o movimento de transição da demanda no mercado futuro (hedge) para o mercado à vista (dólar spot) o preço da moeda americana sofreria pressão determinando a sua apreciação, deixando evidente a fragilização dos instrumentos financeiros “swaps cambiais” (hedge) como elemento de monitoramento do preço pela autoridade monetária.

A demanda passaria a ser efetivamente por moeda disponível para retorno de recursos ao exterior, e neste momento o quadro ficaria complexo, pois o país convive com situação adversa de fluxos de recursos externos amplamente tendente a tornar cada vez mais negativo neste 2º semestre. A queda continua da liquidez autogerada pelo próprio mercado vem sendo suprida pelos bancos através posições vendidas de US$ 21,0 Bi até o ultimo dia 5, algo como 5,5% de comprometimento indireto das reservas cambiais brasileiras de US$ 380,0 Bi.

Poderia ser argumentado que as linhas que os bancos vêm utilizando não estão sendo concedidas pelo BC, mas consideramos que 5,5% das reservas cambiais já estão comprometidas com as posições vendidas dos bancos, tendo em vista entendermos que inexistem condições da cobertura das mesmas de forma autogerada pelo próprio mercado, já que não são reversíveis já que o quadro prospectivo que indica continuidade de fluxos negativos. O problema em última análise é do país e o que está sendo praticado é divida de curto prazo dos bancos ao assumirem a tarefa que deveria estar sendo cumprida pelo BC.

Os sinais de saídas de recursos começaram a ser sinalizados em julho último, ganharam maior volume em agosto e agora se intensificam em setembro, cumprindo um “script” típico do comportamento dos recursos especulativos forjados em operações de “carry trade”, que não convivem bem com ambientes incertos.

Percebemos pelos números das posições do mercado futuro e do mercado à vista a possibilidade de formação de ambiente especulativo, com os estrangeiros tendo intensificado suas saídas, mas ao mesmo tempo contrariando a lógica, ao invés de reduzirem suas posições compradas no mercado futuro passaram a elevá-las, passando a serem especulativas quando anteriormente eram “hedge”.

São inúmeros os fatores indutores a saída dos recursos especulativos que adentraram o país ao inicio do ano na busca de rentabilidade. Primeiro porque capital especulativo é sempre de curtíssimo prazo, extremamente “arisco” a ambientes de incertezas, e que também teme eventual mudança na política monetária americana por impactar na sua estruturação.

O Brasil do inicio do ano que já tinha um quadro macroeconômico ruim, inegavelmente não melhorou, com números mais deteriorados e contrariando até as metas revistas e assumidas ao longo do ano. Perdeu referências por parte das agências de rating, o que coloca em perspectiva redução efetiva de nota de crédito soberano e o crescimento provável do PIB tende a número bastante irrisório , inflação resistente e com preços relevantes comprimidos, além da política fiscal deteriorada, etc.

Temos então, um movimento de saída de recursos se intensificando, retração de ingressos, inclusive de IED´s e captações de recursos por parte de empresas, que anteciparam suas necessidades e captaram no 1º semestre, balança comercial com margem de contribuição zero e crescente déficit em transações correntes.

As pesquisas eleitorais tem servido para especulação no mercado cambial futuro, que até recentemente fazia o preço e contaminava o preço do mercado a vista. A elas se tem dado mais relevância do que efetivamente detêm, para promover marolas de alta e de baixa e assim proporcionar ganhos por parte aos especuladores.

O “status quo” da economia brasileira com problemas em quase todos indicadores setoriais, inflação, juro elevado, forte intervenção do governo do mercado cambial e sem despertar atratividade dos investidores estrangeiros e nacionais em conta capital, por perda de confiabilidade e credibilidade, não permite que se vislumbrem mudanças radicais no curto/médio prazos, quadro ao qual se agrega também a incapacidade do governo de investir e realizar reformas indispensáveis, não permite que se vislumbre mudanças de direcionamento imediatas e o câmbio, é preciso entender isto, está no fim da linha.

E por que está no fim da linha? Primeiro precisará repercutir todo o complexo quadro negativo que tem sobre si no preço, enquanto o país precisa redefinir-se com alinhamento programático da sua recuperação macroeconômica de forma a reconquistar confiança e credibilidade perante os investidores nacionais e estrangeiros, recompondo, inclusive, a gestão de sua política fiscal.

Contudo é indispensável que neste alinhamento o câmbio só poderá ser redefinido na sua gestão no Brasil na ponta final com todas as correções necessárias realizadas com acerto e tendo a recíproca dos retornos esperados.

Não é algo que se determine por decreto ou simplesmente por anseio, necessariamente devem existir as condições adequadas para que se torne viável.

Desta forma, não há qualquer fundamento plausível, exceto a especulação, que sancione precificação de preço da moeda americana com base em pesquisas eleitorais, visto que, seja Dilma reeleita ou eleitos Marina ou Aécio, nenhum terá condições de dar no curto/médio prazo a solução possível para o câmbio, somente no longo prazo se o país retomar o crescimento e reconquistar credibilidade, confiabilidade e atratividades dos investidores estrangeiros.

O quadro absolutamente adverso que o envolve o câmbio deverá apreciar o preço da moeda americana mesmo com a intervenção do BC, que seguramente perderá eficácia já que a moeda agora busca a saída do país e não mais a proteção do preço.

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