O fluxo cambial divulgado ontem pelo Banco Central do Brasil confirmou a clara tendência à continuidade de resultados líquidos negativos.
A 1ª semana de setembro consolida mais US$ 1,9 Bi (US$ 416,0 M comercial e US$ 1,483 Bi financeiro) negativo, levando o resultado do ano a negativos US$ 2,6 Bi (US$ 2,051 Bi positivo comercial e US$ 4,650 Bi negativo financeiro), a despeito de o país ter registrado até aquela data ingressos totais de US$ 496,396 Bi teve saídas totais de US$ 498,996 Bi.
Merece destaque o fluxo financeiro que registrou ingressos de US$ 341,935 Bi e já registra saídas de US$ 346,585, resultando em fluxo negativo de US$ 4,650 Bi, havendo perspectivas de que exista expressivo montante de capitais especulativos, na sua grande maioria, ainda por deixar o país este ano, já havendo sinais de intensificação.
Em consequência disto, os bancos, que continuam gerando liquidez no mercado à vista poupando assim o BC de realizar ofertas de leilões de liquidez com uso das reservas cambiais, registram posições vendidas, lastreadas por linhas de financiamentos externas, no montante de US$ 20,726 Bi, equivalente a 5,47% das reservas cambiais brasileiras.
Este é um número relevante porque representa endividamento de curto prazo dos bancos, e na medida em que seja elevado e noticias negativas em torno do país prosperem os custos das linhas de financiamento externas poderão ser elevados podendo comprometer o ganho que arbitragem que os motiva a mantê-las em expansão.
Ressaltamos, mais uma vez, que no nosso ponto de vista a tendência de expansão do fluxo cambial negativo para o Brasil é bastante consistente, com acentuado incremento de saídas de recursos do país, o que poderá tem impacto adicional na medida em que houver sinalização mais precisa do FED americano sobre mudanças na política monetária americana.
O país tem clara tendência, também, de expansão do seu déficit em transações correntes e redução dos ingressos de investimentos para conta capital, os denominados IED´s, absolutamente prudencial num cenário que evidencia o país com baixo crescimento e sem perspectivas de reversão rápida, inflação alta, política fiscal comprometida, etc.
Já é perceptível o recuo de captações externas por empresas brasileiras, já que anteciparam suas necessidades e realizaram captações ao longo do 1º semestre.
As perspectivas para o câmbio não excluem uma inevitável passagem pelo “purgatório” enquanto o novo governo, seja a situação reeleita ou a oposição, repensa o Brasil e estabelece um programa abrangente envolvendo política econômica, fiscal, investimentos, reformas, etc que permitirão a reversão do pessimismo presente e fundamentado nos números atuais.
O câmbio não deve precificar expectativas de curto/curtíssimo prazo pois, a rigor, só terá viabilizado o seu equilíbrio à mercado a partir da reconquista de credibilidade, confiabilidade e atratividade externa que permita fluxos de recursos consistentes para reverter a relevante intervenção presente do BC com os “swaps cambiais” e com utilização dos bancos para geração de liquidez no mercado à vista.
Há um cenário prospectivo dentro deste semestre de desconforto para o câmbio e alguns riscos de intensificação mais abrupta de saída de recursos ou mesmo movimentos especulativos.
É preciso observar que, corretamente monitorado, não há redução de colocação de contratos de “swaps cambiais” por parte do BC, já que além da rolagem percentual das posições vincendas, agrega mensalmente oferta de novos contratos de “swaps” em doses diárias de 4.000 contratos. Na realidade, o BC vem aumento o estoque “em ser”.
A rigor, o movimento presumível de redução de demanda de swaps cambiais decorrente da saída de recursos externos com “hedge” acaba sendo substituído pelo aumento da demanda dos bancos para “hedge” de suas posições vendidas.
Merece maior atenção o fato de estar ocorrendo intensificação de saída de recursos na semana e as posições compradas dos estrangeiros ter aumentado, o que pode sugerir que estejam promovendo a saída dos recursos e mantendo as posições compradas no mercado futuro, agora não mais como hedge e sim como especulativas, para serem desfeitas com ganhos já que o ambiente sugere o real em depreciação.
Há alguns pontos que ainda suscitam indagações no mercado de câmbio.
Até quando o BC vai continuar elevando o estoque de contratos de “swaps cambiais” no mercado? A autoridade afirma sempre que não há limite, mas voltamos ao risco que pode transformar o “remédio em veneno” por dar evidência consistente da fragilidade da moeda nacional, que assim pode suscitar movimentos inoportunos.
Até quanto os bancos vão dar suporte à liquidez faltante no mercado de câmbio à vista com posições vendidas?
Enfim, há muitas questões sem resposta em torno do câmbio ainda neste 2º semestre, que está sujeito a “trepidações” fortes.