O mercado financeiro em todos os seus segmentos desenvolve volatilidade diretamente em razão dos avanços no enfrentamento do coronavírus e as perspectivas imediatas, que na margem sinalizam movimentos assimétricos de retomada das atividades econômicas, mas no Brasil a política e a politicagem constante é preocupante e impede que ocorram avanços focando a superação prioritária da dicotomia entre a saúde e a economia, dada ao extremo desalinhamento entre os poderes e seus gestores, que impedem que se tenha uma rota de direcionamentos.
Por enquanto, vagamos!
Falta sinergia entre os atos e atitudes dos poderes constituídos e o ambiente hostil entre todos não assumidos mas notórios, e isto desorienta a conduta da população em geral.
Muitos burburinhos e quase nenhuma atitude de ordenamento efetivo das ações visando a harmonização das linhas concretas na área da saúde e a compatibilização possível com as questões em torno da quebra da inércia da atividade econômica.
Os números de ambos os setores – saúde e economia – são aterrorizadores e crescentes para pior no Brasil, e, cada vez mais, emerge forte a dúvida sobre como o país será resgatado deste “status quo”.
O nosso mercado financeiro “vive das alegrias” dos outros países, que não são muitas também, mas deixando-se “contagiar” promove movimentos de altas e baixas em especial na B3 e no preço do dólar americano, como se os avanços fossem locais.
Fundamentos? Parcos e extremamente frágeis mesmo no exterior.
A B3 tem nos papéis de exportadores agro, alimentos, e no minério de ferro seus pontos de apoio, já que são os segmentos com perspectivas favoráveis face ao comércio exterior, nível de demanda e oportunidade de remuneração com o dólar alto. Estes são itens únicos que poderão atenuar a derrocada, que não será pequena, do nosso PIB.
A este fato se deve o fluxo cambial positivo até dia 15 neste mês da ordem de US$ 2,337 Bi (US$ 3,173 Bi positivo comercial e US$ 837 M negativo financeiro).
O dólar flertou com os R$ 6,00 e então o BC mudou da atitude profilática de suprir liquidez para ação mais incisiva no sentido de evitar que atinja este preocupante patamar de preço.
Mas, na realidade, a formação do preço sofre influência direta mais relevante do comportamento da moeda americana no mercado global, e tem um conteúdo negativo e estressante político que tem sido intermitente, além da questão fiscal que já está precificada.
E, no nosso entendimento, o BC age até tardiamente, visto que a deterioração dos investimentos estrangeiros em bens de capital não protegido por hedge sofreram pesadas perdas, e, se o quadro prospectivo não ensejar perspectiva de recuperação pode haver então intempestivo aumento de demanda de hedge no mercado futuro de dólar para proteger agora também o patrimônio e não somente haveres e deveres em moedas estrangeiras.
Então, o preço do dólar pode realmente se tornar “alto” e preocupante pelas repercussões inevitáveis nos preços relativos da economia brasileira, e mais, seria um sinalizador forte da perda de credibilidade do governo e do país.
O Brasil, outrora o mais atraente entre os emergentes, hoje, segundo percepção global de importantes organismos, está em posição bastante desfavorável, e, este fato naturalmente decorre da perda de credibilidade do país, seja devido à crise fiscal, agora desafio maior com os dispêndios face à crise do coronavírus, ou às questões políticas e a insegurança jurídica que permeia a constante interferência entre os poderes.
Inflação nas mínimas, algo inimaginável no Brasil, e na mesma linha o juro, mas as perspectivas de crescimento, em parte face á crise do coronavírus, extremamente negativas e as perspectivas sabidas em tendência do tipo “o que está ruim pode ficar pior”, mas ninguém sabe o quanto e nem consegue vislumbrar o final.
Há desalento? Sim, mas o grau pode se agravar!
Os níveis atuais de mortalidade do covid-19 são intranquilizadores, tudo indica que caminhamos para um contexto de onde muitos países já estão retornando e então nos confundimos e assumimos otimismo inconsequente face à nossa situação.
Recrudescem as expectativas de que a B3 poderia atrair investidores estrangeiros como consequência de algumas ações terem ficado “atraentes e baratas dado o preço do dólar”, mas o ambiente predominante no país provoca a retração do ímpeto dos investidores estrangeiros.
O comportamento das moedas emergentes é de valorização frente ao dólar o que sinaliza diminuição do risco, mas é importante observar que o dólar “cai menos” frente ao real, confirmando as precauções em torno do Brasil. Praticamente a metade da performance do peso mexicano e do peso chileno.
Em relatório do dia 13 deste mês, o Credit Suisse, que tem um nível de acerto considerável, disse que tem perspectiva do dólar chegando a 6,20 reais.
O banco classifica o real como uma moeda “tóxica” –junto com o peso mexicano– ao citar que o peso colombiano, a despeito do recente colapso dos preços do petróleo, tem operado mais em linha com moedas “saudáveis” de exportadores de petróleo, como o rublo russo.
Outras entidades como o IIF identificam uma rejeição “inexplicável” do exterior ao Brasil, com comedimentos cautelares em torno das considerações das causas.
Ontem, a exemplo dos dias anteriores, B3 e dólar repercutiram fatos externos com contenção relativa pelo ambiente interno, e embora tenha havido “sinais” emitidos por São Paulo no sentido de abertura de algumas atividades econômicas a partir do dia 1º o fato é visto, em princípio, o otimismo que seria presumível é um tanto contido pelo fato da convicção de que a capacidade de consumo da população estar fortemente abalada, o que sugere que a retomada da atividade das indústrias será lenta.
O fato é que há muitas incertezas que neutralizam tendências, projeções e expectativas mais concretas até que ocorra um melhor alinhamento de propósitos na condução das medidas na saúde focando a crise do coronavírus construindo o entendimento sinérgico em torno da retomada da atividade econômica, e isto passa por melhora significativa da relação entre os poderes em todas suas escalas.
Por enquanto, entendemos que iremos refletindo “os ventos externos” com alguma colaboração estressante do ambiente político nacional.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO