As reações no mercado financeiro brasileiro tem sido desconformes com a realidade que nos cerca e se colocam na perspectiva imediata.
E isto sugere cuidados!
Temos tomado “carona” em sinais de economias externas daqui e acolá com melhores sinais no enfrentamento do coronavírus, mas que indicam avanços ainda muito inseguros dados a inexistência de tratamento protocolar ou vacina para a doença que resulta na pandemia atual, porém distantes para nos influenciar na retomada da atividade econômica letárgica brasileira e todo o resto.
Ainda estamos na num ambiente muito nebuloso tanto na economia quanto na saúde, não encontramos políticas convergentes para harmonizar a dicotomia entre saúde e economia.
Em ambos os quesitos as projeções, achismos, ainda perduram muito negativos no Brasil, então não há fundamentos críveis para sustentar os movimentos que vêm ocorrendo, tanto no dólar quanto na B3.
É bem verdade que tem diminuído a “sangria” semanal de saída de recursos financeiros estrangeiros do Brasil, admitidos como somente do mercado financeiro, mas podemos estar após longo período registrando magnânimos montantes perto da exaustão do que se poderia denominar como “fuga”, aversão ao risco apesar do nosso CDS, também em grande parte por perda de atratividade como oportunidade de rentabilidade face à queda do juro e a deterioração das perspectivas econômicas, tendo na margem os problemas de insegurança jurídica e política.
Por outro lado, de consistente na B3 ficaram os papéis das empresas exportadoras do agro e minério, e talvez, a Petrobrás com a recuperação do preço do petróleo e seus reflexos, pouca coisa, além disto, pois a retomada da atividade econômica, quando acontecer, deverá ser lenta porque o poder de consumo da população está fortemente combalido e, pelo que se antevê, haverá uma mudança expressiva para pior na geração de emprego, como legado do aprendizado do empresariado ao longo da crise do coronavírus, que incentivou estruturas menores e o “home office”.
Ontem, houve uma reunião entre o Presidente e seu staff e os governadores em torno de interesses comuns, somente recursos financeiros.
O governo central precisava apoio para vetar o aumento ao funcionalismo público e com isto conter um dispêndio relevante neste momento adverso e os Estados esperavam ajuda financeira. Então, “entre abraços e sorrisos tudo foi harmoniosamente ajustado” e todos ficaram bem na foto, mas nada, além disto.
Os embates políticos entre Bolsonaro e governadores e suas áreas da saúde permanecem sem nenhuma sinergia, ancorada em delineamentos empíricos e tentativos, o Brasil não tem “um pensar alinhado” em torno desta questão no seu todo e as tensões perduram conflituosas mantendo a dicotomia entre saúde e economia.
Assim, há uma obscuridade sobre como estes desalinhamentos poderão ter a convergência focando a superação desta relação conflituosa e, por vezes, antagônica entre os poderes, alguns fortalecidos como os Estados por decisão do STF.
Sem atratividade ao investimento externo, o que impacta fortemente no fluxo cambial, mas com o câmbio alto, anseio dos gestores da área de economia e consequência da redução drástica do juro, que ancora a alta do câmbio e do juro de longo prazo, e não eliminando as causas que geram inseguranças e incertezas, resta ao país não rigorosamente a intensificação da desindustrialização, mas o risco efetivo de aumento de demanda de hedge para o patrimônio constituído no país por empresas estrangeiras, e não somente para os haveres e deveres comerciais e financeiros de curto/médio prazos.
Este é um risco que poderia se tornar efetivo se o dólar não cessar a escalada de alta, que num momento parece ter sido deixado seguir pelo BC que se restringia a ação profilática de suprir a liquidez, à vista, a prazo do mercado de câmbio e com linhas e leilões repor a suficiência das linhas externas dos bancos.
Então, o Presidente do BC, como se não fosse uma obviedade e dando a ênfase de coisa nova, declara que se necessário o BC poderá intervir fortemente no mercado de câmbio utilizando as reservas cambiais.
Onde está a novidade? Sempre pode, mas o BC fez um arroubo e o mercado parece ter ficado sensibilizado pelo anunciado, e então a taxa local da moeda estrangeira cedeu mais do que seria o normal com a fragilização da moeda americana no mercado internacional.
Não vemos como a recomposição do preço da moeda americana ser sustentável assumindo a curva de apreciação firme frente a moeda americana, os problemas do Brasil o tiraram do foco dos investidores estrangeiros e o colocaram sem atratividade, por isso não há expectativas de retomada de fluxos externos.
O câmbio alto deve perdurar na economia brasileira, e a retomada do viés de alta está condicionada as perspectivas políticas e econômicas que forem sendo criadas não serem desfavoráveis.
Caso contrário, e isto não está no radar na atualidade, somente reconstruindo a atratividade com a elevação do juro, pois acreditamos que nem para investimentos interessantes e de oportunidade existentes no país haverá o interesse imediato dos estrangeiros, pois dependeria de marcos regulatórios bem elaborados e que estariam ancorados na credibilidade do país.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO