Poderemos ter o dólar cotado, mesmo que temporariamente, abaixo de R$ 2,25!

Se a decisão do “Fomc” americano for postergar o término do programa de incentivo monetário, ou mesmo se for pouco impactante, poderemos ter o dólar cotado, mesmo que temporariamente, abaixo de R$ 2,25.

Há quem veja no programa de oferta de liquidez mínima, programada por parte do BC aos mercados de câmbio à vista e futuro, algum benefício para que os bancos não consolidassem prejuízos relevantes, mas é preciso reconhecer que se os bancos não concordassem em adotar posicionamentos “vendidos” no mercado à vista, ancorados em linhas de financiamentos leiloadas pelo BC, num contexto adverso para nossas contas externas, a autoridade monetária seria levada a fazer leilões de dólares à vista, estimulando forte movimento especulativo que já estava armado a partir dos “comprados” no mercado futuro.

Volatilidade e o preço da moeda americana exacerbado seriam bastante desfavoráveis para o país neste momento, pois impactaria fortemente na já expressiva inflação, exigindo uma Selic mais alta, o que conspiraria para o crescimento do PIB, que já está com projeções desapontadoras.

O importante é que com a adoção da prática operacional com posições vendidas, os bancos passaram a ser os geradores de liquidez no mercado à vista, ancoradas no financiamento do próprio BC o que mitiga incertezas, já que se assim operassem com base em linhas de bancos estrangeiros teriam insegurança quanto a continuidade das mesmas, num cenário prospectivo sugestivo de  redução de liquidez no mercado internacional provocado a partir de decisão  do FED alterando sua política monetária, reduzindo seu programa de incentivo monetário.

Embora os bancos tenham o atrativo de captarem reais a custo baixo, devido ao posicionamento vendido no mercado à vista, não se pode desconsiderar que neste momento não se sabe bem quando o país terá restabelecido o fluxo cambial suficiente para a cobertura a mercado das posições vendidas. Em última análise, o garantidor de que serão cobertas caso perdure a insuficiência de fluxos por longo tempo, seria o BC, mas como não há prazo, já que as linhas de financiamentos poderão ser roladas até a normalização, esta hipótese é remota como perspectiva neste momento.

Esta é uma das razões que tem levado a autoridade monetária a realizar ofertas de liquidez com prazos mais longos, certamente na expectativa de que os fluxos de recursos externos entrem em recuperação, tornando-se positivos.

A questão em torno da eventual decisão do FED em dar início a redução do seu programa de incentivo monetário parece ter sido mais bem acomodada pelos investidores, que trabalham com a possibilidade de que o início seja postergado ou se iniciado, a partir de definição na reunião do Fomc que se encerra hoje, seja bastante moderada, assimilável pelos mercados sem grandes repercussões, com grande parte dos ativos já tendo precificado este evento.

Embora o fluxo cambial persista negativo até a última posição divulgada pelo BC na quarta-feira passada, estando em US$ 2,141 Bi, com os bancos mantendo posições vendidas no mercado à vista em torno de US$ 6,3 Bi, o que evidencia insuficiência de fluxos, é perceptível que tem havido melhoras neste mês, com a Bovespa registrando ingressos líquidos em torno de US$ 1,5 Bi e aumento de recursos direcionados para renda fixa.

Contudo, estas melhoras ainda têm sido insuficientes para fazer face às saídas de recursos do país, em grande parte nesta fase como pagamentos de compromissos comerciais.

Nossa expectativa é de que consolidada uma decisão por parte do Fomc, que não seja diferente da expectativa, postergando o início das alterações no programa de incentivo monetário ou definindo uma estratégia de desmonte bastante moderada, o Brasil passe a receber maior volume de recursos, principalmente especulativos, direcionados para a renda fixa e renda variável, o que poderá determinar que o preço da moeda americana seja depreciado e fique, mesmo que temporariamente, entre R$ 2,20 a R$ 2,25, para retomar ao final do ano o nível de R$ 2,30.

Se isto for consolidado, será extremamente positivo para mitigar os impactos inflacionários advindos da alta do preço do dólar.

O grande desafio para o país neste momento é conquistar montante de ingressos suficientes para financiar o expressivo déficit em transações correntes, o que até o momento se configura inviável, por isso, salientamos considerar extremamente importante que os processos de licitações/concessões para a recuperação da infraestrutura do país foquem investidores estrangeiros com potencial de aporte de recursos externos, não nos parecendo conveniente a participação grandiosa do BNDES que acaba sendo onerosa à política fiscal do governo e priva o Brasil de buscar captar recursos para investimentos onde há atratividade neste momento.

E mais, que o prazo dos empréstimos com tributação seja reduzido para 90 dias para aumentar a probabilidade de aumento de ingressos, e também, que se tribute com o IOF de 6,38% (6,0% + 0,38%) os cartões de débito pré-pagos para inibir o consumo de bens no exterior, que acabam por dar uma expressividade incorreta a gastos com turismo.

Hoje o BC realiza leilões de “swaps cambiais”. Serão 10.000 contratos de novos “swaps cambiais” e mais 55.300 contratos para rolagem do saldo vincendo no início do mês de outubro.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress