Otimismo interno e externo perdura, mas mercado financeiro adota postura cautelar!

A cada dia mais parece que as decisões do novo Presidente em torno de suas escolhas para a composição do Ministério denotam assertiva nas indicações, e isto, faz com que persista e até seja incrementado o otimismo dos investidores nacionais e estrangeiros, porém agora em perspectiva de médio/longo prazo, já que os fatores imponderáveis que se opõe a um governo em transição e formação o encontram inerte a reações pela incapacidade de agir com contundência.

A postergação da reforma previdenciária que é tida como ação mais imediata necessária pelo novo governo, cuja possibilidade de ser aprovada pelo menos em parte pelo governo atual chegou a ser aventada mas não prosperou, como já dissemos ontem cria um hiato que não é reversivo do ambiente de otimismo, mas cria um intervalo em que o contexto retoma a observação e deixa a ação um tanto quanto de lado.

Todos sabem, com ênfase o mercado financeiro, que a crise fiscal é o ponto crucial dentre os inúmeros problemas e desafios que se configuram obstáculos severos à governabilidade eficiente por parte do novo futuro Presidente, e que medidas focadas na ordenação de sua superação ou alinhamento crível que conduzirá a isto urgem em serem implementadas, devem ser adotadas em caráter emergencial.

Contudo, todos sabem também que a postergação da discussão da reforma da previdência, passo inicial dentre tantos focados na solução para a crise fiscal, passando-a para o ano de 2019, quando o novo governo já estará à frente das proposituras, haverá muito discussão em torno do assunto e isto poderá comprometer o 1º semestre próximo.

Então, agora há um esfriamento cautelar, sem descrer na capacidade do novo governo alcançar seu objetivo, mas consequente do interregno inevitável de solução para um tema de suma importância.

Desta forma, é absolutamente plausível que haja uma postura de sensatez e retardamento nas decisões e impactos na formação de preços de ativos, até que se vislumbrem encaminhamentos e viabilidades consistentes para transformar os propósitos em fatos concretos.

Apontamos esta percepção semanas atrás pontificando que o preço do dólar e a tendência da Bolsa poderiam “andar de lado” ao longo do mês de novembro, e mais recentemente, face às sinalizações de que a reforma previdenciária poderia vir, como veio, a ser postergada para discussão somente no próximo ano, que poderia assim se comportar ao longo do 1º semestre, enquanto transcorrerem as discussões com o Congresso para aprovação desta reforma.

Este ponto de vista está ganhando firmeza com o que se observa na prática.

O dólar para o qual preconizamos ter o preço flutuando entre R$ 3,70/R$ 3,80 sinaliza acomodação neste intervalo, porém se houver muitos ruídos em torno das discussões sobre a reforma poderá ensejar a retomada da astúcia especulativa e ir um pouco além, porém sem sustentabilidade, mas movido pelo posicionamento ainda bastante relevante de investidores “comprados” no mercado de câmbio futuro com objetivo especulativo, e que face à este novo cenário, podem adiar a reversão de suas posições e assim continuar rolando os contratos de “swaps cambiais” na medida em que for sendo ofertado pelo BC.

Ontem, o índice de dólar no mercado global entrou em reversão da expressiva alta e no Brasil teve movimento contrário à lógica valorizando-se ante o real, deixando evidente que as causas das precauções são de natureza interna.

Da mesma forma a Bovespa oscilou de forma significativa, mas fechou em baixa, mesmo com o ambiente externo mais favorável e com sinais importantes de eventual início de diálogo entre Estados Unidos e China. A Bovespa parece tender a permanecer entre 80 a 90 mil pontos, com eventuais destaques pontuais incapazes de criar tendências firmes e a a afastar deste intervalo.

Enquanto isto será relevante até para sedimentar o clima de otimismo que o futuro Presidente Bolsonaro e sua equipe definam a Presidência do BC, de preferência mantendo Ilan à frente, já que o mesmo ao que se percebe tem plano definido para a independência do BC e já há sinais de que se o Presidente do Congresso colocar a matéria em votação no plenário a mesma será aprovada.

Acreditamos que haverá tolerância por parte dos investidores nacionais e estrangeiros quanto ao retardamento das medidas imprescindíveis mais imediatas do novo Governo assim que tomar posse, o que não afetará o grau de otimismo presente, mas certamente a postura dos mesmos será de sensatez e observação, o que contingenciará a queda do dólar ante o real e o esperado movimento de alta na Bovespa.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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