Crise fiscal no foco, dólar e Bovespa têm bandas. Exterior sinaliza “random walk”

No Brasil temos um problema pontual que é a gravidade da crise fiscal e a incerteza sobre perspectivas críveis de adequação plausível ou perspectivas de superação ancorado em plano considerado viável, que, “a priori”, é condicionado de forma intensiva à Reforma da Previdência, o que deve demandar tempo, negociações e impasses, e, desta forma não enseja definição tão imediata quanto necessária e fundamental.

Como temos colocado desde muito este fato mantém prêmios de risco e afeta o comportamento da formação do preço do dólar no nosso mercado e também do comportamento da Bovespa, já que torna o foco interno e suas repercussões mais intensas, no momento, do que os fatores externos.

No nosso entender, o que vem se confirmando, o preço do dólar, enquanto predominar a indefinição em torno da crise fiscal flutuará entre R$ 3,70 e R$ 3,80, com o piso baixo já agregando o fator de contenção do prêmio de risco e o piso máximo como extremo do stress no embate entre comprados e vendidos no mercado futuro do dólar, que ainda convive e se alimenta de expectativas em torno de possíveis entraves que se coloquem como opositores à Reforma Previdenciária.

No mais, o efeito do preço do dólar passa a deixar mais evidente a descontaminação que provoca nas perspectivas do IPCA para este ano, agora seguramente em torno de 4% ou menos, o que permitirá a manutenção tranquila da taxa SELIC de 6,5% até o final do ano, e o crescimento do PIB, face aos “soluços positivos” havidos, embora já com sinais recentes do IBC-Br de retração, deve ficar um pouco acima de 1%.

Contudo, a crise fiscal é o grande fator limitador das perspectivas de retomada mais eficaz da atividade econômica, da retomada dos investimentos produtivos, da retomada do emprego, renda e consumo.

A Bovespa, para a qual se chegou a propagar índices extremamente elevados está dependente de sinais efetivos, além das intenções, para que se realinhe com tendência sustentável, embora possa a vir a sofrer reflexos das posturas dos investidores estrangeiros que podem ser afetados em suas decisões pelo ambiente externo.

Acreditamos que não se devem nutrir expectativas diferentes até o final do ano, salvo se o cenário externo acabar provocando o retorno mais incisivo de capitais estrangeiros investidos em renda fixa e até mesmo na Bovespa.

O novo governo parece que tem escolhido seus integrantes de forma alinhada com as melhores expectativas, em especial do mercado financeiro, e este é um fato positivo e que dá sustentação ao clima de otimismo, mas somente medidas de gestão governamental é que poderão agregar ação efetiva para lastrear a continuidade do otimismo.

Surge agora mais uma preocupação consistente para os mercados emergentes, naturalmente podendo repercutir no Brasil, o clima do mercado externo, em especial dadas as incertezas em torno da atividade econômica americana que está “bombando”, mas tem muitas reticências nas perspectivas.

Na margem as questões comerciais continuam tendo peso, mas entre discussões mais ríspidas e mais amenas, permite que se tenham perspectivas de que os interesses de Estados Unidos e China encontrarão um ponto em comum.

Contudo, o que se observa é a crescente incerteza sobre as tendências a partir do comportamento macroeconômico dos Estados Unidos, onde há um conflito de pontos de vistas entre o Presidente Trump e os membros do FED no que diz respeito a elevação do juro e a sua intensidade. Isto afeta o comportamento das bolsas americanas e o comportamento do preço do dólar ante a cesta de moedas referencial, face ao deslocamento de aplicações globais em T-Bonds.

Então, o comportamento do mercado global passa a evidenciar um comportamento semelhante ao “random walk”, que dentre suas inúmeras definições, no mercado financeiro indica que ocorre quando os preços de hoje refletem os preços de ontem agregando as expectativas de hoje”, algo como não tendência efetiva, mas sim visão de curtíssimo prazo.

Assim sendo, podem ocorrer movimentos de altas e/ou de baixas, muito imediatas nas ausências de tendências, fato consequente do ambiente que pode se configurar mutante.

O índice dólar no exterior, neste momento 10hs, está em queda de 0,15% a 96,575 frente a cesta de moedas, e a rentabilidade do T-Bond 10 anos aponta 3,074% e para 30 anos 3,331%. As bolsas S&P, Dow e Nasdaq sinalizam índice futuro em alta, após fortes baixas de ontem provocadas por vendas generalizadas.

No Brasil, o dólar abre pressionado quase no pico de alta que consideramos e a Bovespa tem o seu índice futuro em baixa, afetada pelo comportamento de ontem no exterior de papéis brasileiros que hoje passam por ajuste.

Hoje teremos o FLUXO CAMBIAL e será a oportunidade para verificarmos se ocorre ou não saída de capitais do país.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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