É bem verdade que com a sinalização de que as sanções dos Estados Unidos e União Europeia à Rússia serão graduais e sem utilização da força, mas sim estratégicas que poderão provocar queda de investimentos relevantes e interrupções de participações, portanto com efeitos no médio/longo prazos, trouxe um forte alívio aos mercados financeiros mundiais.
Por outro lado, amanhã o FOMC encerra a sua primeira reunião sobre política comandada pela nova Presidente, Janet Yellen, e então serão conhecidos os indicativos do órgão gestor da política monetária dos Estados Unidos mais atuais, já que a fase mais grave dos efeitos da severa situação climática que atingiu o país e sua atividade econômica parece ultrapassada.
Os mais recentes divulgados sinalizam que a atividade econômica americana está retomando seu dinamismo.
Portanto, não há lógica que países emergentes e países desenvolvidos, mais precisamente os Estados Unidos, tenham reações otimistas exacerbadas na mesma linha. Afinal, em grande parte neste momento, o que é bom para os Estados Unidos não é rigorosamente bom para os países emergentes.
Se o FOMC mencionar com alguma intensidade manifestações de membros sinalizando postura de elevação do juro, todo o otimismo excessivo que se presencia mudará rapidamente e de forma mais intensa nos mercados emergentes, já que aumenta a propensão de saída de recursos externos.
Por outro lado, à margem, mas não menos importantes, ocorrem sinais bastante preocupantes em torno da China, 2ª maior economia do mundo, emergente maior e que sinaliza perda de atividade econômica, e que agora emite sinais denotando que tem uma economia muito desequilibrada, com investimentos altos, em torno de 50% do PIB, enquanto a demanda interna não atinge 30%, e com o grande desafio de precisar inverter este quadro sem o que não conseguirá continuar crescendo fortemente. Como a divida doméstica do país é grande, há muita incerteza sobre o que possa acontecer se ocorrer um retrocesso.
E a questão China poderá afetar a economia mundial como um todo, mas especialmente os emergentes fornecedores de matérias prima, como o Brasil.
Então, o quadro presente a nível global não enseja tanto entusiasmo, mas sim postura mais condizente com o contexto efetivo atual para que não venham a ocorrer movimentos reversivos intensos.
O economista prêmio Nobel, Paul Krugman, durante evento em São Paulo, fez a parte simpática ao afirmar referências que grande parte dos brasileiros não consegue ver neste momento, com citações “o Brasil tem hoje mais estabilidade (em relação a que tempo?), uma inflação sob controle (?) e uma política fiscal mais responsável (? Promessas), mas depois da parte de agrado, salientou com ênfase que o Brasil deve olhar melhor a situação da China, da qual somos dependentes, apesar de todo o progresso, como exportadores de matérias primas (commodities) que correspondem a 2/3 de seu PIB. E ainda fez menção ao fato das empresas brasileiras terem tomado muitos empréstimos em títulos estrangeiros, algo ao redor de US$ 300,0 Bi, patamar que não chega a ser preocupante , mas chama atenção, segundo ele.
Por outro lado, o Professor Delfim Netto destacou algo óbvio, mas nem sempre lembrado. O cenário energético ruim reduz a disposição de investimentos. Não se resolve este problema de energia debitando prejuízos do sistema energético no orçamento, medida que só vai produzir inflação no futuro, afirmou Delfim.
E Delfim salientou que inibe os investimentos dos brasileiros, mas sem dúvida vai mais além, inibe os investimentos dos estrangeiros aqui estabelecidos e novos investidores, o que repercute na queda dos IED´s de forma inevitável.
O Brasil abriu em fevereiro, liquidamente, mais 260.823 postos de trabalho, acumula no 1º bimestre total de 392.190 vagas. O crescimento conjunto do consumo e do emprego não tem encontrado volume de investimentos para melhora da oferta, o que leva o país a continuar importando fortemente e com isto contribuir para o baixo desempenho da balança comercial.
Resultado deste descompasso é maior pressão inflacionária advinda da demanda que exige maior taxa SELIC para combatê-la, como discurso prioritário, mas que se presta também a conter a demanda via crédito pelo encarecimento.
Por outro lado, face à baixa atratividade de ingressos sob a rubrica IED´s decorrente da perspectiva de baixo crescimento, inflação, política fiscal frágil e agora, também, de problemas energéticos que inibem os investimentos, já que não foram anunciadas medidas para superar a deficiência, mas sim como acomodar as repercussões nos custos, há a necessidade de depreciar o real para encarecer as importações, estimulando a indústria nacional a aumentar a oferta e participação no mercado interno e na mesma linha dando-lhe maior competitividade no mercado externo, focando a economia de dólares e focando a melhora da balança comercial.
E, na margem como objetivo final e não menos importante, com a SELIC maior e o dólar apreciado o governo buscará atrair para o país capitais voláteis/especulativos para financiar o déficit em transações correntes bastante expressivo do Brasil.
O contexto conjuntural Brasil impede que não se considere uma desvalorização mais intensa do real frente ao dólar em perspectiva, assim como elevação superior das projeções atuais para a SELIC.
Estamos ainda na fase segunda da transição da crise iniciada em 2008 e ainda não ocorreram todas as repercussões de impacto no Brasil e, certamente, haverá uma terceira quando os Estados Unidos anunciarem a elevação do juro.