Otimismo demasiado descolado das expectativas ainda revelam incertezas

O Banco Central do Brasil ao final do mês de abril, intencionalmente ou por ato falho, proporcionou a ocorrência de volatilidade e apreciação sem fundamentos do preço da moeda americana no nosso mercado, e com isto, fomentou ideia errática de que tal movimento decorria de melhora efetiva do contexto macroeconômico brasileiro.

O fluxo cambial líquido não foi tão expressivo naquele período a ponto de conduzir o preço da moeda americana à retração até as proximidades de R$ 2,89, mas havia instalado no mercado movimento indicativo de que ocorria especulação dada a volatilidade ocorrida. No nosso entendimento havia um excesso de oferta de rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos e isto proporcionou e fomentou a movimentação, que poderia ter sido evitada com uma simples atitude do BC reduzindo o montante da oferta para rolagem.

No mês de maio sinalizando que só rolará 80% da posição de contratos de swaps vincendos o preço da moeda americana retornou imediatamente ao ponto de equilíbrio considerado o momento.

Nenhuma surpresa no fato, embora a presunção de que rolará 80% decorra de um entendimento da prática sistêmica adotada pela autoridade, mas nada impede que no monitoramento, com maior acuidade do que no mês passado, possa rolar menos ou mais em conformidade com a demanda presente, já que a autoridade tem foco em suavizar a volatilidade e assim o fazendo equilibra a oferta de hedge e promove a manutenção da taxa da moeda americana no ponto de equilíbrio.

A apreciação do real ontem decorreu da melhora de oferta que esteve contida quando o dólar foi depreciado e nem tanto do comportamento do preço da moeda americana no exterior, como costumeiramente justificada.

É preciso entender que há neste momento uma abrangente observação por parte dos estrangeiros sobre a viabilização e probabilidades de sucesso das medidas que estão e que ainda precisam ser implementadas pelo governo.

O “status quo” brasileiro eivado de incertezas ainda é um ponto de constrangimento aos investidores estrangeiros, mesmo com o país proporcionando um juro real acima de 7% aa. Ingressos substantivos da ordem de R$ 7,6 Bi para a Bolsa foram motivados pelos preços baixos, em especial de Petro e Vale, e nada garante que permanecerão no país dando sustentação a movimento de alta da Bovespa. Da mesma forma que entraram rápido poderão sair rápido com os ganhos.

A despeito dos ruídos em torno da Bovespa, os ganhos em reais estavam em torno de 16,0% no ano, mas em dólares tão somente 0,68% e é este que é focado pelo investidor estrangeiro.

Margens estreitas com incertezas no horizonte que podem afetar o risco cambial afugentam os investidores estrangeiros que utilizam para a formação de recursos operações de “carry trade”. E veja, embora com reconhecido exagero, há bancos estrangeiros colocando projeções do dólar a R$ 3,65 e isto resulta em agravamento de risco para os investidores em ações e mesmo em renda fixa, pois a despeito da renda acima de 7% tem que arcar com custos de hedge, etc….que podem tornar desinteressante o investimento.

O próprio Ministro Levy previdentemente tem destacado as dificuldades em torno do alcance do superávit primário e sobre os riscos de perda do grau de investimento que ainda não estão afastados, parecendo ser mais prudente do que os players em alguns segmentos do mercado financeiro.

O governo precisa arrecadar mais e gastar menos e este é um desafio enorme frente a uma economia que já não tem mais de onde “sangrar” recursos para atender carga tributária e aumentos de grande impacto na atividade e que está mais próxima de uma recessão do que retomada da atividade, enquanto o governo tem limitações ao auto aplicar cortes que poderão atingir os benefícios sociais, o que seria drástico para a sua popularidade já desgastada.

E, além disto, ainda há dificuldades no campo político e que podem dificultar a aprovação das medidas de ajuste na exata forma das proposituras.

O grande problema do Brasil continua sendo o Brasil, razão pela qual as análises devem considerar que o “peso Brasil” é muito mais intenso do que os efeitos externos, inclusive o temido aumento de juro nos Estados Unidos, que certamente o próprio não deseja para este ano pelos efeitos negativos que causariam à sua atividade econômica, e agora muito menos quando voltou a apresentar crescente déficit comercial, que tem como requisito imediato a desvalorização do dólar e não a sua valorização.

A intensidade das incertezas ainda não permite movimentos eufóricos, mas sim requer sensatez e cautela, que é o que parece estar sendo esquecido em certos segmentos do mercado financeiro.

Afinal, temos inflação elevada que ainda exigirá maior taxa de juro SELIC; projeção de expressivo déficit em contas correntes; PIB e atividade industrial negativo; etc….. não havendo espaço para que movimentos extremamente pontuais tenham sustentação além do curtíssimo prazo.

A deterioração da economia ainda não foi exaurida, o que há são ações e intenções focadas em recuperá-la, mas ainda há um longo percurso para que ocorram os sinais de melhora. É só observar que os mais recentes dados fiscais foram decepcionantes e ainda não há nenhum sinal concreto que possa assegurar que se reverta este comportamento de imediato.

Portanto, é preciso prestar atenção quando o Ministro Levy destaca que é fundamental que o ajuste fiscal seja viabilizado e que o risco de perda do grau de investimento ainda está presente.

É uma colocação verdadeira e uma advertência.

Não há neste momento condições para uma taxa abaixo de R$ 3,05 a R$ 3,10, se ocorrer é porque alguma coisa está errada, da mesma forma que um “boom” na Bovespa ainda é prematuro.

 

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