O mês de abril registrou interessante e importante fluxo cambial positivo, mas ainda não podemos afirmar que haja uma tendência de melhora neste quesito, preferindo considerar que tenha sido algo extremamente pontual.
No acumulado no ano o fluxo cambial liquido atingiu US$ 17,8 Bi dos quais US$ 13,1 Bi no mês de abril composto pelo segmento comercial com US$ 3,1 Bi e o financeiro com US$ 9,9 Bi. Esta melhora reduziu a exposição dos bancos com posições vendidas para US$ 10,5 Bi, decorrentes na geração de liquidez ao mercado de câmbio à vista ao desempenhar o papel que seria de competência do Banco Central do Brasil.
Importante observar-se em conjunto a balança comercial – câmbio contratado e físico, que revela diferenças nos últimos 12 meses e apontam que houve contratações de câmbio de exportações no montante de US$ 8,8 Bi ainda não embarcadas e que há um saldo de importações já ingressadas com câmbio a ser contratado da ordem de US$ 14,587 Bi, o que é um valor expressivo e que em algum momento se tornará demanda efetiva no mercado de câmbio.
Unicamente no mês de abril o superávit líquido do fluxo cambial foi de US$ 7,6 Bi, sendo US$ 5,1 Bi de natureza financeira e US$ 2,5 Bi de natureza comercial.
Inegável que grande parte do fluxo financeiro se refere a capitais especulativos ávidos por obter rentabilidade na Bovespa onde há papéis com preços baixos e na renda fixa onde o juro real tem se situado acima de 7%.
Há muita euforia em torno do desempenho da Bovespa, que no mês passado teve um ingresso de R$ 7,6 Bi de recursos externos, e mesmo da renda fixa, mas há aspectos importantes a serem considerados.
A despeito das altas de Petro e Vale e da Bovespa ter atingido 58.000 pontos, ontem recuando para quase 57.000 pontos, é bem possível que uma considerável parcela dos investidores estrangeiros especulativos não tenha realizado ganhos. Em termos de reais a Bovespa subiu este ano pouco menos de 16%, porém em dólar deve estar no zero a zero ou até com discreto prejuízo.
Por isso, devemos considerar que estes fluxos, mesmo os para renda fixa, são constituídos por “capitais extremamente ariscos” e que sabendo de que as expectativas em torno da recuperação da economia brasileira ainda revelam relevantes incertezas, tendem a movimentos rápidos focando o ganho imediato, sendo possível que com a mesma rapidez que ingressaram nos nossos mercados também saiam.
Então, a melhora do fluxo de abril não deve promover expectativas maiores, o Brasil ainda não reconquistou e nem reconquistará no curto prazo atratividade efetiva para capitais estrangeiros virem e ficar, por enquanto continua sendo o “oásis das oportunidades de ganhos fáceis”, mas atualmente tudo enseja que os capitais estrangeiros especulativos ingressados não “esquentem muito o assento” para não serem submetidos a perdas, já que o ajuste afeta inúmeros vetores.
E por quê? Porque há muitos pontos de incertezas no horizonte de curto prazo, com as intenções do planejamento da nova equipe econômica liderada pelo Ministro Levy encontrando dificuldades na viabilização prática e os resultados fiscais até o momento foram bastante desanimadores, assim como está sendo desanimadora a atividade econômica, muito mais próxima de entrar numa brusca recessão com todos os seus efeitos maléficos, do que retomar a dinâmica da recuperação, o que ganha evidência pela retração da atividade industrial de 5,9% no trimestre findo em março.
A economia sinaliza que não tem condições de suportar os ajustes de preços públicos que estavam desequilibrados e nem de responder com arrecadação de tributos que o governo precisa para atingir o superávit primário, podendo entrar em recessão e agravar negativamente a possibilidade de alcance do superávit primário, colocando em risco a preservação do grau de investimento pelo Brasil.
Alguns setores do nosso mercado atuam sem uma visão aguda deste quadro prospectivo inseguro, mas o Ministro Levy tem reiteradas vezes enfatizado a necessidade de viabilizar os ajustes e salientado que o risco de perda do grau de investimento esta presente.
Então não é coerente que se construa um exacerbado otimismo baseado em fluxos de capitais puramente especulativos, pois o quadro macroeconômico brasileiro requer atenção e precaução e o país ainda não recuperou sua atratividade perante os efetivos investidores estrangeiros.
No exterior também não se vislumbra desempenhos otimistas por parte dos nossos principais parceiros e os nossos produtos básicos de exportação sofrem queda de preço.
Portanto, é necessária absoluta sensatez neste momento, predominando mais a observação do que a reação seja otimista ou negativa.
O dólar neste contexto deve reproduzir fidelidade com o “status quo” do país, com o BC mitigando a volatilidade, e o preço deve se situar entre R$ 3,05 a R$ 3,10, que consideramos de equilíbrio.