O setor externo tende a ser efetivo desafio à política monetária

Os números do setor externo divulgados pelo BC na sexta feira última indicam que até o 1º semestre deste ano houve o acumulo nos últimos 12 meses de US$ 81,2 Bi de déficit em transações correntes, 3,58% do PIB, e em contrapartida no mesmo período os IED´s atingiram US$ 63,3 Bi, 2,79% do PIB, perfil de ambos os dados bastante semelhantes com os números destas rubricas no fechamento de 2013.

Isto porque ao final de junho os bancos haviam reduzido suas posições vendidas, que correspondem a montante de fluxo cambial com insuficiência de ingresso, de US$ 18,124 Bi oriundos de 2013 para US$ 13,746 Bi com melhora de ingressos, cuja repercussão não foi notada.

Entretanto, o próprio BC já indicou que até o dia 23 último que o fluxo cambial de julho esta negativo em US$ 4,200 Bi o que eleva o total de posição vendida dos bancos para US$ 17,946 Bi, e isto naturalmente deve ter impactos novos nos números do setor externo.

O fato é que esta similaridade entre os últimos 12 meses de 2013 e com o 12 meses até o 1º semestre de 2014 tende a desaparecer ao longo do 2º semestre quando deve ocorrer um recuo expressivo de ingressos de recursos no país, seja para a conta capital ou mesmo para renda fixa e/ou ações, com intensificação da saída de recursos especulativos adentrados, em especial, no 1º trimestre do ano, e que se confirmando pode ampliar o déficit em contas correntes.

Em junho as despesas líquidas com viagens internacionais foram atenuadas e assim retroagiu para US$ 1,2 Bi, refletindo o aumento dos gastos de estrangeiros no país, caso contrário o déficit em transações correntes teria sido mais expressivo.

É sempre importante destacarmos que ingressaram no país este ano até o dia 18 último US$ 395,665 Bi, dos quais liquidamente sobraram US$ 108,0 M, o que é praticamente nada e neste montante há substantivo montante de capitais especulativos que podem deixar o país ainda este ano, antecipações de captações de recursos externos por empresas estabelecidas no Brasil por ser este um ano eleitoral que devem perder força no 2º semestre, e mesmo os IED´s direcionados para a conta capital podem sofrer um hiato devido o período eleitoral.

Há um latente quadro com tendência de piora do déficit em transações correntes e isto representará pressão sobre o preço da moeda americana a partir do mercado à vista.

Não há muito que possa ser feito no curtíssimo prazo para atenuar as pressões que deverão advir do setor externo pouco favorável e que só teve retardado os seus impactos em razão do fluxo de capitais especulativos ocorridos fortuitamente no 1º trimestre do ano em consequência da postergação pelo FED das medidas que em algum momento adotará modificando sua politica monetária.

O governo flexibilizou medidas prudenciais adotadas anteriormente e ainda vigentes com foco a estimular a concessão de crédito pelo sistema bancário. Acreditamos que terá pouco impacto, tendo em vista que há por parte dos bancos baixa propensão a intensificar a concessão de crédito devido aos riscos de inadimplência, e, nem mesmo pelo publico não há grande tendência a assumir maior endividamento.

Como temos salientado, a tendência é tudo continuar como está, exceto no câmbio onde podem ocorrer pressões induzindo o dólar à apreciação e muita volatilidade, aliás, observação feita pelo COPOM em sua ata e pouco compreendida pelo mercado. O BC parece tem uma visão bastante aguda a respeito, enquanto o mercado está imaginando que a calmaria no mercado de câmbio deve continuar incólume até o final do ano, e com isto pode estar errando nas apostas.

 

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