Grande parte do mercado financeiro e analistas cometeram o equívoco de imaginar que o BC estaria propenso a reduzir a taxa SELIC face à deterioração da atividade econômica.
E tamanha foi a crença que acabou por afetar o mercado de juro que colocou a sua curva em baixa sinalizando esta possibilidade como efetiva.
Em nossas abordagens logo descartamos está possibilidade visto que qualquer tipo de afrouxamento seria um sinal de descaso da autoridade monetária em relação à inflação que ainda tem muitos fatores propulsores de sua alta caso ocorra um descuido.
E ainda, destacamos os efeitos que poderiam acarretar de desinteresse por operações com reais, desestruturando a estratégia que vem sendo desenvolvida para manter o real apreciado no mercado de câmbio.
O teor da ata da reunião do COPOM da semana passada em que foi deliberada a manutenção da taxa SELIC , divulgada hoje, foi peremptório em eliminar quaisquer possibilidades de redução da taxa de juro, e ainda, afastando-se de algumas análises predominantes destacou que a inflação continua e continuará resistente nos próximos trimestres.
Enfim, na ata a autoridade monetária desfez toda a análise interpretativa de sua nota pelo mercado financeiro e analistas divulgada logo após o término da reunião na quarta feira da semana passada.
O mercado de juros realinhou-se com a realidade corrigindo o erro de interpretação dos analistas.
Este é um ano eleitoral em que restam a inflação dentro do limite máximo da meta e a geração de empresas como trunfos de campanha do governo, e isto precisa ser defendido intensamente, pelo menos até as eleições.
A inflação está no limite de alta e não pode sofrer o risco de romper o piso alto, embora todos saibam que há pelo menos de 1,5% a 2,0% de inflação represados nos preços administrados, por isso seria inimaginável admitir-se como razoável a ideia de redução da taxa de juro SELIC, tendo como motivo a situação caótica da atividade econômica e perspectiva de crescimento do PIB este ano. Por outro lado, a geração de emprego embora claramente cadente, ainda mostra números positivos este ano.
Nenhuma medida que o governo venha a adotar conseguirá reverter este quadro de deterioração da atividade econômica neste ano e o baixo crescimento, portanto esta é uma situação irreversível, então o esforço é manter o que ainda não é considerado negativo.
Mas, se a autoridade monetária incorrer em erros no trato dos instrumentos de contenção das pressões inflacionárias, a resposta colocando a inflação acima do piso superior da meta poderá ocorrer ainda neste ano e até as eleições.
E um dos riscos contidos numa eventual redução do juro seria a desarticulação da estratégia em torno da indução à apreciação do real, que tem mantido o preço da moeda americana no nosso mercado bastante afastado do preço efetivo sugerido pelo quadro econômico brasileiro, cuja resultante, em havendo uma desarticulação, impactaria muito rápido nos preços da economia com efeitos imediatos nos índices inflacionários.
Parece-nos que a missão do BC é manter o quadro atual sem grandes ruídos, pelo menos, até as eleições.
Contudo, acreditamos que, tanto quanto nós, o BC considere que há riscos de pressão sobre a formação do preço da moeda americana, em especial a partir do mercado à vista, pois é bastante presumível e factível um incremento substantivo da demanda decorrente de movimento de saída do país de recursos externos, em especial os de natureza especulativa, forjados a partir de operações de “carry trade”.
O setor externo tem perspectivas muito ruins para este 2º semestre e deve ser o grande desafio para a politica monetária do governo, devendo ocorrer forte pressão altista sobre o preço da moeda americana, o que imporá intervenção mais forte do BC no mercado, mas pode ser que os seus instrumentos de contenção não se revelem totalmente capazes de inibir a apreciação do dólar, que nos parece inevitável.
Na margem ainda há o risco do FED americano vir a sinalizar mudanças na sua politica monetária antes do previsto, decisão que certamente afetará principalmente os países emergentes, entre os quais o Brasil, precipitando a reversão de recursos externos investidos nos mesmos.
Continuamos com a percepção de que o preço da moeda americana, a despeito da intervenção do BC, mantém viés de alta para antes das eleições, e, que o setor externo provocará desconforto à gestão da politica monetária por parte do governo.