O mercado de câmbio abriu ontem sob forte pressão altista da taxa da moeda americana, parte decorrente de pressão de demanda efetiva e parte da natural especulação que a oportunidade oferece para ganhos rápidos, ambos os movimentos no mercado futuro, que, naturalmente, contamina a taxa de câmbio do mercado à vista.
O BC fez o previsível, ofertou na largada dos negócios do dia 60.000 contratos dos instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais”, algo como R$ 3,0 Bi, ação típica para atenuar as pressões no mercado futuro, focando reverter a tendência de imediato, o que não conseguiu, já que a alta persistiu.
Na sequência realizou oferta de linhas externas, através leilão de venda de moeda efetiva com recompra conjugada no mercado interbancário, no montante de US$ 6,0 Bi, sendo US$ 3,0 Bi para 03/09 e US$ 3,0 Bi para 01/10, com a taxa de venda de R$ 2,26 e consolidadas com as taxas de corte de R$ 2,2905 e R$ 2,3034 respectivamente.
A oferta de linhas pode ter sido preventiva ou já consequente de retração das linhas externas para os bancos brasileiros em razão da mudança da perspectiva da liquidez no mercado internacional.
A taxa cambial cedeu, efeito natural esperado, pois com as linhas externas ofertadas pelo BC os agentes do mercado puderam operacionalizar suas necessidades, e, inclusive atender a demanda por ACC´s dos exportadores brasileiros atraídos ao mercado pela elevação do preço do dólar. O recuo do preço da moeda americana nestes casos é estratégico, visto que os bancos buscam com isto adquirir as ofertas dos exportadores com taxas abaixo do que vinham sendo praticadas.
Ao final do expediente do mercado, a taxa cambial evidenciava retomar a tendência de alta, fechando, contudo, abaixo da máxima do dia.
Entendemos que esta volatilidade será natural neste momento, mixando movimentos efetivos de demanda por “hedge” no mercado futuro com uma parcela de ações especulativas.
Contudo, devemos considerar que, em perspectiva, já havia fundamentos para vislumbrar-se como tendência presente a alta do preço da moeda estrangeira ao longo do ano, face ao comportamento cadente dos fluxos de recursos externos ante um ascendente déficit em transações correntes.
O que ocorre é que a manifestação do FED sobre a perspectiva de descontinuar o programa de estímulos monetários à economia americana frustrou a expectativa do Brasil de que ainda pudesse catalisar investimentos estrangeiros, mesmo que de natureza especulativa para melhorar o fluxo cambial para o país.
Este fato antecipou no tempo a pressão altista que se vislumbrava para ocorrer gradualmente, precipitada pela abrupta demanda por “hedge” cambial no mercado futuro de dólar, num ambiente de escassez, que já vinha evidenciando saída de recursos de investimentos estrangeiros existentes no país.
Este contexto dá suporte à tendência mais aguda de alta do preço da moeda americana, contudo, inegavelmente, ocorre exacerbação natural para estes momentos.
Mas, não há como deixar de reconhecer que a tendência do preço deverá continuar sendo de alta, os fundamentos assim a indicam e dão suporte de forma irreversível.
O governo brasileiro dispõe de parcos instrumentos para atenuar estas pressões quando se tornarem efetivas em torno de saída efetiva de recursos do país, pois então será necessário disponibilizar moeda efetiva, que não poderá ser mitigada com “swaps cambiais”, que são instrumentos financeiros referenciados em dólar e juro e liquidados financeiramente pela diferença em reais, não representam dólares efetivos, como ainda há muitos que confundem.
Há severas críticas e observações de rigor sobre o país. Política fiscal expansionista e fragilizada; crescimento baixo; inflação alta; ausência de reformas estruturais; etc.
Há percepção de que o país não se preparou e nem foi previdente para enfrentar esta mudança na liquidez internacional, e atravessa um momento bastante ambíguo onde deseja crescer num ambiente inflacionário, carente de investimentos substantivos, revelando atualmente inúmeros pontos negativos que revelam não ter sabido construir-se adequadamente quando o ambiente era favorável.
Temos as reservas cambiais, que em ultima instância deveriam proporcionar tranquilidade defensiva para as trepidações que deverão ocorrer aqui e no mercado internacional, mas temos um risco presente preocupante de eventual rebaixamento do grau de investimento, que poderia determinar saída de recursos consideráveis do país e nos impor dispender parte destas reservas.
No nosso entendimento, o viés da taxa cambial continua de alta, porém deve ocorrer um relativo arrefecimento na intensidade e velocidade, tornando-se mais gradual, porém consistente.