Esta é uma questão relevante no contexto atual do Brasil que está carente de fluxos de recursos externos mais intensos, para evitar a depreciação do real e as suas repercussões nas pressões inflacionárias que persistem resistentes.
A redução do prazo de empréstimos externos com alcance do IOF de 6% já foi um sinal bastante forte e incontestável de que há no âmbito do governo preocupações com a insuficiência de fluxos externos líquidos, coincidentemente num momento em que intensifica o movimento de reversão de recursos ingressados no país no primeiro trimestre, em especial os de caráter especulativo.
Embora a medida adotada pelo Decreto 8263/14, publicado no D.O.U no dia 4 passado, tenha o objetivo prioritário de estimular o fluxo de recursos externos de curto prazo para o país, notoriamente os de características especulativas, para evitar que o BC possa vir a sem impelido a ter que ofertar dólares a vista ao mercado de câmbio à vista, onde se pontifica agora a demanda efetiva, não se acredita que promoverá aumento significativo no volume de ingressos.
O mercado de câmbio, como temos salientado, está vivendo momento de transição da demanda que estava no mercado futuro para a demanda no mercado à vista. Neste contexto perde eficácia o instrumento financeiro “swap cambial” e passa a ser requisitada moeda efetiva.
Nem mesmo face ao objetivo secundário que seria o aumento da oferta de crédito a custos mais acessíveis, considerando que a queda na oferta de crédito decorre da maior seletividade por parte dos bancos face ao alto endividamento da população e a consequente elevação do juro. Muito provavelmente, a captação de recursos externos em condições mais favoráveis, se ocorrer, não repercutirá em melhores condições de concessão de crédito e portanto a demanda será pouco estimulada.
Mas o fato é que a demanda varejista é cadente, e, a freada decorre do fato que a renda está sendo corroída pela inflação bastante forte e até certo ponto sem sinergia com os indicativos do IPCA; do endividamento, e da perda de confiança dos consumidores em torno do emprego.
Por outro lado, em relação ao empresariado a abertura dada é para capitais de curto prazo e a percepção atual é de que a grande maioria já não está mais planejando com foco neste ano de 2014, o que pressupõe que a demanda será inexpressiva.
Estamos numa fase no país em que a queda da demanda é que vai tornar o nível de oferta satisfatório, o que não enseja e nem estimula investimentos pelo setor produtivo, podendo contribuir, isto sim, para a queda da inflação de forma mais intensa que o juro.
Este ano tem pouco de tempo útil a transcorrer e uma gama elevada de incertezas crescentes internas em perspectiva, que acabam por se constituir em forte antídoto ao capital especulativo, que convive bem somente com certezas, por isso tende a deixar o país.
Então, o que resta como expectativa favorável possível para melhorar o fluxo cambial líquido para as autoridades brasileiras?
Acreditamos estejam em torno da possibilidade de fluxos advindos do LTRO que está implementado pelo BCE, por isso o MF e o BC antecipando-se ao fato presumível que veio a confirmar-se, abriram espaço para os empréstimos de curto prazo (a partir de 181 dias) com isenção do IOF de 6%, que poderão vir para o Brasil, prioritariamente como capitais especulativos, contribuindo para a melhora do fluxo cambial que está tendente a consolidar-se de forma sustentável negativo.
O Banco Central Europeu reduziu sua taxa básica de juros para uma baixa histórica de 0,15% no início do dia, dos 0,25% mantidos desde novembro.
O BCE também reduziu sua taxa de empréstimo para 0,40% de 0,70% e a taxa de depósito para -0,10% de 0,0%, tornando-a negativa e portanto cobrando juros de bancos comerciais sobre depósitos “overnight” . O juro negativo é muito contestado e a experiência na Dinamarca não deixou resultados positivos.
Também reativou o financiamento das carteiras dos bancos com taxas baixas com duração em torno de 3 a 6 meses, conhecido como “Long-Term Financing Operation”, LTRO, que se assemelha a estratégia praticada pelo FED americano, visto que os bancos trocam seus títulos em carteira por moeda, no caso o euro e com isto aumentam a liquidez, e assim os motiva a emprestar mais para o empresariado e pessoas físicas, dinamizando com isto a atividade econômica.
Entretanto, o que constata na euro zona principalmente é a baixa demanda por crédito e o já elevado endividamento dos tomadores, o que não sugere grande empolgação em torno do programa.
Ocorre que estes recursos baratos e o juro negativo, se mantidos em depósito no BCE, podem direcioná-los para busca de rentabilidade melhor, porém dentro dos padrões de segurança, o que evitará que sejam preferencialmente deslocados para países emergentes e em especial latinos, e se direcionem para o mercado americano, em especial para os T-Bills, podendo, acreditamos, haver alguma especulação no mercado turco e russo, pela proximidade.
Se este contexto presumível se confirmar haverá o fortalecimento do dólar perante as demais moedas, com redução do juro dos T-Bills, e que tudo leva a crer será bem visto pelas autoridades do FED americano, que não se sentirão pressionados a promover mudança imediata na politica monetária.
As bolsas americanas reagiram de imediato com otimismo e os T-Bills sofreram valorização discreta fechando a curva de juro “yeld”.
Será necessário observar-se um pouco mais para que se tenha uma noção mais evidente de como serão as reações decorrentes do fato.
O dólar que vinha em forte valorização perdeu força frente às principais moedas, um pouco também pelo fato dos dados de pedidos de seguro emprego ter vindo 8.000 solicitações acima das projeções ao registrar 312.000 pedidos. Porém, o que será mais importante é o dado que será divulgado hoje, o “nonfarm payrolls”, e que se vier em termos positivos poderá fortalecer a moeda americana.
O Departamento do Trabalho americano destacou que a média nas quatro semanas encerradas em 31 de maio para os pedidos de seguro-desemprego caiu para 310,250 mil, a menor marca desde junho de 2007, mostrou o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos.
O real apresentou ontem movimento de apreciação excessiva, provavelmente repercutindo a expectativa de que o Brasil possa ter melhora no fluxo de recursos externos em decorrência do Decreto 8263/14 e do LTRO do BCE, mas consideramos baixa a probabilidade que esta recuperação desejável seja alcançada.
A apreciação do real ficou em linha com as outras moedas emergentes como o rublo, a lira turca e o rand, mas, como já salientamos, não acreditamos que estes recursos europeus fluam para os emergentes latinos.
A perspectiva continua, no nosso entender, a ser a de que “o cobertor está ficando curto” no fluxo cambial e tendência de apreciação da moeda americana e o BC, se não tiver a parceria dos bancos para ampliarem suas posições vendidas no mercado à vista, poderá ser levado a ter que realizar leilões de venda ao mercado à vista para gerar liquidez.
Mas esta atitude acarreta riscos que já temos destacado, pois pode incitar movimentos especulativos sobre o real, gerando forte volatilidade, e não se pode perder deixar de considerar que as posições vendidas dos bancos no mercado de câmbio à vista já atingem o equivalente a 4% das reservas cambiais brasileiras.
Se considerarmos que o COPOM interrompeu a elevação da taxa SELIC em razão das preocupações com a atividade econômica, eventual pressão sobre o preço do dólar apreciando-o exerceria pressão inflacionária e tornaria complexo o quadro prospectivo.
É importante observarmos neste momento, mas são crescentes as possibilidades de que ocorram “trepidações” no mercado de câmbio com a apreciação da moeda americana.