O comportamento do mercado de câmbio já sugere que o real possa estar sofrendo, ainda que discreto, ataque especulativo a partir do mercado futuro no momento em que o mercado à vista está carente de liquidez

Por mais contraditório que possa parecer, fundos nacionais e estrangeiros detentores de posições compradas no mercado futuro, estrategicamente montadas,  parecem estar se valendo dos contumazes leilões de “swaps cambiais” realizados pela autoridade monetária, com foco em conter a alta do preço da moeda americana, para impulsionar o movimento especulativo com moderada intensidade, o que leva a insensibilidade da formação do preço da moeda americana às intervenções, como constatado na semana passada.

Forjam movimentos de pressão sobre o preço da moeda americana para atrair a autoridade monetária a realização dos leilões de “swaps cambiais”, com isto, elevam suas posições e continuam pressionando a alta.

Com esta tática colocada em prática, a moeda americana subiu 5,36% na última semana, 5% neste mês de agosto e acumula 17,16% no ano.

Este movimento é presumivelmente esperado mais intenso na medida em que o mercado de câmbio à vista acentuar a evidência de carência de liquidez, que se saliente, já está baixa e contribuindo também para o viés de alta e a autoridade monetária seja levada à necessidade de realizar leilões de dólar “spot”, usando as reservas cambiais brasileiras.

Há um cenário fértil para a especulação sobre a fragilização do real.

O país teve queda acentuada na atratividade ao capital externo e convive com a pressão de saída de recursos, em razão da perspectiva do término/redução do programa de incentivo monetário do FED, e que pode ser intensificada antes mesmo da definição por parte da autoridade americana, a partir da elevação dos “yelds” dos T-Bills americanos, que já começam a precificar o fato em perspectiva.

Por outro lado, é crescente a perspectiva de que a balança comercial deste ano seja negativa, agravada pelas importações em plena evolução impulsionadas pela participação cada vez mais de insumos importados na nossa economia e, principalmente, pelas importações de combustíveis.

A inflação tende a ficar abaixo do piso teto da meta, mas com muitos focos de pressão, que foram mitigados por ações protelativas do governo, mas que certamente eclodirão num momento próximo. Ainda há muitas duvidas sobre a intensidade do impacto da alta do dólar.

As perspectivas de crescimento do PIB são, cada vez mais, revistas para menor, fortalecendo a predominância de ambiente negativo, que já convive com temores sobre a manutenção da dinâmica do emprego, etc.

A moeda americana fechou no dia 16, sexta feira, cotada a R$ 2,396 e o BC já colocou o montante pouco abaixo, ou no entorno, de US$ 35 bi de “swaps cambiais”, que agora já não sensibilizam a alta do preço da moeda americana.

É muito razoável admitir que a este preço as empresas que detêm passivos expostos em moeda estrangeira não tenham interesse em realizar “hedge”, o que tira a legitimidade dos sinais de alta do preço do dólar no mercado futuro, dando evidência que é fruto de movimentos articulados especulativos.

Tudo deixa evidente que o BC:

-) Deve evitar realizar leilão de dólares à vista, mitigando assim o risco da eclosão de movimento especulativo com grande intensidade;

-) Precisa mudar sua estratégia para levar os bancos a serem os geradores de liquidez no mercado à vista, ancorados em linhas de financiamentos em dólares leiloadas e a custos que os motivem  a assumir posições vendidas e, então, realize oferta de “swaps cambiais” para que realizem o “hedge” destas exposições.

Evidentemente os bancos podem assumir posições vendidas ancoradas em suas linhas junto aos banqueiros externos, porém, o cenário prospectivo adverso em termos de fluxos em moeda estrangeira para o Brasil pode impor longevidade na utilização destas linhas, com necessidade de rolagens, o que seria mais viável tendo o BC como doador das mesmas.

Os bancos precisam ser previdentes, pois ante a perspectiva de aperto na liquidez internacional se o FED reduzir ou terminar o seu programa de incentivo monetário poderá haver problemas com a rolagem destas linhas, afora encarecimento demasiado.

Com mais do mesmo cotidianamente, o preço da moeda americana vai continuar à mercê da ação dos especuladores.

 

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