Num ambiente “back to 2009”, o BC resolveu finalmente mudar a sua estratégia de “mais do mesmo” para algo mais focado efetivamente na liquidez do mercado à vista e mercado futuro, na tentativa de tirar domínio do especulador sobre a formação do preço

O Banco Central do Brasil busca hoje com um leilão de linhas de financiamento (venda à vista e recompra futura de dólares efetivos) da ordem de US$ 4,0 Bi, e leilão de “swaps cambiais” de US$ 1 bi, que seguramente poderá ter novas rodadas hoje mesmo se bem sucedido o leilão de linhas, quebrar a rotina que se tornara contumaz e que já não atendia demanda legítima de “hedge”, pelo contrário fomentava a ação dos especuladores na depreciação do real.

Com isto busca fazer dos bancos os agentes da liquidez no mercado à vista e, em concomitância, oferece “swaps cambiais” para que os mesmos possam fazer o “hedge” das posições vendidas que, na falta de liquidez oriunda do próprio mercado, serão ancoradas pelas linhas financiadas pelo BC.

Para dar certo é preciso que sejam consumadas as aceitações pelos bancos e Banco Central do Brasil das condições negociais das linhas de financiamento.

O mercado futuro que vem absorvendo a totalidade dos leilões de “swaps cambiais” ofertados pelo BC tem a predominância da presença especulativa dos “players” posicionados “comprados” e que assim, aumentam suas posições e “puxam” mais a taxa futura, num processo que pode levar o preço a números extremamente exacerbados. O “overshooting” da cotação do dólar já é uma realidade no mercado brasileiro e o agravamento já tem tido a adesão de inúmeros analistas contaminados pelo clima negativo predominante, sem, por vezes, atentarem detidamente para as causas.

Não é razoável admitir que empresas, ainda com passivos em moeda estrangeira, estejam demandando “hedge” neste ambiente com a taxa cambial do dólar elevada e notoriamente fruto de especulação.

As posições especulativas no mercado futuro vêm sendo montadas de forma gradual e mais acentuadas desde junho, ante a perspectiva de que o país viesse a ter problemas de liquidez no mercado à vista, em face à notória fragilização dos fluxos cambiais líquidos de recursos externos, em parte pela queda nos ingressos e na parte mais considerável pelo incremento das saídas de recursos do país, por inúmeros fatores já levantados e detalhados anteriormente.

Com esta expectativa dos especuladores e com a queda brusca de liquidez no mercado à vista, o que já está presente, o próximo passo da estratégia de especulação era o BC  ter de realizar leilões de venda de dólares “spot” ao mercado, retirando-os das reservas cambiais, deixando claro que o país já não consegue recursos suficientes para financiar o seu crescente déficit em transações correntes e, então, detonar um forte movimento especulativo explorando esta fragilidade.

Este mês de agosto motivou  os especuladores a dar início a movimento mais forte, especulando e apreciando a moeda americana já que se tornou evidente que as posições compradas dos bancos no mercado à vista estavam próximas a serem  zeradas, o que obrigaria o BC a fazer os leilões ofertando dólares “spot”.

O BC sempre se mostrou contrário a realizar ofertas de dólares “spot”, pois tinha clara noção do que pode ocorrer, por isso nos surpreendemos com o retardamento em retomar os leilões de linhas para os bancos. Teria sido previdente que o BC tivesse se antecipado a aceleração do movimento especulativo a partir do mercado futuro, que acabou tendo a contribuição do aperto de liquidez no mercado à vista, ganhando espaço para forte alavancagem especulativa no preço da moeda americana.

O ambiente não é dos mais favoráveis para que os bancos assumam posições vendidas, mas sendo o BC o gerador das linhas de financiamento, a situação fica mais confortável por mitigar os riscos de descontinuidade da concessão, o que poderia ocorrer com linhas concedidas por banqueiros estrangeiros. Mas, operar com posições vendidas possibilitam na margem que os bancos captem moeda nacional a custos atraentes, e assim o BC pode lograr sucesso em fazê-los agentes da liquidez no mercado à vista, dependendo, contudo, da adequação da taxa de juro, resultante nas operações de financiamentos de linhas.  

O leilão de linhas não altera os saldos das reservas cambiais do país pelo conceito de liquidez internacional, afetando somente pelo conceito de caixa, mas que será recomposto com o recebimento.

Se o BC lograr sucesso nesta estratégia no mercado à vista com os leilões de linha e no mercado futuro com leilões de “swaps”, promovendo elevado nível de liquidez nas duas pontas, quebra as expectativas que fomentavam de forma mais intensa a ação dos especuladores.

Acreditamos que possa tirar força do movimento especulativo e até promover perda aos especuladores que, a rigor, não convivem bem com riscos de perdas expressivas e podem recuar até desfazendo seus posicionamentos comprados no mercado futuro gradualmente, que certamente encontrará nos bancos parceiro interessado, visto que detém enorme posicionamento vendido no mercado futuro.

Esta estratégia tem grande probabilidade de “apagar o incêndio”, mas naturalmente o preço do dólar poderá recuar aos níveis em torno de  R$ 2,30, já que existem inúmeros vetores dando fundamento a um preço depreciado do real.

Temos uma visão otimista sobre esta nova estratégia, a qual mencionamos como necessária a ser adotada pelo BC sistematicamente, não sendo improvável que os especuladores até possam resistir num primeiro momento, mas com liquidez ampla nos dois segmentos do mercado de câmbio será difícil darem sustentação à especulação.

É importante que a liquidez colocada seja abundante pois precisa ter volume para neutralizar a especulação, e, tudo leva a crer que a demanda no mercado a vista deve se acentuar com saída de capitais que serão direcionados ao mercado americano, que já opera precificando o fim do programa monetário do FED, o que provoca a queda dos T-Bills e consequente abertura dos “yelds” que hoje na abertura indicavam rentabilidade de 2,88% nos papéis de 10 anos.

O Dollar Index pela manhã apontava queda de 0,20% e o dólar recuava frente ao euro em 0,30%.

Como já dissemos anteriormente, o dólar com preço exacerbado não interessa a nenhum segmento da economia, pois encarece insumos e acelera a inflação que acaba anulando eventuais ganhos, massificando a perda para toda a economia.

O Brasil atravessa um período bastante desfavorável, por isso, precisa agir estrategicamente e rápido, principalmente no mercado de câmbio, no qual há muitos espertos e poucos distraídos.

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