O país vive o drama do “remédio vir a se tornar veneno” e com isto a economia entrar em recessão ao invés de retomar a dinâmica do desenvolvimento.
Embora os interlocutores do governo se alternem, as colocações dos anseios são os mesmos, deixando evidentes que buscam que seja agregada credibilidade aos resultados ainda projetados com base nas medidas preconizadas pela nova equipe gestora da política econômica.
Mas, a despeito da ênfase dada nas explanações e buscas de apoio, o grau de confiança no governo continua baixíssimo e determina cautela generalizada do setor produtivo do país ante a ausência de sinais de resoluções para os impasses presentes nos campos político e econômico.
O Ministro da Fazenda disse que precisamos eliminar os sentimentos de “downgrade”, crise cambial e inflação elevada e o Ministro do Planejamento afirmou que para voltar a crescer o país precisa ter controle da inflação e equilíbrio fiscal e aditou que também é necessário ter investimentos.
Nenhum fato novo, absolutamente tudo que quase todos sabem, mas a questão é que o país estando absolutamente deteriorado em seus fundamentos está apresentando uma conta elevada para a população, que afinal não foi a grande beneficiária dos desmandos fiscais e não deseja pagar a conta que pode representar um pesado ônus de perda de emprego, renda, etc… E o momento envolvido em substantivos problemas de corrupção acirra ainda mais o sentido opositor.
Os políticos, inclusive da base de apoio político do governo, não desejam ser parcimoniosos com as decisões do poder executivo, criando então barreiras e embaraços para as aprovações das medidas.
Então, o risco mais temido neste contexto em que a economia pode entrar em recessão é a de que o país não alcance o superávit primário de 1,2% e venha a perder o grau de investimento concedido pelas agências de rating.
Este é o fato mais preocupante e que pode agravar em muito um quadro já desfavorável cambial, onde detemos reservas cambiais que o país não tem condições de aumentar e um risco cambial substantivo em torno do triplo das reservas.
Além disto, o BC já utilizou de forma grandiosa os instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais” para oferecer proteção à variação cambial às empresas com exposições em moedas estrangeiras, e da presença destes instrumentos acabou se tornando refém para ancorar a credibilidade da enfraquecida moeda nacional, o real.
Atualmente o BC detém menor poderio para enfrentar movimento intenso de saída de recursos se vier a ocorrer e, principalmente, eventuais ataques especulativos que poderão vir a ocorrer sobre o real, em especial no mercado futuro.
Esta sensação é que torna crescente a percepção de que o câmbio estaria fora de controle.
E por fim, os representantes da equipe econômica têm demonstrado intenções repetidas de enquadramento da inflação na meta, mas esta possibilidade é projetável quem sabe para 2017 se o governo lograr sucesso em seus objetivos, sendo que enquanto isto todos os realinhamentos promovidos na economia, alguns absolutamente inimagináveis como a energia elétrica, impactarão nos indicadores inflacionários, com input adicional da elevação do preço do dólar que se irradia por toda a economia.
A sensação é que o país precisará piorar muito até que consiga dar os primeiros sinais de recuperação, e isto torna o ambiente negativo.
O BC tem a obrigação de atuar sobre as expectativas sobre o câmbio, buscando atenuar os pontos que fomentam as especulações e passam a sensação de que o câmbio está fora de controle.
Afinal, o dólar cai no exterior e sobe no Brasil, qual é a causa efetiva se não o próprio Brasil.
O BC mesmo com todas as limitações intervencionistas atuais que se possa considerar tem que demonstrar que está no comando, antecipando decisões para não permitir o crescimento das incertezas que fomentam especulações.
Afinal, o que pretende com o silêncio sobre a continuidade do programa de oferta de swaps cambiais, mesmo que só com rolagens?
A persistência pode conduzir o preço da moeda americana a patamar excessivo e de difícil reversão posterior, além das repercussões nos preços da nossa economia.
As questões externas servem em sua grande maioria somente para desfocar as causas principais presentes no Brasil.
Hoje tem reunião do FED americano e a despeito de alguns números menos favoráveis recentes que já desestimulam mudanças rápidas, possivelmente o argumento será de que deverão esperar um pouco mais, visto que o dólar forte impacta no seu comércio exterior que fica prejudicado com o encarecimento dos produtos exportáveis e barateamento dos produtos importados, prejudicando suas indústrias e a sua atividade econômica.
Devemos continuar no Brasil com volatilidade no preço da moeda americana tendo ao fundo um viés de alta.