Não há câmbio fora do controle, mas a especulação campeia livre

Volatilidade incontida e especulação sistêmica com curva viciada criaram um “modus operandi” do mercado de câmbio, deixando a impressão de que embora não haja descontrole, já não há mais instrumentos eficazes para o Banco Central do Brasil intervir de forma eficiente para contê-las e isto acaba por dar tranquilidade aos especuladores para operar no patamar entre R$ 3,28 a R$ 3,20, algo como um float de2,5%.

Então, ocorre a adjetivação diversa para o que ocorre do tipo realinhamento, recomposição de preço, etc, e por fim se argumenta que é bom para a indústria, para as commodities, para o emprego e parece que a inflação parece sim fora do controle já que tanto preços administrados quanto preços livres estão em processo de ajuste forte atingindo a capacidade de consumo da população ao atingir seus rendimentos e mesmo o emprego ou o acentuar o risco de perda do emprego.

Comportamentos voláteis da moeda não contribuem efetivamente para nada, precisa haver certa estabilidade ainda que se considere um viés tendente a alta ou a baixa em perspectiva.

O preço da moeda americana sobe no nosso mercado em desalinhamento com o comportamento externo e então há uma riqueza verdadeira de argumentos fundamentados no “status quo” da economia brasileira, problemas políticos, situação fiscal, etc… e depois ao final do dia cai atribuindo a este ou aquele sinal menos intenso da economia americana ou de um fato externo, visto que por aqui as coisas não tem mudanças abruptas de cenários.

O governo assiste, sendo quase certo que mantém o silêncio dada à falta de opções para intervir, e então a alta do dólar torna-se inexorável e passa a ser aceita, mas seguramente o preço está um pouco além dos fundamentos, que embora ruins estejam sendo focados por novas medidas visando a correção.

A deterioração da taxa cambial mais acentuada pode vir até a acontecer desde que ocorram problemas mais sérios de liquidez efetiva de dólares e o BC tenha que vir a utilizar as reservas cambiais para supri-la e fique evidente a fragilização do instrumento swap cambial como elemento de hedge.

Por enquanto, o fluxo cambial total está positivo em US$ 4,99 Bi no ano e US$ 2,23 Bi neste mês até o dia 13, a despeito de na ultima semana de 9 a 13 ter ficado negativo em US$ 790.0 M, o que ainda não se pode considerar uma nova tendência. Então, embora com os bancos vendidos em US$ 23,6 Bi, não há ainda desconforto no mercado de câmbio à vista. A especulação ocorre no mercado futuro que contamina naturalmente o mercado à vista.

Temos destacado de forma até antecedente aos fatos que o dólar elevado, a despeito dos efeitos impactantes na inflação, seria a forma mais adequada do governo buscar a revitalização da indústria nacional, permitindo-lhe a retomada da parcela do mercado interno perdida e ganho de competitividade com o fator preço no exterior, precisando, contudo, realizar investimentos para aumentar a produtividade.

Com isto o governo estaria também aumentando a capacidade de geração de emprego e renda.

Entretanto, a reação do setor produtivo, em especial as indústrias, tem sido quase imperceptível dada o baixo grau de confiança no governo e seus propósitos. Reflexo direto disto é a redução do emprego já detectado nos dados do CAGED de janeiro e fevereiro, o que é ruim, pois impacta no consumo não só de quem perdeu o emprego mas no todo pela contração previdente.

Por outro lado, ajuda na equalização dos preços finais remuneratórios dos produtores de “commodities” cujos preços estão em queda no exterior.

Também torna o país mais atraente ao capital especulativo, pois retira a sobrevalorização do real já que oferta juros elevados, mas a volatilidade atua contrariamente a arbitragem.

E, por último, torna o país atraente para investimentos na infraestrutura, única janela em que há atratividade, que tem sido foco nas manifestações do Ministro Levy, mas o governo precisa ser mais ágil nas decisões a respeito.

Ontem, quando o FED anunciou a sua decisão de manter o juro nos Estados Unidos, mas sinalizou ao retirar a expressão “paciente” do seu relatório de que a mudança da política monetária pode estar mais próxima, mas enfatizou que não deve acontecer na reunião de abril.

O index do dólar imediatamente reagiu e se valorizou 0,5% ficando em 99,36, enquanto por aqui o dólar cedeu frente ao real devolvendo o conteúdo especulativo.

Há necessidade do BC se manifestar, em especial quanto a continuidade do programa de swaps ainda que restrito à rolagem, pois primeiro não tem efetivas condições de interrompê-lo e segundo se tentar ou alimentar a duvida acaba fomentando a especulação.

E preço especulado e volátil não serve para nada positivo na economia, mas impacta inflacionariamente de forma praticamente irreversível e pode exigir mais elevação da SELIC.

 

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