O bom otimismo é positivo, porém pode estar exacerbando o sensato nas reações!

A “torcida” para dar tudo certo no novo governo é grande e acaba se deixando levar pela ansiedade que predomina nos segmentos do mercado financeiro neste início de ano, porém se por um lado o bom otimismo é desejável, a precipitação ao ancorar-se em perspectivas ainda sombrias e carentes de maior sustentabilidade, pode revelar-se errática e desapontadora.

A eleição do Presidente Bolsonaro era desejada pela maioria da população e, em especial, pelo mercado financeiro e a partir do fato consumado se criou então expectativas muito favoráveis, porém ancoradas em ideias que para se consolidarem demandarão mais tempo do que o anseio sugere e ainda poderão sofrer postergações de natureza política, visto que haverá um novo Congresso parcialmente renovado, com o qual o novo governo terá que estabelecer negociações e discussões, que não se esperam fáceis, para alcançar seus objetivos.

Enfim, a economia real não vai bem e por enquanto o bom otimismo está calcado em intenções e ideias que, contudo, ainda não permitem ser configurada como factíveis exatamente como idealizadas, razão pela qual deve prevalecer a sensatez e ainda não a euforia.

A reforma da Previdência é matéria complexa e naturalmente ensejará debates acalorados e nem sempre superáveis na forma desejada, mas será imprescindível para que o governo equacione alinhamento inicial para contenção do agravamento da crise fiscal que assola o país.

E, não é só isto, para o soerguimento do país na retomada da atividade econômica, atraindo investimentos, gerando emprego, renda e crescimento, haverá muitos desafios de enorme magnitude a serem superados, e, sem os quais, o novo governo não viabilizará a grande virada que todos anseiam.

O jogo está somente começando e há estratégias focando objetivos fundamentais, mas naturalmente não há como superar-se o imperioso tempo que será absolutamente necessário para que haja o tão almejado novo tempo, com o país retomando o crescimento e havendo todos os benefícios consequentes.

Ontem houve sinalização pelo comportamento do mercado de que possa estar ocorrendo precipitação com base nas expectativas positivas, contudo, ainda muito frágeis em consistência e este muito provavelmente não seja o melhor comportamento na medida em que se afasta da sensatez que o momento recomenda.

É importante destacar que o aparente “boom” que sinaliza a Bovespa está sendo puxado por investidores locais, visto que os estrangeiros ainda observam e não estão fazendo fluir os investimentos sobre os quais se tem expectativa.

À margem do andamento das iniciativas no país focando seus interesses imediatos, ocorre necessariamente um olhar sobre o quadro externo, sobre a economia global, e na medida em que ocorrem sinais positivos no embate USA-China, utilizamos o fato como positivo para o Brasil, perdendo de vista que este é um embate direto entre as maiores potencias mundial e que, embora sejam nossos parceiros, são também nossos concorrentes e tem muitos interesses entre si que confrontam com os nossos interesses.

Há naturalmente pontos positivos e pontos negativos que resultarão dos acordos que forem estabelecidos entre as duas potências, mas não podemos perder de vista que nem tudo que é bom para os Estados Unidos e para a China é bom para o Brasil, então é necessária apuração mais arguta das resultantes finais.

Contudo, é muito improvável que se alcance um acordo completo entre as duas potências, sendo muito provável que os debates e embates persistam ao longo do ano, o que relativiza em muito o impacto de ajustes parciais que venham a ser conquistados.

Os dados econômicos chineses recentes são desapontadores e na própria China diminui a expectativa quanto ao acordo com os Estados Unidos.

Como país emergente devemos estar atento aos posicionamentos do FED, que sinaliza atenuar efetivamente o ímpeto de elevação de juro nos Estados Unidos e isto poderá fortalecer a moeda americana e as bolsas americanas, aonde especialistas vem pontuando que os preços estão baratos, que assim se configuram como concorrentes diretos com os países emergentes.

Assim, além do aspecto sobre a eventualidade de retração da liquidez internacional, há fatores que podem conspirar contra as otimistas projeções para o ingresso de recursos volumosos na nossa Bovespa já que nossa economia ainda precisa ganhar tração enquanto a americana está “bombando” e com ações a preços atrativos e o nosso setor agrícola exportador pode ter reflexos negativos na medida em que Estados Unidos e China avancem nas suas tratativas e alinhamentos.

O BC divulgou ontem o fluxo cambial da semanal inicial do ano de dia 2 a 4 com resultado negativo de US$ 1,312 Bi, sendo negativo comercial de US$ 658,0 Mi e negativo financeiro de US$ 654,0 Mi. Cabe destacar que o ano de 2018 fechou com fluxo cambial negativo de US$ 995,0 Mi, sendo positivo comercial de US$ 47,740 Bi e negativo financeiro de US$ 48,735 Bi, porém deve ser considerado que há um estoque líquido positivo de câmbio comercial a ser contratado de US$ 10,747 Bi.

Os bancos estão operando com posições “vendidas” no montante de US$ 26,177 Bi, contando com lastro de liquidez fornecida pelo BC através de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra de US$ 12,250 Bi. Como se pode observar nada ocorreu de tão relevante entre a última semana de dezembro e a primeira de janeiro que justificasse a apreciação de 4% do real frente ao dólar, confirmando a percepção de que se tratou de um movimento estratégico por parte dos bancos, como anteriormente explicitado.

Numa observação mais cética no entorno do ambiente interno e externo de impacto nos fluxos e fatores de influência na formação do preço da moeda americana no nosso mercado entendemos que a ocorrência de apreciação mais intensa do real frente ao dólar afastando o preço de R$ 3,70 pode ter sido precipitada, visto que há ainda muitas dúvidas e incertezas presentes, o que não induz, neste momento, viés de alta ou de baixa no preço.,

O Brasil não tem fatores impactantes no contexto cambial em si, visto que detém polpudas reservas e contas externas confortáveis, o que permite que se considere R$ 3,70 como uma taxa de equilíbrio face ao “status quo” atual, mas ainda há muitas dúvidas e incertezas internas e externas que recomendam sensatez, visto que o país convive com problemas relevantes e na economia real nada mudou até agora.


 Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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