O clima perdura de otimismo, mas com a sensatez contendo eventuais exacerbações do preço do câmbio para mais ou para menos, visto que ainda não existem fundamentos concretos para que se possa estabelecer de forma sustentável tendências.
Evidentemente há ansiedade por fatos novos e que sejam positivos o que leva a perspectivas imediatas de melhoras além dos sinais emitidos, mas embora seja perceptível que ocorrem sinais de avanços estes são ainda muito ancorados em fatos não efetivamente consolidados.
Internamente, o governo Bolsonaro se reúne e denota estar focado na formulação de iniciativas, em especial em torno da Reforma da Previdência, para buscar realinhamento para a severa crise fiscal, mas isto ainda demandará tempo incerto e ensejará debates e avaliação por parte do Congresso já com sua nova composição.
Na realidade o novo governo está tomando assento e o país precisa de muitas ações concretas que, por enquanto, são colocadas de forma teórica e inconclusas na sua formatação.
O Brasil tem uma situação tranquila no contexto cambial, com reservas cambiais robustas, déficit em transações correntes bem equilibrado, CDS com viés de queda estando hoje pela manhã em 183,2 pontos para 5 anos, mas o preço da moeda americana no entorno de R$ 3,70 está, neste momento, num ponto de equilíbrio, não havendo fatos novos concretos que possam dar sustentabilidade a apreciação e nem a depreciação, tão somente alguma flutuação sem afastar-se do eixo.
O país tem inflação baixa, juro baixo, mas perspectivas de crescimento ainda frágeis, tendo ontem o Banco Mundial revisado sua expectativa para o Brasil neste ano para 2,2%.
Mas o país tem a crise fiscal que é relevante, tem índice de desemprego elevadíssimo que para recuperação depende de ações governamentais para incrementar a retomada da atividade econômica, gerando renda e consumo.
Certamente, há muito que acontecer para que a dinâmica do Brasil seja implementada de forma convincente e desperte atenção e interesse por parte de investidores estrangeiros.
A Bovespa para a qual há enormes expectativas favoráveis depende diretamente de melhoras das perspectivas econômicas do país, sem o que perde atratividade, até porque, no momento, os papéis americanos são fortes concorrentes por estar baratos.
Na cena externa há sinais de que possa ter evoluído o acordo China-USA depois das reuniões encerradas hoje em Pequim, mas neste quesito há muito ansiedade que pode superar a realidade.
A Ata da reunião do FED americano será divulgada no fim da tarde de hoje, e o mundo quer ver se o documento confirmará o tom dovish dos comentários do Presidente Jerome Powel, de que o FED poderá ser paciente no aperto de sua política monetária.
Mas persistem as questões em torno da Alemanha, Brexit/U.E. e outras tantas, que merecem atenção.
Há expectativa quanto a manutenção da liquidez internacional, fato de altíssima relevância para os países emergentes.
Perspectivas normalmente antecipam atitudes, mas em relação ao Brasil, embora haja otimismo, as ações governamentais certamente demandarão mais tempo que o desejado e isto poderá inibir a concretização de tendências fundamentadas e sustentáveis e o quadro externo é pouco contributivo no momento.
Enfim, no nosso entendimento o nosso mercado de câmbio deverá manter estabilidade com discreta volatilidade no entorno de R$ 3,70/3,75, até que se ultrapasse a fase do anseio e boas ideias para ações concretas e viáveis, quando surgirão as tendências.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO