Descoladíssimo do comportamento de valorização generalizada da moeda americana no mercado internacional, e ao mesmo tempo, incompatível com as perspectivas para o preço da mesma no nosso mercado de câmbio, o real apresentou ao inicio do dia de ontem movimento isolado e dispare de apreciação, aparentemente sem causas fundamentadas no curso do mercado efetivamente. Posteriormente, assumiu discreta depreciação muito próxima da estabilidade, ainda assim desalinhada com as demais moedas.
Por isso, enfatizamos o que já colocamos anteriormente a calmaria visava o conhecimento da decisão de ontem do COPOM sobre a taxa SELIC, que por fim confirmou a nossa expectativa de aumento de 0,50% por unanimidade, elevando-a para 10,50%, deixando evidente que a autoridade monetária não dará trégua as pressões inflacionárias, mesmo sendo ano eleitoral, permitindo, embora não expressado no comunicado pós reunião, que já se possa aguardar nova elevação na próxima reunião, caso não ocorra sinais de arrefecimento evidenciado pelo IPCA.
Após o dado ruim do IPCA fechado em 2013 e do mesmo índice em dezembro, na mesma linha de dado pouco favorável veio o IGP-10, primeiro indicador do ano, acelerando logo no começo do ano, com alta de 0,58% em janeiro após ter registrado 0,44% em dezembro, o que valida a preocupação presente em torno da inflação em 2014.
Este comportamento da inflação e suas perspectivas validam totalmente a decisão adotada pelo COPOM ontem.
Aliás, é importante destacar que o BC parece estar em “sintonia fina” com as perspectivas que podem trazer turbulências neste ano de 2014. Inicialmente fez a revisão da sua estratégia de intervenção no mercado de câmbio, mantendo oferta programada reduzida de “swaps cambiais” que poderá calibrar nas rolagens que podem evidenciar excedentes pela saída de recursos do país e estabeleceu uma intervenção desprogramada no mercado de câmbio à vista, com a utilização de todos os meios que se fizerem necessários, pois a expectativa é que a pressão ocorra mais intensamente na saída de recursos do país. E agora de forma precisa e correta agiu elevando a SELIC em 0,50% não dando margem a que ocorra deterioração da inflação.
Conhecida a decisão sobre a SELIC, há a expectativa em torno do inicio da rolagem hoje da posição vincenda em 3/2/2014 de contratos de “swaps cambiais” no montante de US$ 11,0 Bi.
Interessa aos bancos e demais compradores uma taxa cambial mais baixa nos eventos de rolagens destas posições, por isso ocorre esta aparente calmaria e este comportamento do preço da moeda americana oposta ao comportamento do mercado internacional e a tendência natural ante o contexto atual brasileiro.
Hoje o BC dá inicio a rolagem parcial e entendemos que possa haver desencontro de interesses na composição das bases financeiras das rolagens, com exigências maiores por parte dos bancos e demais compradores, porém, efetivamente o BC precisa rolar estas posições para não provocar uma imediata valorização da moeda americana e o mercado precisa da manutenção do “hedge” para não ficar desprotegido, o que não é nada recomendável.
Neste momento ainda não se pode assegurar que o BC terá demanda e/ou necessidade para rolar a totalidade do lote vincendo, pois as saídas de recursos já ocorridas do país podem ter deixado um “gap” de folga que pode determinar que não seja necessária a rolagem absoluta, mas isto será mais bem avaliado no decurso do período em que a autoridade monetária fará as ofertas.
Então, devemos entender que a apreciação ocorrida do real nos últimos dias é um fato pontual e de natureza estritamente interno do país, mas nem é sustentável e nem permite que se entenda como tendência.
A tendência em perspectiva é do preço da moeda americana em alta repercutindo movimentos de saída de recursos do país e baixo volume de ingressos. Como temos salientado frequentemente, os fatores que sugerem saída de recursos do país são muito mais intensos do que os que sugerem fluxos de ingressos.
O ano de 2014 começou emitindo sinais idênticos aos que se verificaram ao final de 2013. Balança comercial negativa em mais de US$ 500,0 M e fluxo cambial negativo em US$ 1,217 Bi.
O fluxo cambial foi negativo até o dia 10 no montante de US$ 1,217 Bi, sendo US$ 172,0 M no comercial e US$ 1,045 Bi no financeiro.
Os bancos, data base 10 de janeiro, estavam com suas posições “vendidas” em US$ 19,341 Bi, mas somente US$ 14,526 Bi estavam ancoradas em linhas de financiamento concedidas pelo BC, havendo uma aparente tendência que, pelo menos no momento, tendam a diminuir a demanda por estas linhas que proporcionam a geração de liquidez no mercado de câmbio face à carência de ingressos e busquem recursos longos com captações no exterior. Esta mudança de postura é que teria determinado que liquidassem linhas no montante de US$ 2,460 Bi logo no inicio do ano.
Há um aparente esforço do governo para que empresas estatais, economia mista e mesmo bancos busquem captar recursos no exterior e com isto incrementem os fluxos de divisas para o país, já que a tendência em perspectiva sugere que estes sejam menos intensos do que o ano passado num ambiente que projeta um déficit em transações corrente igual ou maior do que o de 2013, com uma contrapartida de IED´s menores.
O preço do dólar mais elevado estimula exportações, mas não podemos deixar de considerar que atualmente os nossos produtos exportáveis têm uma parcela considerável de insumos importados, que pesam na formação dos preços e encarem os produtos da indústria nacional.
Por outro lado, as perspectivas não são de preços generosos no mercado internacional para as “commodities” como o foram num passado recente e que enfrentam problemas de infra-estrutura severos que podem afetar a nossa competitividade, já que outros países produtores estão prevendo grandes safras.
Na mesma linha de dado pouco favorável veio o IGP-10 acelerando logo no começo do ano, com alta de 0,58% em janeiro após ter registrado 0,44% em dezembro, o que valida a preocupação presente em torno da inflação em 2014.
Nossa projeção de que o preço da moeda americana possa atingir R$ 2,50 ao final do 1º trimestre continua prevalecendo, e, acreditamos que ao final desta 2ª quinzena de fevereiro em diante já se intensificarão as pressões altistas sobre a formação do preço tendente a depreciar o real.