O ambiente no mercado de câmbio é inquietante, num momento em que cresce a “onda negativa sobre o Brasil” aqui e no exterior, o governo parece reticente para reconhecer que “o que sobrou” é o capital especulativo.

Inegavelmente, o governo brasileiro demorou a reagir, desobstruindo os canais para ingresso de recursos externos no país, ante a clara e notória evidência de que o país vinha perdendo atratividade por parte dos investidores estrangeiros.

E, continua demorando, já que há sinais muito evidentes de que o que sobrou para objetivarmos melhora de captação de recursos externos são recursos especulativos focando a correção havida e que haverá na Selic, que poderão nos suprir com melhora do fluxo de curto prazo, ainda dependendo de retirarmos entraves existentes no mercado de derivativos, caso contrário nem este será atraído.

Após ter adotado, até certo ponto equivocadas por erro na visão prospectiva à época, medidas tributárias fortes que dificultaram o ingresso de recursos externos no país, o governo brasileiro, novamente falhou ao não ter tido visão adequada prospectiva, para identificar que a curva dos fluxos de recursos externos para o país era tendente à retração neste ano, e assim, não ter adotado a desintervenção em tempos mais favoráveis para o país.

Já em dezembro havíamos mencionado a necessidade de redução do alcance do tributo IOF de 6% sobre os empréstimos de 90 dias, já que era o momento das empresas realizarem seus planejamentos de captação de capital de giro para 2013 e o país havia perdido o apelo para as especulações no nosso mercado com recursos ingressados por esta modalidade, até porque a curva de juro no país era cadente. O país continuou impedindo tributariamente este canal de ingressos.

Em dezembro de 2012, o BC, para estancar pressão altista no preço da moeda americana, atenuou o problema com a colocação de “swaps cambiais”, quando os bancos detinham posição vendida no mercado à vista da ordem de US$ 6,0 Bi, que funcionou devido existir a perspectiva de que ocorresse melhora dos fluxos de recursos externos nos primeiros meses do ano de 2013, o que não se confirmou.

Já havia sinais desde meados de 2012 que a curva dos fluxos externos era cadente.

A China, nossa maior parceira na área de comércio exterior das “commodities”, dava sinais de perda de ritmo, e, com isto os preços das “commodities” foram se afastando do cenário de “boom” dos anos antecedentes, enquanto que nossa indústria persistia dando sinais de baixa competitividade no mercado externo e produzindo pouco para atender a demanda interna, que passou a ser fortemente suplementada pelos insumos e bens acabados importados.

Num curto espaço de tempo, o cenário internacional foi mudando, a economia americana começou a dar sinais de melhora, enquanto que a economia brasileira, apurado o PIB do 1º trimestre, revelava inanição e agravamento do processo inflacionário, dava sinais de deterioração de seus fundamentos econômicos, com destaque para observações mais críticas sobre a perda de credibilidade da política fiscal e o crescimento preocupante do déficit em transações correntes.

Acentuou-se a perda de atratividade aos investidores externos, que já há algum tempo haviam passado a nos observar mais pelas fragilidades do que pelas nossas atribuídas qualidades. E o governo, teimosamente, relutou em reconhecer esta realidade e descuidou de pontos fundamentais, que agora pesam sobremaneira sobre o conceito do país.

O Brasil demorou também para agir atraindo os investidores estrangeiros para as concessões para a reconstrução da infraestrutura do país, relevante entrave ao crescimento, e até passar de uma postura negocial radical para uma mais flexível e viável houve grande retardamento, e, ainda que definições possam ocorrer neste ano, a burocracia do país certamente transformará as perspectivas de fluxos de recursos para médio e longo prazo.

Temos agora a necessidade de um ajuste fiscal forte por parte do governo, o que impacta nos objetivos expansionistas atuais visando o crescimento, sem o que não reverterá o quadro inflacionário e reconquistará credibilidade. E, ao mesmo tempo precisa atrair capital estrangeiro para financiar o déficit em transações correntes, caso contrário o preço do dólar destruirá os esforços anti-inflacionários.

O crescimento está comprometido para este ano, deverá advir do aumento relevante dos investimentos e não mais do modelo esgotado do consumo estimulado a crédito. E este tem sido o grande desafio sem resposta.

A inflação dilapida a renda das classes mais baixas, e, deste fato, pode advir crescimento da inadimplência.

A “onda negativa sobre o Brasil” se propaga no exterior, aumentam as críticas e os CDS (credit default swaps) acentuam o risco Brasil, repercutindo a probabilidade posta pela agência S&P de rebaixamento efetivo da nota do Brasil, agora também estendida para 11 das grandes instituições financeiras brasileiras, que passaram para perspectiva negativa. O país ganha matérias com severas críticas em revistas e jornais formadores de opinião no cenário global.

Por razões próprias do mercado internacional, volatilidade das taxas dos títulos americanos, e muitas do nosso próprio contexto, ficam mais difíceis às captações com lançamentos de bônus no exterior, e, já há repercussões nas taxas de ACC´s para exportações no nosso mercado de câmbio, pelo encarecimento das linhas externas.

O Boletim Focus altera a projeção do dólar para final do ano de R$ 2,05 para R$ 2,10, mas neste momento esta projeção de preço é uma incógnita e poderá ser pior se nada for feito com urgência. Aumentou a projeção para a Selic para 8,75%, quando já predominam opiniões de que, no mínimo, deverá ir a 9,0%. Revê o crescimento do PIB de 2,77% para 2,53% quando já há algumas projeções no entorno de 2,0%. Eleva o déficit em transações correntes para projeção de US$ 73,0 Bi, havendo quem já projete algo próximo de US$ 80,0 Bi e reduz a projeção do saldo da balança comercial no ano para US$ 7,35 Bi, já havendo projeções da ordem de US$ 6,0 a US$ 6,5 Bi, mantendo inalterada a projeção de IED´s em US$ 60,0 Bi.

Se não for obtida a recuperação de fluxos financeiros para o país, o governo corre o risco de não conseguir o total de recursos externos para financiar o déficit em transações correntes, e, terá que utilizar parte das reservas cambiais.

E a taxa cambial então poderá ser tão elevada a ponto de neutralizar totalmente as medidas focando a retração da inflação.

É preciso agir, embora o tempo certo pareça já ter passado no que diz respeito às aberturas para os ingressos externos. Retirar o IOF de 1% incidente no mercado de derivativos é fundamental para tentar atrair o que restou, afinal, como já salientamos, “não dá para escolher a qualidade em tempos de necessidade”.

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