Desde o início do agravamento das repercussões altamente negativas sobre os países emergentes decorrentes de mudanças abruptas no cenário internacional, em especial do mercado americano, fomos propagadores incessantes de que o BC deveria atuar em todas as frentes em sua intervenção no mercado de câmbio, coibindo volatilidade e especulação e dando evidências inquestionáveis de que o Brasil está imune à crise cambial, embora pudesse ter pressão de elevação do preço da moeda americana face a influências externas e internas imponderáveis.
Porém, a autoridade monetária anunciou de forma enfática sua decisão de intervenção, contudo de forma errática, pois a definiu com um único instrumento, os swaps cambiais, que por sua natureza leva o mercado a comprimir a taxa no momento da oferta para que permita margem maior e deixa livre a especulação mais centrada na ocorrência dos vencimentos, de forma a que a variação cambial que beneficia os tomadores supere em muito o juro que recebe, e saliente-se que o custo dos swaps estão muito baixos devido a proximidade entre a nossa taxa de juro e a taxa americana.
E, além do erro inicial, persistiu no erro extrapolando no volume ofertado fomentando o surgimento de movimento especulativo que seguramente tencionava conduzir a taxa cambial no momento adequado a parâmetros superiores a R$ 4,00, o que lhes proporcionaria excelente ganho, já que eram eles, os tomadores, que deprimiam a taxa ao entorno de R$ 3,70/3,75 por ocasião dos leilões e não rigorosamente a intervenção do BC como poderia transparecer enganosamente.
Ficou então o BC numa roda viva, refém de sua própria estratégia e que persistiria com tomadores de forma persistente não mais para proteção, mas para pura especulação.
Após este período errático, houve por bem a autoridade monetária, desde a semana passada, alterar sua estratégia de intervenção passando a ofertar linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, mantendo a rolagem de posições de swaps cambiais e emitindo sinais de que reduzirá bruscamente a oferta de novos contratos de swaps cambiais.
Com a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, mais do que a demanda imediata em grandes volumes o que certamente virá a ocorrer no curto prazo, o BC consegue balizar a formação do preço da moeda estrangeira, pois a operação estabelece a taxa de venda e de compra nas duas pontas da transação, e o intervalo entre ambas representa juro que acaba influenciado também como consequência.
Como ressaltamos ontem, o fato relevante não é se o mercado já está absorvendo a totalidade da oferta ou não, mas sim a ATITUDE DA AUTORIDADE que assim pontifica que o país, que já demonstrou que pode oferecer a proteção do risco cambial, pode de forma contundente prover o mercado de câmbio a vista com suficiente liquidez, não havendo problema algum aqueles investidores estrangeiros que desejarem deixar o país.
Com a utilização do instrumento financiamento em moeda estrangeira com recompra o BC consegue recompor sua efetiva influência na formação do preço da moeda americana, criando parâmetros de venda a vista e recompra futura e isto repercutindo também no mercado de juro.
Hoje fará nova oferta de linhas de financiamento no montante de US$ 2,5 Bi e é bastante provável que já ocorra maior demanda do que no leilão inicial desta semana, a despeito de ser esta quarta feira de expediente bancário curto.
Evidentemente que esta ação, agora completa por parte do BC, se revela tardia pois deveria ter sido iniciada quando da oferta mais volumosa dos contratos de swaps, embora sabidamente os bancos estivessem com suas posições – a vista e em linhas de financiamento- zeradas, mas o que deveria ter sido focado pela autoridade era a atitude que neutralizaria comentários inoportunos a respeito dos impactos na área cambial do país, a exemplo do que ocorreu na Argentina, Turquia e outros emergentes.
Como já salientamos a atitude deixaria evidente que o Brasil é diferente, tem um ambiente cambial absolutamente tranquilo e controlável opondo-se ao contraditório estado preocupante de seu ambiente econômico-político, com ênfase no fiscal.
Tudo leva a crer que o BC está retomando as rédeas de influência no mercado, mas ainda há o que se observar, por isso se mostra cauteloso e não enuncia perspectivas indutoras de tendências de suas decisões na próxima reunião do COPOM, como deixou evidente na ATA divulgada ontem da mais recente reunião.
Inegável que os tomadores de contratos de swaps cambiais de forma especulativa tentarão pressionar o preço da moeda para alta na iminência do vencimento dos contratos, mas o BC está agora com a estratégia correta e completa, ficando mais difícil estes movimentos especulativos impactarem na formação do preço da moeda, que naturalmente pode até subir, mas doravante mais centrada nos fundamentos.
O momento sugere observação e não precipitação, certamente haverá aumento do volume de saída de recursos externos do país, mas isto poderá ocorrer de forma ordenada e sem impactos que criem qualquer anormalidade ao curso dos negócios no mercado de câmbio à vista.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO