No mercado de câmbio os números “falam” e merecem atenção

Há muito ruído positivo abordando o aumento dos fluxos financeiros direcionados à aplicação em renda fixa e até para a Bovespa em renda variável, principalmente após o governo ter retirado a tributação do IOF de 6%, mas os números do fluxo cambial por si só vêm evidenciando com números a insuficiência destes fluxos para reverter o seu comportamento deficitário semana a semana.

Os “players” do mercado esperavam aumento substantivo destes fluxos como consequência da interrupção por curto prazo do embate político entre o Executivo e o Legislativo em torno de questões fiscais nos Estados Unidos, e mais e principalmente, devido aos dados ruins mais recentes da economia americana sugerirem a postergação do início da redução do programa de incentivo financeiro do FED para o final do 1º trimestre de 2014.

Afinal, o Brasil voltara a proporcionar excelente remuneração, despertando, portanto, atratividade ao capital especulativo, aquele que nada produz e só aproveita oportunidades de ganho rápido, mas que em tempos de fluxos insuficientes não há como ser descartado com base em critérios seletivos, visto que o país precisa melhorar o ingresso de recursos externos para ajudar na complementaridade do financiamento do expressivo déficit em transações correntes.

Mas o fluxo financeiro tem sido desapontador visto não conseguir sequer fazer face às saídas.

Identificamos e destacamos em nossas abordagens diárias que a expressiva apreciação do real, notoriamente assimétrica considerando o fato de termos as contas externas com indicadores desfavoráveis e carência de ingressos de recursos externos, poderia estar ajudando o governo a reduzir pressões inflacionárias e até com alguns benefícios indiretos para a Petrobrás e mesmo para os bancos que estão carregando “posições vendidas” geradoras de liquidez, mas poderia, também, estar sendo o fator neutralizante do direcionamento de recursos por parte de investidores especuladores para o país, pois que o risco de perda cambial é muito maior do que o presumível ganho com o juro.

Os dados do fluxo cambial até o dia 18, divulgados em 23 pelo BC, trouxeram uma “advertência” implícita, pois o fluxo no todo continua pesadamente negativo no mês, mas com destaque para a piora do fluxo financeiro, exatamente onde se esperava melhora do ingresso de recursos externos.

Precocemente às observações posteriores do mercado, havíamos sugerido que o BC não deveria rolar mais do que 50% da posição de “swaps cambiais” de US$ 8,87 Bi  vincenda em 1º de novembro próximo, para conter a apreciação do real que vinha ocorrendo sem fundamentos “vis-à-vis” à dinâmica do mercado de câmbio, aparentando utilização do preço do dólar depreciado pelo governo para conter pressões inflacionárias e mesmo movimento especulativo por parte dos “vendidos” no mercado futuro ancorado no excesso de liquidez neste segmento gerada pela própria autoridade monetária.

 Um efeito “compra” no mercado futuro de dólar na virada do mês com a não rolagem do todo da posição de “swaps cambiais” vincenda, poderia, no nosso entender, colocar a “casa em ordem” restabelecendo cotação para o dólar mais coerente com os fundamentos.

O anuncio inicial do BC sinalizou que iria realizar ofertas de rolagens nos dias 22, 23 e 24, bastante convenientes face o espaço dado para o final do mês quando ocorre a disputa entre “comprados” e “vendidos” em torno da formação da taxa PTax, que assim teria baixa influencia do BC muito próxima da data do vencimento, qual seja 1º de novembro. Como o BC anunciou leilões de 20.000 contratos em cada um dos dias, houve o entendimento que rolaria tão somente um terço do lote total vincendo e isto naturalmente teve impactos na formação do preço da moeda americana, que assim apreciou-se ficando na faixa de R$ 2,20/R$ 2,21, parâmetro menos irreal e que, no nosso entender, não afetaria a inflação, e  ainda capaz de  resgatar parte do fluxo de recursos especulativos que, certamente, foi perdido até agora em decorrência do real apreciado num ambiente absolutamente adverso a este comportamento.

Para surpresa do mercado, o BC ontem emitiu comunicado informando que realizará mais 3 ofertas de rolagem nos dias 28, 29 e 30, datas inconvenientes por serem muito próximas do final do mês no nosso entender, e com isto deixou em aberto o quanto rolará efetivamente do lote total vincendo.

Poderá ser 50%, 60% ou o todo? Enfim, quanto? A incerteza esta de volta e com ela a volatilidade, situação que deveria ser evitada pelo BC exatamente ao final do mês.

Então, a primeira reação que se espera hoje é a ocorrência de apreciação do real, conseqüência da mudança de expectativa.

Costumamos afirmar que no câmbio nem tudo é exatamente o que parece, e isto, às vezes, está muito evidente quando observamos seus números no contexto Brasil e os consideramos nas análises. Dados que envolvem contas externas, fluxos, déficit em transações correntes, a NFE (necessidade de financiamento externo) do Brasil, entre outros, são fatores atuais impeditivos que o preço da moeda americana no nosso mercado tenha simetria com o comportamento no mercado internacional.

“Posições vendidas” dos bancos num ambiente em que o BC não atua comprando ou vendendo moeda efetiva é a sinalização primária que o fluxo está insuficiente no mercado de câmbio à vista, e que os bancos estão substituindo o BC na geração de liquidez. É um fator indutor à alta de preço da moeda americana. No momento este posicionamento já aponta déficit de fluxo acima de US$ 10,0 Bi para o Brasil.

“Fluxo cambial” negativo continuadamente indica, por outro caminho, o mesmo fato e é, naturalmente, outro fator indutor à alta do preço da moeda americana.

 A necessidade de a autoridade monetária prover  o mercado futuro de dólar com intenso volume de liquidez para atender a demanda por “hedge”, é outro fator de destaque, pois demonstra que a visão prospectiva é de alta do preço.

E há uma série de outros indicadores/sinalizadores que conjuntamente constitui o fundamento que influi na formação do preço da moeda americana no mercado brasileiro.

Afora o comportamento da moeda americana no mercado internacional, o Brasil tem suas peculiaridades presentes que afetam fortemente a formação do preço, por vezes não devidamente consideradas.

No contexto atual brasileiro não há fundamento que dê suporte ao real apreciado, por isso fica latente o risco de uma alteração brusca do preço com impactos que podem anular todo o beneficio colhido pelo governo ao incentivar preço do real apreciado em ambiente adverso a esta tendência.

Os números “falam” e é relevante observá-los!

 

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