O BC divulgou ontem o fluxo cambial e houve discreto aumento do saldo negativo que passou de US$ 4,340 Bi até o dia 11 para US$ 4,479 Bi até o dia 18 último, piora de US$ 139,0 M.
Mas o destaque contido nos dados divulgados é que o fluxo financeiro piorou na última semana em US$ 1,233 Bi, passando a negativos US$ 3,081 Bi, enquanto o fluxo comercial melhorou US$ 1,094 Bi, mas ainda insuficiente para reverter o negativo no mês que ficou reduzido para US$ 1,398 Bi.
Muito tem se falado sobre ingressos financeiros de grande monta direcionados à renda fixa, mas, na prática, o que se constata é que são insuficientes para bancar o volume de saídas.
Este período outubro/dezembro concentrava efetivamente grande expectativa de melhora de fluxos financeiros especulativos para o Brasil, como decorrência da atratividade da nossa taxa de juro e por ser um “curto intervalo”, até que sejam retomadas as discussões da questão fiscal americana em janeiro, e logo em seguida, ocorra a retomada da perspectiva que o FED venha a reduzir o seu programa de incentivo monetário, provavelmente até o final do 1º trimestre de 2014.
Temos destacado que a despeito do juro no Brasil ser atraente, o preço da moeda americana absolutamente depreciada muito além dos fundamentos no nosso mercado de câmbio à vista pode estar sendo obstáculo de risco aos investidores estrangeiros, já que há efetivo risco de variação cambial brusca neste curto período.
Assim, o Brasil pode não se beneficiar com melhora de fluxo cambial como esperava, visto que a taxa cambial com o real excessivamente apreciado desestimula a migração para o país dos recursos especulativos.
Poder-se-á considerar que com esta taxa cambial deprimida o BC consegue em conjunto com uma taxa SELIC mais elevada dar um choque nas pressões inflacionárias, mas esta pode ser uma falsa tese, pois dada a carência de fluxos de recursos para o país, a taxa cambial poderá em algum momento ter um movimento brusco e anular todo benefício que, porventura, tenha ajudado a conquistar.
Importante observar que, exceto o Boletim Focus que congrega projeções de bancos e estes são interessados em taxa menor para o dólar por estarem vendidos, a maioria predominante dos analistas vem mantendo a projeção para o final do ano de R$ 2,30 ou mais, num ambiente que cota atualmente o dólar a R$ 2,17/2,18.
O contexto Brasil atual parece conviver com inúmeras incertezas e inseguranças.
Por vezes, indicadores americanos que sugerem continuidade do programa do FED provocam efeitos de euforia. Os números do emprego americano foram ruins o que fortalece a tese de postergação do inicio da redução do programa americano, sugerindo que a liquidez internacional continuará forte, mas o Brasil parece ao praticar taxa cambial com real apreciado excessivamente autocoloca fator de desestimulo à melhora do fluxo de recursos externos.
Temos insistido que os indicadores brasileiros, em especial o dólar, não podem manter simetria com os indicadores externos, visto que o país tem inúmeros problemas próprios e pontuais que se opõe a esta trajetória.
O BC está praticando estratégia de tempos adversos. Os bancos estão substituindo a autoridade monetária na geração de liquidez ao mercado de câmbio, com posições vendidas que já atingem US$ 10,99 Bi, ancoradas por linhas de financiamentos concedidas pela autoridade monetária de US$ 8,68 Bi, e está mitigando as incertezas com oferta de volume considerável de “swaps cambiais”.
Como se pode considerar uma taxa cambial no entorno de R$ 2,17 como normal, num ambiente que exige tamanho instrumental técnico-operacional para conter uma alta mais incisiva do preço da moeda americana e que persiste em evidenciar fluxo cambial negativo para o país?
No nosso entender cresce a percepção no mercado de câmbio que o BC não realizará a rolagem total da posição vincenda de “swaps cambiais” em 1º de novembro no montante de US$ 8,87 Bi. Até o momento só rolou pouco menos de US$ 2,0 Bi e tudo indica que pode ficar na rolagem de somente um terço do montante vincendo e isto, naturalmente, provocará impacto de depreciação no real.
Desde a semana passada vimos preconizando que não deveria rolar mais do que 50%, se o fizer somente 33% melhor ainda para ir colocando o preço da moeda americana em simetria com os fundamentos presentes.
Entendemos que esta atitude, caso se confirme, coloque o preço da moeda americana acima de R$ 2,20 de imediato, parâmetro não inflacionário e que, embora tardiamente, poderá ajudar o país no incremento necessário do fluxo financeiro.
Por enquanto, continuamos projetando o preço do final do ano em R$ 2,30.