O governo Temer vitimado por enorme desgaste popular tem uma característica interessante, qual seja pode se caracterizar como reformista, visto que busca romper com práticas e benefícios “getulianos” hoje totalmente impraticáveis, sendo mesmo entraves a avanços em setores relevantes como trabalho, previdência, tributária, etc…
Contudo, é relevante observar-se que as mudanças de paradigmas despertam a rápida oposição dos defensores ou beneficiados das velhas práticas e privilegiados, pouco considerando as perspectivas nefastas que possam ser vislumbradas num horizonte próximo se não houver a adequação à nova realidade.
Há uma resistência histérica ao novo, e, tendo o governo uma base de apoio politica muito frágil e mal acostumada com o fisiologismo contumaz, causa perturbações e coloca em risco avanços, ainda que modestos supervalorizados é verdade, e criam entraves e deixam muito evidente que falta sustentabilidade aos cenários positivos que têm sido construídos com habilidade.
Indecisões geram incertezas e inseguranças, que se somam à visão prospectiva de um cenário eleitoral conturbado em 2018.
Por isso entendemos que são muito estéreis as várias projeções com previsões muito otimistas para a economia e, portanto, para o país no próximo ano.
É preciso mais comedimento, a direção é mais importante do que a velocidade, e isto nos faz crer que os cenários prospectivos precisam ser construídos com maior grau de sustentabilidade e credibilidade, para que não sejam temporários e não permitam definições sobre investimentos, aumento de atividade econômica, maior nível de renda e de consumo, com consequente queda gradual do desemprego.
Afinal, o país teve relevante retração e agora sai dos escombros de forma lenta, mas com muitos ruídos eufóricos a respeito desta discreta recuperação, carente de maior consistência em fundamentos.
Esta precipitação em sancionar avanços ainda não sustentáveis pode determinar a necessidade de revisões, que podem ser consideradas erroneamente como insucessos e afetar os ânimos, por isso é necessário maior sensatez.
É preciso considerar que teremos eleição presidencial que se configura muito tensa e todo cenário externo que poderá deixar de ser tão benéfico aos emergentes quanto em 2017.
A fragilidade do contexto atual pode ser aferida por indicadores mais imediatos e sensíveis dos ativos, como dólar e Bovespa, que oscilam fortemente a um cenário reversivo que se possa vislumbrar, ficando voláteis.
A leitura da ata do COPOM faz com que se projete mais uma redução da taxa SELIC na próxima reunião da ordem de 0,25%, passando-a a 6,75%, mas o dólar pode ter impactos externos que o conduzam à apreciação e a inflação pode se aquecer, principalmente a partir dos alimentos, com mais de 70% com logística de transporte sobre rodas e que já começam a refletir o impacto do preços dos combustíveis nos preços no varejo.
A safra agrícola vem sendo estimada com queda de 10% em relação a 2017, e o fator preço pode ser o compensatório no mercado local e se não subirem nas bolsas internacionais necessitarão de um dólar mais alinhado com a realidade brasileira, portanto com apreciação, contrariando as projeções de que possa ficar abaixo de R$ 3,00.
O Brasil com sua magnânima questão fiscal será bastante vulnerável até que consiga reverter o déficit, caso contrário terá retrocesso no pequeno avanço.
É bastante provável que 2018 seja um ano mais desafiador do que 2017 que teve um conjunto de fatores favorecendo e que podem não se repetir.
Comedimento sempre, acreditando, como já frisamos: a direção é mais importante do que a velocidade.