Momento é desfavorável para o Brasil, mas perspectivas não ensejam melhoras!

Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central do Brasil, afirmou de forma enfática:
“Tivemos queda da inflação, da taxa de juros e recuperação da economia”.

A queda da inflação é verdadeira, da taxa de juros SELIC também, mas sem correspondência em queda de juros no sistema de crédito e nem mesmo grande expansão, e a recuperação da economia podemos considerar faz parte do discurso governamental, mas o país começa a perceber que pode estar se configurando o temido “voo da galinha”.

Então como fatores preponderantes para o incremento da atividade econômica sobrou pouco e o seu desempenho com viés de desempenho bem abaixo das projeções confirma isto, e, agora, estrategicamente procuram debitar a frágil Formação Bruta de Capital Fixo, o investimento, a uma visão em que a queda do real é propagada erraticamente como responsável.

Ainda há certo constrangimento na formação de consenso propagada pelo agentes do mercado financeiro em admitir que a visão eufórica, amplamente contaminada pelo quadro de excessiva liquidez internacional que por aqui aportou com volumoso montante de capitais especulativos, foi demasiada e que as reações causa-efeito esperadas com a redução do juro SELIC não se transformaram em redução das taxas de juros bancárias, com os bancos ampliando seus spreads e seus expressivos lucros, não tendo havido estímulo ao investimento produtivo.

Por outro lado, bem distante das projeções propagadas está o desempenho da geração de emprego, com reflexos diretos sobre a renda e o consumo, o que tem a haver diretamente com a fraqueza real do desempenho da atividade econômica.

Há um cenário prospectivo que acentua cada vez mais o risco político que não permite nenhuma assertiva no momento, estando cada vez mais indefinido o quadro sucessório, para o que contribui o aumento considerável da insegurança jurídica que tem evoluído de forma preocupante.

O desempenho da economia não entusiasma e dá sinais claros de que está patinando e tudo leva a crer que não terá nem razões e nem motivos para ganhar dinamismo, muito pelo contrário deve entrar, como já dissemos, num período até as eleições, dependendo dos resultados destas, numa postura defensiva e mitigando riscos.

A situação fiscal não emite sinais de recuperação, o anúncio de ontem com um déficit de R$ 24,0 Bi, mesmo que R$ 9,0 Bi decorram de antecipação de liquidação de precatórios, é desalentador, já perfazendo nos últimos 12 meses algo como R$ 119 Bi e indo nesta dinâmica poderá exceder a meta do desastre.

O conjunto da obra econômica-política-jurídica não permite que se vislumbre sinais de bonança em perspectiva, mas acreditamos que há, lamentavelmente, plenas condições de piora.

Este é a visão sobre o Brasil, que por si só já justificaria ajustes e postura reversiva dos preços dos ativos, em especial Bovespa e dólar.

Para incrementar este momento desfavorável, a dinâmica da economia americana sinaliza inflação com a elevação do ritmo da atividade e preços das commodities, em especial petróleo, e isto impacta de imediato no juro do T-Bond referencial de 10 anos elevando-o para 3% com perspectivas de subir a 3,25%, e este fato provoca forte atrativo para o deslocamento dos recursos que constituem a elevada liquidez no mercado internacional para o mercado americano, valorizando o dólar e provocando o refluxo dos capitais especulativos, forjados por operações de “carry trade”, ou não para os títulos americanos.

Este fato impacta no comportamento das bolsas, e muito especialmente deverá acentuar-se negativamente na Bovespa, e na formação do preço da moeda americana no nosso mercado.

Naturalmente poderá ocorrer volatilidade, mas o viés é acentuadamente negativo para o desempenho da Bovespa que poderá até ter um “sell off” e elevando o preço do dólar, ainda que o Banco Central do Brasil intervenha tecnicamente buscando mitigar a pressão altista.

O Brasil é neste momento um país emergente diferente dos demais, visto que tem perturbações internas próprias e pontuais gerando dúvidas e incertezas que devem se prolongar até às eleições, podendo ir além dependendo dos resultados, e tem uma política monetária que tende a reduzir juro quando o mercado principal, o americano, o está elevando, diminuindo margens e levando a perda do “apetite pelo Brasil”, inclusive no confronto com outros emergentes.

Então, não nos parece exagerado admitir que o pior ainda está por vir!


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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