Mercado global tenso e com volatilidade, até que ponto?

A Criméia disse sim à Rússia de forma esmagadora e os Estados Unidos e a União Européia certamente dirão não a esta decisão e poderão anunciar sanções, que deverão ganhar transparência a partir de hoje.

Este deve ser o fator central para que o ambiente seja tenso e ocorra volatilidade no comportamento dos preços e indicadores dos ativos no mercado global, mas no nosso entendimento deve ser um processo que demandará tempo, o que poderá mitigar a tensão dos mercados.

Na margem, porém, com alta capacidade de influência sobre os mercados poderão surgir mais dados negativos da economia da China, que parece ser um fator inesperado para o mercado global que está percebendo perda de ritmo mais intenso do que o esperado da economia chinesa.

E, por fim, na quarta feira o FED americano realizará sua primeira reunião de política sob o comando de Janet Yellen, e na sequência a Presidente do FED fará uma conferência de imprensa onde colocará as previsões econômicas do órgão atualizadas. O FED disse no mês passado que ainda era muito cedo para falar sobre os efeitos do tempo excepcionalmente severo do inverno sobre a economia. Contudo, os dados do relatório sobre o trabalho do mês de fevereiro fortalecem a idéia de que a economia está sustentando o seu dinamismo.

Tudo leva a crer que o FED continuará reduzindo o seu programa de estímulos à razão de US$ 10,0 Bi mensais, o que pode ser anunciado na quarta-feira, mas a grande dúvida dos mercados atualmente está focada na questão da elevação do juro, e a despeito da autoridade monetária ter salientado que sua taxa de juro básica perto de zero será mantida durante algum tempo, em janeiro ficou claro que já há debates internos divergentes deste posicionamento.

O índice de confiança do consumidor elaborado pela Universidade de Michigan recuou na leitura preliminar de março de 81,6 pontos para 79,9 pontos, contrariando as projeções dos analistas americanos que estavam em torno de 81,8 pontos.

No Brasil, o IBC-Br, prévia do BC para o PIB, apurado no mês de janeiro trouxe sinais de que a atividade econômica está crescendo no país. Registrou crescimento sobre o mês de dezembro antecedente de 1,26% e sobre janeiro de 2013 o índice apontou alta de 0,93% na série sem ajuste. O indicativo é alentador, porém normalmente é atropelado pelo índice oficial apurado pelo IBGE, por isso é visto com otimismo, porém moderado.

Outro fato relevante no Brasil é a questão dos custos adicionais na área energética. Embora o Ministro Mantega busque sinalizar que as decisões do governo nesta área foram bem recebidas pelo mercado, em realidade isto não ocorre e dado o imbróglio que a questão envolve e a existência de pontos obscuros, já há o entendimento que além do “empurra para 2015” havido ainda restou o risco de utilização de matemática criativa, o que será extremamente negativo, pois as decisões do governo podem comprometer as suas próprias metas recentes relativas ao superávit primário.

Num cenário prospectivo que enseja intensificação de saídas de recursos do país mais intensas do que os ingressos, esta nova perspectiva de que a decisão poderá macular a nova meta de superávit fiscal, sem contar que na margem é inflacionária com pressão postergada para 2015, e assim comprometer o anseio do governo de reconquista da credibilidade.

Este contexto fortalece a nossa visão de que os investidores estrangeiros tendem a acompanhar a “entrega do compromisso com o superávit fiscal sem magias” para depois reagir gradualmente restabelecendo a credibilidade.

A realidade é que o cobertor no Brasil está curto e não deixa margem para novos gastos, e quando o governo fala em aumento de impostos e declara que não sabe quais, isto impacta negativamente nos investidores estrangeiros e, também nacionais.

O Boletim FOCUS divulgado hoje pelo BC, datado de 14 de março último e que reúne as projeções medianas agregadas de uma centena de instituições financeiras, continua demonstrando certo conservadorismo.

Elevou a projeção para o IPCA 2014 de 6,01% para 6,11%, mantendo inalterada em 6,12% para os próximos 12 meses. Elevou discretamente o US$ para o final do ano de R$ 2,48 para R$ 2,49, o que nos parece fora do ponto, a taxa tende a ser mais elevada até por projeções isoladas das próprias instituições. A Selic mantida em 11% parece uma projeção de curto prazo e não para o ano, já que certamente, a despeito da empurrada do reajuste da energia para 2015, precisará ser mais elevada para conter as pressões inflacionárias, sancionadas pelo próprio FOCUS quando elevou a projeção do IPCA de 6,01% para 6,11%. O PIB foi discretamente elevado de 1,68% para 1,70% e isto representa 2/3 da projeção realizada recentemente pelo governo, mas parece adequada a partir dos dados atuais. A produção industrial foi reduzida de 1,57% para 1,44% A elevação do déficit em transações correntes de US$ 75,0 Bi para US$ 76,0 Bi é muito discreta, visto que o próprio governo trabalha com US$ 78,0 Bi e muito provavelmente atingirá os US$ 80,0 Bi. A visão em relação à balança comercial para correta face à tendência e foi reduzida de US$ 6,36 Bi para US$ 5,0 Bi. E, por fim, a projeção revista para IED´s de US$ 58,0 Bi para US$ 58,8 Bi nos parece contra a tendência que sugere algo abaixo de US$ 58,0 Bi.

O Dollar Index abriu apontando alta de 0,09% da moeda americana frente a uma cesta de moedas.

A tendência do mercado é que ocorra volatilidade, mas a rigor não se espera que a divergência entre Rússia e USA/UEuropéia em torno da questão da Criméia envolva o uso da força, mas sim tratativas diplomáticas e eventuais sanções, razão pela qual pode não haver uma corrida em busca de aplicações mais seguras, como os T-Bills do Tesouro americano, e os mercados reagirem até com naturalidade.

É algo para observar-se ao longo do dia.

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