O dólar “desmoronou” no mercado internacional com os sinais de novos programas de estímulo à atividade econômica nos Estados Unidos e foco na superação da pandemia do coronavírus, ainda muito presente no país, e, com especial atenção à reunião do FED, visto que seria extremamente “bem-vinda” e impactante uma redução do juro ao extremo visando fragilizar a moeda americana de forma sustentável e dar um “up” na atividade econômica e aumento substantivo da concorrência do produto americano no mercado internacional, incrementando a indústria americana, gerando emprego e renda.
Este é o “céu de brigadeiro” desejado pelo Presidente Trump para impulsionar a economia, que vinha sendo o seu carro chefe na campanha eleitoral, e que face à crise da pandemia do coronavírus o fez perder pontos relevantes na corrida presidencial.
A queda se fez contundente e ficou no entorno de 0,8/0,9% ante as moedas desenvolvidas conforme o índice DXY e também frente às moedas emergentes. Sustentável? Possível, mas a postura do FED terá um peso importante.
O nosso real que está sem grande influência interna, visto que a reforma tributária não empolgou como se esperava de imediato, e assim fica a mercê do comportamento da moeda americana no mercado global, valorizou-se e beirou os R$ 5,15 ousadamente, mas considerado preço normal “vis-à-vis” o quadro presente.
No nosso mercado de câmbio a influência local é tão somente a volatilidade, que poderá se agravar se efetivamente o COPOM reduzir a SELIC a 2,0%, já que há sinais consideráveis que o juro baixo é o fomentador deste perturbador movimento.
Porém, a nossa Bovespa ter repercutido face ao comportamento do movimento de Wall Street, como salientaram as manchetes costumeiras, que é mais um “vício de linguagem” visto que em realidade o nível de sinergia é baixo entre os eventos, uma vez que os estrangeiros estão ficando por lá mesmo e não demonstram nenhuma tendência atual de buscarem o mercado brasileiro como alternativo ao juro baixo, pois ainda consideram os níveis de riscos no Brasil desestimulantes, e assim resistem mesmo com a grandeza da liquidez presente no mercado global.
E por falar em risco, nos pareceu extremamente oportuno a manifestação de Juliana Damasceno, pesquisadora da área de Economia Aplicada do IBRE/FGV, divulgada em matéria da Reuters, para quem a expectativa do governo para o desempenho da economia neste ano pode estar “um pouco otimista”, já que há dúvidas sobre a recuperação da demanda diante do nível de desemprego. Destaca a profissional que apesar de alguns setores apresentarem resultados positivos na atual conjuntura, outros estão sendo fortemente penalizados, com impactos que se propagam para as cadeias produtivas atreladas e isto pode gerar efeitos de longo prazo.
E destacou: “A gente não sabe até que ponto a demanda, que é nosso principal indicador de recuperação da economia, vai se recuperar, por causa do desemprego, por causa dos autônomos, que hoje em dia representam a maior parte do nosso mercado de trabalho”.
No nosso entender é preciso “cultivar” o otimismo, mas não se pode afastar do radar os riscos presentes na economia brasileira, como a própria longevidade da crise da pandemia que parece muito “viva” no Brasil gerando números preocupantes, bem como capacidade de sustentação por parte do governo dos programas assistenciais à população carente.
As amostragens iniciais que temos observado das aberturas de setores da atividade econômica tem revelado que nada será como antes, expectativas estão sendo frustradas e esta incógnita cria insegurança e incertezas quanto às projeções que se renovam diariamente acerca da retomada a atividade econômica no país, que emite sinais de tendência de redução acentuada de demanda de mão de obra que resultará em menos emprego e menos renda.
A reforma tributária apresentada, modesta, mas suficiente para gerar críticas pelo aumento proposto de impostos para setores produtivos, deverá ser agregada as outras duas que estão no Congresso, mas envolvem alterações que serão de difícil aprovação pois vão contra os interesses da grande maioria de congressistas, visto que a grande maioria detém pequenas empresas prestadoras de serviços e que distribuem dividendos aos seus titulares, isto só para citar um exemplo.
E, por fim, o que se observa ainda sem o retorno do país às atividades mais incisivas da economia são revisões para melhor da queda do PIB, inflação, etc… sem ter no radar foco numa duração mais prolongada da crise da pandemia, ou mesmo, entrando numa segunda rodada da crise sem sequer ainda ter saído definitivamente da primeira.
O BC já destacou que não tem este risco de segunda rodada da pandemia nas suas projeções.
A questão China-Estados Unidos é uma questão de busca de liderança global, e, para o Presidente Trump é também uma questão eleitoral, pois o momento lhe é adverso e este embate agrada seus eleitores, assim como, o juro reduzido fragilizando o dólar é de todo conveniente, precisa tão somente o FED aderir à ideia.
Enfim, o Brasil precisa ser mais cético sobre sua realidade no momento e os grandes desafios.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO