Mercado financeiro: a volatilidade, antes de tudo, já é um estado de espírito!

Todo dia, a cada dia, buscam-se justificativas as mais diversas, oriundas localmente ou no exterior, para justificar a constância das mutações nos comportamentos do vários indicativos de preços e taxas dos segmentos do mercado financeiro, sem contudo encontrar-se razoáveis fundamentos.

A certeza mais convincente é de que não há condições para se ter certezas neste ambiente global que envolve tantas inseguranças e riscos para os quais não se consegue construir um antídoto, e, a convicção absoluta é de que a solução do problema central, o coronavírus, só virá com a descoberta efetiva de uma vacina comprovadamente eficaz.

Tudo o mais são tentativas paliativas de harmonizar a questão da saúde com a retomada da atividade econômica e pelo o que está evidente não se consegue reabrir a economia com segurança na saúde, e embora não faltem teorias sobre a dicotomia presente e haja correntes pró flexibilização, contra a flexibilização, o não isolamento e ao isolamento, etc, etc… no fundo não há posturas efetivamente convergentes porque afinal é um teorema de difícil equação.

Ocorrem repetidos espasmos de otimismo na economia com dados expressivos numericamente, mas que tem origem em bases altamente prejudicadas por também expressivos retrocessos no curtíssimo prazo de quase quatro meses, e que assim perdem o brilho que seria normal em outros tempos e que sucumbem rapidamente ante os receios renovados que evidenciam que o vírus ainda não é passado e continua atingindo os povos de todas as nações, e até de forma expressiva.

No Brasil, embora com disseminação, o número de atingidos pela pandemia continua crescente, seja por infecção seja por morte, e não há convicção formada e muito menos convergência por parte das autoridades sobre como conciliar bem a situação, o que torna tudo mais traumático e conturbado.

O legado que será deixado ao governo central é um abismal déficit fiscal que pode atingir 100% do PIB de 2020 e que pode comprometer anos, e ainda, se não equacionada a problemática de dicotomia entre saúde e economia, poderá se tornar um problema agravado de imediato pela incapacidade do governo de manter programas assistenciais à população carente.

A questão fiscal é o grande fator de perda de atratividade do país aos investidores estrangeiros, já que o país tem inúmeras e grandiosas oportunidades na infraestrutura carentes de investimentos e o programa de privatizações, ainda que lento, que poderiam carear grande volume de recursos externos.

E evidentemente, o governo precisa retomar as reformas fundamentais.

Até o momento, o governo tem realizado acenos retóricos sobre as privatizações e reformas, nada de concreto e teme-se que o tempo passe a ser um inimigo das intenções governamentais devido a morosidade.

Não se pode negar que o fator político também tem peso na perda de atratividade do país, visto que há economias emergentes também interessantes angariando recursos no mercado internacional, onde levam enorme vantagem os asiáticos.

O país vive com um momento absolutamente novo, com baixa inflação que tornou o mercado de renda fixa e o próprio financiamento da dívida pública desinteressante para investidores nacionais e estrangeiros, fato que redirecionou o investidor pessoa física de forma relevante para o mercado de renda variável, no caso a Bovespa, mas num momento em que a atividade econômica brasileira não enseja grande estímulo e então o mercado acionário revela grande volatilidade e predominância do “day trade”.

E o dólar, dentro do novo conceito de política monetária e estratégico, do “juro baixo câmbio alto”, ainda com o preço num patamar mais elevado ainda não se prestou a cumprir o objetivo de tornar o país atraente e barato para os investidores estrangeiros, que retiraram de forma expressiva os seus recursos e não tem demonstrado tendência ao retorno.

O câmbio, no nosso entender, tem atualmente extremos bem definidos entre R$ 5,00 a R$ 5,50, e o país não tem o risco de grandes ofertas e nem de grandes demandas ao longo deste segundo semestre, mas revela uma intrigante volatilidade para a qual o Banco Central do Brasil ainda não conseguiu um bom diagnóstico para intervir e que é péssimo para os negócios, salvo o fato de ter ancorado as exportações do agronegócio ao mudar de patamar.

Muito se tem falado do “overhedge”, do “lower bound” decorrente do juro, etc. etc…, mas a percepção é de que o volume de negócios está muito baixo, há muita especulação no mercado de dólar futuro, em especial com opções, e que há muito “day trade”.

Enfim, o país “patina” e enquanto isto a volatilidade diária do mercado é a única e primeira tendência presente cotidianamente, não havendo ambiente para projeções fundamentadas.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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