O Brasil ainda não saiu dos embaraços da crise da pandemia do coronavírus, e, não adianta as autoridades e até parte do mercado financeiro, demonstrar otimismo excessivo mitigando ou ignorando os riscos presentes decorrentes do vírus ainda em expansão no país, e fortalecendo convicções positivas frágeis em detrimento de incertezas consistentes.
Figurativamente, o Brasil é um país “ainda na UTI e que revela sinais vitais em recuperação, mas que não lhe permitem colocar-se em pé e andar”, então algumas melhoras decorrem simplesmente da mudança do estado preocupante para outro que fomenta esperanças de superação, sem prazo definido, de vez que ainda não se sabe a grandiosidade das sequelas a serem superadas.
Mas, os riscos de recidiva do mal e as incertezas decorrentes não vêm sendo colocadas no radar pelo Banco Central do Brasil, segundo seus próprios diretores, e este é um ponto relevante que fomenta a insegurança e poderá surpreender todo o cenário que vem sendo construído somente com otimismo e sem precaução.
Então, neste estágio, números que sejam revelados pela atividade econômica são mais representativos de reposição de estoques mínimos deteriorados no período mais agudo da crise, mas ainda que expressivos devam ser considerados com a devida cautela.
Naturalmente, há forte ansiedade para que tudo “volte a ser como era”, mas todos sabem que isto não será possível, a crise deixará como legado inúmeras mudanças estruturais e de costumes em todos os campos no país.
As autoridades governamentais cumprem seus papéis gerando mensagens otimistas como privatizações no curto prazo, retomada das reformas imprescindíveis, recuperação da atratividade do país aos investidores estrangeiros, etc…, sem avaliar o espólio que a crise entregará ao país como desemprego, perda de renda, desalento, etc…
Na realidade há muita colocação puramente retórica, basta atentarmos para o “anúncio” do Ministro da Economia sobre “4 ou 5 privatizações ainda este ano” e o desanúncio sequente pelo Presidente da Câmara de que neste ano poderá haver tão somente uma privatização. “Lato sensu” podemos colocar na mesma situação a questão das reformas.
A dicotomia entre economia e saúde persiste sem predominância de convergências e esta realidade coloca em dúvida a assertiva das decisões tomadas neste sentido visando redinamizar a atividade econômica, deixando na margem o risco de possível retrocesso, mas há extrema necessidade desta tentativa visto que o governo federal não dispõe de recursos “ad infinitum” para suprir as necessidades da população menos assistida.
A crise fiscal do governo central é o grande desafio do país, pois afeta a atratividade do mesmo ao capital estrangeiro e pode prejudicar as ambições brasileiras no que tange a atratividade de capitais externos para o programa de privatizações e infraestrutura.
Este ambiente brasileiro não permite que haja tendências, mas sim movimentos sistêmicos e repetitivos por falta de lastro fundamentalista e o que vemos cotidianamente são mutações de comportamento seja da Bovespa, seja do dólar, confirmando a impropriedade de se atestar esta ou aquela tendência.
A percepção é de que tanto câmbio quanto Bovespa vem tendo seus movimentos fomentados por operações puramente de “day trade”, com baixo volume efetivo de negócios.
Mas, entendemos que há uma anomalia relevante no câmbio que precisa de intervenção mais assertiva por parte do Banco Central do Brasil que é a excessiva volatilidade, e, na margem também é preocupante que a autoridade monetária não demonstre no seu radar foco previdente num possível reagravamento da crise do coronavírus, não desejável é verdade, mas nem por isto devendo ser desconsiderado.
Continuamos mantendo a nossa convicção que o dólar tem um intervalo definido de suporte de flutuação no Brasil, qual seja entre a mínima de R$ 5,00 e a máxima de R$ 5,50, dependendo de o ambiente ter sinais benignos ou adversos.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO