O comportamento do mercado financeiro sinalizado ontem, com alta na Bovespa e depreciação no dólar frente ao real, deixou evidente que com o passar do tempo vem ocorrendo um amadurecimento que acaba por neutralizar os impactos dos fatos repetitivos de natureza política, assumindo a forte convicção de que, a despeito das aparentes picuinhas e ruídos pontuais buscando atingir membros do governo, a Reforma da Previdência será aprovada, por inevitável, e todo o “festival” de cunho acentuadamente ideológico e contraproducente para o país estará no passado em curto espaço de tempo, e assim o cenário prospectivo sugere a retomada do otimismo.
O efeito “zero” de sensibilidade dos segmentos mais relevantes do mercado financeiro e de ausência de repercussões negativas em seus comportamentos, habitualmente muito rápidas, deixa claro que, a despeito do esforço da ambicionada intenção de propagar ruídos por parte de alguns setores, houve forte desconsideração e baixa credibilidade aos fatos recentes que focavam ser perturbadores.
O foco esteve efetivamente na votação e aprovação na Comissão Mista do Orçamento (CMO) do projeto sobre o crédito suplementar, além de reunião de governadores para tratar da permanência dos Estados na reforma da Previdência, que é fundamental para o encaminhamento de sua aprovação.
A atitude do mercado denotou ter o claro intuito de blindar a dinâmica da trajetória da aprovação da Reforma da Previdência, e ao manter o seu comportamento alheio ao intenso esforço de contaminação pela propagação midiática e de setores à esquerda em torno da casuística que envolve o Ministro Sérgio Moro, fortaleceu sua descrença nos fatos e convicção de que melhoram as perspectivas para o país.
O dólar, ativo normalmente mais sensível aos “desencontros” que ocorrem no país, manteve a sua tendência atual de depreciação frente ao real, e a Bovespa teve acentuada melhora com notícias positivas vindas da China com impacto promissor em segmentos exportadores brasileiros.
Esta postura muito provavelmente poderá neutralizar os efeitos maléficos na tramitação da Reforma da Previdência, o que confirma a percepção da crescente maturidade que salientamos, embora não se possa, mesmo que marginalizada, desconsiderar que possa ser desgastante e nefasta a intensificação de pressões sobre a figura do Ministro Sérgio Moro, que podem se fragilizar bastante a partir da origem das mesmas e a amplificação dos conteúdos.
É bastante consistente a percepção de crescente convicção generalizada no campo político, que extravasa para a economia brasileira, que se não ocorrer a aprovação da Reforma da Previdência, o que está ruim ficará pior, e para todos. É um embate em que não haverá vencedores, e isto acentua a necessidade e percepção de que a Reforma será aprovada.
Mesmo em torno dos embates entre Estados Unidos versus China, Estados Unidos versus México, etc… percebe-se que, a despeito das relevâncias envolvidas, há também uma acomodação na percepção mais madura de que estes são embates orquestrados pela truculência da gestão por conflitos internacionais do Presidente Trump e que podem ter como resultante final perdas para todos e retração da economia global.
Por isso não são esperados acordos tão iminentes, devendo esta troca de posturas retóricas durar por muito tempo, e mesmo em relação ao México, o acordo em torno da contenção da imigração irregular via México pode ficar somente no discurso, pois de difícil controle.
A China vem adotando medidas para contornar a perda de atividade e economistas americanos já temem por recessão adiante, o que leva a todos a apostar em redução da taxa de juro americana, que fragilizaria a moeda americana e potencializaria a capacidade dos Estados Unidos de concorrência no mercado internacional com suas exportações e encareceria as importações, impulsionando a atividade econômica e contornando o pior cenário.
A economia global tende a crescer menos e estes embates tendem a contribuir fortemente para tanto, mas o Brasil, que está em grande desvantagem, precisa de rápida viravolta e isto só será possível com a aprovação da Reforma da Previdência, que restabelecerá a confiança nas perspectivas e que poderá ter um incremento mais efetivo com redução da taxa SELIC.
É crescente a percepção de que superada a etapa de aprovação da Reforma da Previdência, que atenuará a frágil situação fiscal, abrindo espaço para novas reformas, o Brasil retomará a efetividade da atividade econômica, passando a um novo momento bastante positivo.
Já é tempo da economia voltar a sobrepujar a politica como foco maior.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO