Mais ação e menos transpiração, com foco na Previdência evoluirá por imponderável!

Apesar da dispersão de foco na tramitação da Reforma da Previdência, que ocorre por movimentos absolutamente desnecessários que só conduzem ao acirramento e dão “munição” aos contrários, transparece como inevitável que mesmo com articulações falhas e muitas picuinhas, já não há dúvidas de que a mesma será aprovada, ainda que sofra relativa desidratação para acomodar um ou outro item.

Tudo indica que a fase agora será profícua em mais ação e menos transpiração dispersiva que não leva a nada a não ser a demora na tramitação da proposta do governo, e que já comprometeu o crescimento econômico deste ano e pode determinar novos contingenciamentos orçamentários que causam enormes ruídos.

A economia está em estado letárgico, inércia relevante, mas é importante que as projeções, exceto do PIB, não venham sofrendo mutações relevantes, com a inflação comportada, câmbio para o final do ano entre R$ 3,75/R$ 3,80, a despeito do movimento especulativo forte havido no mercado futuro de dólar sem qualquer sustentabilidade, mas já em processo de desmonte, e juro estável com Selic prevista para o final do ano em 6,50%, com larga possibilidade de ser reduzida tão logo aprovada a Reforma da Previdência, com o intuito claro de estimular o investimento e a retomada do crescimento econômico.

O Boletim FOCUS de 24 último, divulgado hoje, ratifica as projeções mencionadas e reduz discretamente a projeção do PIB de 1,24% para 1,23%.

É necessário que sejam intensificadas as ações absolutamente focadas na tramitação e aprovação da Reforma, arrefecendo os embates que se distanciam da maturidade esperada no quadro político, aumentando o foco no interesse nacional, tendo em vista que se o país não equacionar sua questão fiscal, ao final não haverá vencedores, mas tão somente perdedores.

No nosso entendimento a fase aguda da especulação sobre a formação do preço da moeda americana, a partir do mercado futuro de dólar, perde sustentação e deve acentuar a depreciação frente ao real, na medida em que haja a percepção mais evidente de que a tendência de aprovação da Reforma da Previdência ganhe consistência.

Como salientamos ao longo da ocorrência deste movimento especulativo, o mesmo não tinha qualquer simetria com a realidade cambial brasileira, que é absolutamente tranquila e sustentável, sendo no nosso entender, o segmento onde não há problemas no país.

Afinal, o Brasil neste quesito é um emergente bastante diferenciado dos demais, portanto, como enfaticamente destacamos especular sobre o dólar no nosso mercado é aposta de altíssimo risco, sempre que se focar o tema com postura racional e não emocional.

O fluxo cambial de investidores estrangeiros para o Brasil seja para a conta capital seja para o mercado financeiro, ainda deve persistir inexpressivo, porém com a evolução da Reforma da Previdência é bastante provável que intensifiquem a observação sobre o país, de forma que se tudo transcorrer com normalidade provavelmente ao final de junho já ocorra sinais de melhora no direcionamento de recursos para o país, evidentemente não em cifras tão dantescas quanto previstas ao início de ano, mas de toda forma sinalizando ambiente mais favorável para aumento de direcionamento de recursos.

É importante destacar que ao longo destes 5 meses iniciais do ano, quando se conviveu com relativo desapontamento quanto a rapidez da tramitação da Reforma da Previdência, não ocorreu fuga de capitais do país, mas tão somente um movimento especulativo centrado no mercado futuro de dólar que aviltou o preço do dólar frente ao real, e, transpareceu aos mais leigos a percepção de que a demanda efetiva sobre a moeda tivesse consistência.

Será importantíssimo que sejam contidas as repercussões sobre as manifestações públicas havidas neste e no anterior final de semana, tendo em vista que este assunto não leva a nada mas pode ensejar perda de foco promovendo nova rodada de “transpiração” negativa a imperativa necessidade de “ação”.

A melhora do ambiente também deverá ensejar melhora gradual de recuperação da BOVESPA, sem exacerbações, mas com ambiente mais favorável com novas perspectivas para o mês de junho, quando poderá começar a receber algum fluxo de investimentos estrangeiros, mesmo que discretos.

Hoje é feriado nos Estados Unidos, Memorial Day, e com o mercado americano fechado sempre há certas distorções nos comportamentos dos demais mercados globais.

Como temos ressaltado o preço da moeda americana no nosso mercado está tão afastada da realidade que durante o período de gradual ajuste para o preço efetivamente ancorado em fundamentos, tende a não repercutir direta e necessariamente os movimentos em torno da moeda americana no exterior, fato que vinha sendo oportunisticamente utilizado aqui pelos especuladores, que se valia de todos os fatos pontificando suas perspectivas de caos no país.

A questão sino-americana também tende a passar a ser considerada com o seu efetivo peso, tendo em vista que neste ambiente especulativo teve atribuído importância acima do razoável, já que são nossos parceiros e concorrentes, e os encontros e desencontros entre ambos numa visão direta do Brasil promovem favorabilidades e desvantagens. É preciso ponderar os fatores de impactos.

As demais questões como o Brexit com a renúncia da primeira ministra, e outros problemas da União Europeia certamente continuarão merecendo observação marginal, mas não fundamental para o Brasil, que deve sim se preocupar com um eventual desencontro entre o Irã e Estados Unidos, que teria impacto imediato nos preços do petróleo, fato que poderia ter repercussões imediatas internas no Brasil.

Nosso ponto de vista é que o preço da moeda americana no nosso mercado tenderá a gradual apreciação frente ao real, com maior ou menor intensidade em linha com o andamento da tramitação da Reforma da Previdência.

Este quadro reversivo nos parece absolutamente sustentável pois estará coerente com os fundamentos do Brasil na questão cambial.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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