O mês de maio poderá ser um divisor entre a euforia ocorrida no mercado financeiro no 1º quadrimestre do ano com o considerável fluxo de recursos especulativos e a ocorrência do inicio de reversão destes fluxos, mudando a tendência pouco sustentável mantida até então e passando a assumir tendência mais realística e sustentável face ao “status quo” do país.
O fluxo de recursos especulativos adentrados no país até abril foi suficiente para evitar a ocorrência do esperado impacto de fluxo cambial liquido amplamente negativo já ao inicio do ano, se bem que não conseguiu, pelo menos até o dia 25 de abril último, resgatar com o saldo positivo obtido a insuficiência de fluxo cambial advinda do ano passado e que está sendo carregada pelos bancos nas suas posições vendidas, no mercado à vista, ancoradas em linhas de financiamento concedidas pelo próprio BC, numa manobra que tem lhe poupado até o momento da intervenção efetiva com oferta de moeda “spot”.
Tais fluxos especulativos causaram momentos eufóricos na BOVESPA e no mercado de juro e de certa forma tiraram a atenção sobre o substantivo volume de recursos estrangeiros que deixava o país no mesmo período.
Da mesma forma estes recursos se prestaram a auxiliar o BC a manter a taxa do real apreciada, com ajuda adicional de oferta excessiva de contratos de “swaps cambiais” novos e para efeito de rolagem, com o objetivo de conter as pressões inflacionárias presentes na economia.
Afinal, no 1º quadrimestre até o dia 25 último ingressaram no país US$ 225,6 Bi e saíram expressivos US$ 222,2 Bi, o que gerou um saldo positivo liquido de fluxo cambial de US$ 3,4 Bi (exatos US$ 3,374 Bi).
Mas, o fluxo cambial já emite sinais consistentes que a saída é efetiva.
Na semana de 22 a 25 o fluxo cambial foi negativo em US$ 2,059 Bi, com destaque para o fluxo negativo financeiro que atingiu US$ 2,476 Bi, enquanto o fluxo comercial ficou positivo em US$ 417,0 M. No mês o fluxo cambial esta positivo em US$ 1,316 Bi, com negativo no financeiro de US$ 1,168 Bi e positivo no comercial de US$ 2,484 Bi, provavelmente decorrente das exportações das safras agrícolas.
Maio deve consolidar mudanças relevantes no fluxo cambial que deve acentuar-se negativo, devendo ocorrer a intensificação de saídas de recursos especulativos do país e a retração de ingressos de recursos de exportações agrícolas, e isto, por inevitável, trará reflexos decorrentes da reversão de fluxos na formação do preço da moeda americana.
O mercado financeiro já está sob influência direta das pesquisas eleitorais e isto ocorre um pouco antes do imaginado, assim a formação dos preços dos ativos financeiros, mais identificados com a gestão ou influência do governo, tendem a se afastar da racionalidade.
Na medida em que as incertezas forem se tornando mais intensas, naturalmente haverá o agravamento dos riscos já que as mutações de preços de ativos importantes serão norteadas por expectativas nem sempre consensuais dos investidores, passando quase ao conceito de apostas.
E a presença de riscos com estas características pode ser um fator relevante para afastar os capitais especulativos do Brasil, pois o risco não passível de aferição é um fator que desagrada ao especulador, visto que tendo forjado a formação de capitais em estratégias de engenharia financeira que resultam no “carry trade” as margens para perdas são bastante reduzidas, o que sugere sempre a aplicação em operações que garantam o ganho fácil, sem grandes transtornos.
Este é mais um fator que pode precipitar que maio seja marcante como mês da reversão de fluxos de recursos especulativos direcionados para o Brasil, antecipando-se ao período de férias no Hemisfério Norte, que por si só sugere a ocorrência da reversão.
Além disto, a BOVESPA já proporcionou ganhos substantivos aos especuladores e assim motiva a intensificação da realização de lucros, que já apontamos já vem acontecendo, e tende a ocorrer a diminuição das oportunidades de ganhos rápidos e fáceis, que passarão a ter, face ao novo contexto, também um risco de perda pela ausência de racionalidade na formação dos preços de alguns ativos.
Afinal, em termos concretos a economia brasileira não oferece perspectivas otimistas que ensejem resultados expressivos na BOVESPA. Baixo crescimento do país, inflação alta, fragilização do setor exportador, etc. Na realidade as pesquisas eleitorais afetaram e continuarão afetando o comportamento da Bovespa com movimentos voláteis em papéis pontuais e no mais, um ou outro fato, como o caso do Santander, causará impacto. Os recursos especulativos alavancaram de forma oportuna preços de ações que estavam debilitados e promoveram forte valorização até sem fundamentos, agora é realizar os lucros e sair do país, não havendo sinais de que possa ocorrer uma segunda oportunidade para movimento idêntico.
Na mesma linha poder-se-á colocar a atratividade por IED´s que deverão ser cadentes este ano e insuficientes, mais um ano, para fazer face ao financiamento do déficit em transações correntes. O governo procura sempre ver de forma positiva estes ingressos, mas o fato é que a realidade não mostra isto de forma otimista.
Parece cada vez mais factível que o país retome o fluxo cambial negativo a partir deste mês de maio que se inicia amanhã, sem que tenha conseguido resgatar totalmente o montante de fluxo insuficiente ainda presente ocorrido ao longo do ano passado.
A partir de então o BC encontrará dificuldade para impor administração da taxa cambial com oferta excessiva de contratos de “swaps cambiais”, pois a demanda tornar-se-á mais efetiva por divisa disponível, liquidez efetiva, para fazer face as saídas pelo mercado à vista e menos de “hedge”, podendo até ocorrer uma necessidade menor de rolagem dos “swaps cambiais” em maio.
Há clara tendência de apreciação do preço da moeda americana em perspectiva e este é outro fator que deve motivar a retirada dos recursos especulativos do país.
A rigor, a grande maioria dos analistas vê a taxa cambial ao final do ano acima da projeção do FOCUS de R$ 2,45. Nossa projeção permanece sendo R$ 2,60 e a alta que prevíramos já no 1º trimestre foi mitigada pela ocorrência de ingresso de fluxo de recursos especulativos.
Há, portanto, uma margem expressiva de alta em relação ao preço praticado nesta fase do ano, que poderá impactar fortemente sobre a inflação se ocorrer abruptamente e não de forma gradual ao longo do ano face à contenção por parte do BC.
É até possível, como já salientado em nossas abordagens, que o BC esteja buscando realizar um movimento pendular administrado, contendo o preço do dólar enquanto a inflação não revelar tendência à reversão. Mas esta pode ser uma estratégia arriscada, visto que a inflação está bastante aquecida, transmitindo inclusive a sensação de que está bastante acima dos indicadores oficiais e há um sentimento generalizado de que continuará se elevando.
O país deverá acentuar ainda mais a perda de recursos externos investidos pelos estrangeiros na proximidade das eleições, como medida cautelar e previdente, isto sem considerarmos o “status quo” da economia naquele momento, mas como atitude normal.
Os países emergentes, em concomitância com a decisão de mudança da politica monetária americana afetando o juro, certamente sofrerão reflexos com saída de recursos estrangeiros que deverão migrar para os Estados Unidos.
O fato de a economia americana ter crescido tão somente 0,1% no 1º trimestre ante projeção de 1,2%, após ter crescido no último trimestre de 2013 algo como 2,6%, é decepcionante, mas os dados de geração de 220 mil vagas de empregos no setor privado em abril deixam transparecer que a retomada esta sendo firme e que o resultado do 1º trimestre pode ter sido afetado pelos problemas climáticos.
Por isso, ganha mais importância a esperada declaração do FOMC hoje.
O Brasil naturalmente, afora a reversão que se espera dos capitais especulativos que ingressaram mais recentemente, poderá passar por esta pressão de saída de recursos ainda no final deste ano e será mais um fator de impacto sobre o preço, se houver sinais efetivos de mudança da política monetária americana.
No nosso entender é bastante provável que o inicio deste movimento ocorra no entorno das eleições presidenciais no Brasil, o que poderá potencializar ainda mais as pressões sobre o preço da moeda americana.
Como temos salientado desde o final do ano passado, este ano de 2014 terá o setor externo como grande desafio para o governo, e tudo leva a crer que a partir de maio isto ficará mais evidente com a retomada de fluxos cambiais negativos impactando sobre a formação do preço da moeda americana.