O real cravou uma apreciação absolutamente atípica de 0,90% ontem!
Não houve correlação com nenhum outro evento semelhante envolvendo moedas emergentes e o Dollar Index evidenciou desvalorização de 0,05%.
Atribui-se a melhora forte do fluxo de recursos externos, com citação da Oi, mas é preciso considerar alguns aspectos relevantes antes de considerarmos o fato isolado como causa.
É provável que o volume de recursos de investidores estrangeiros tenha ingressado e represente um volume substancial, mas não podemos desconsiderar que a despeito do fluxo positivo, até agora, neste ano de algo em torno de US$ 5,5 Bi, data base 17, ainda restavam posições “vendidas” dos bancos próximas de US$ 11,0 Bi carentes de fluxo para serem zeradas, volume residual do fluxo insuficiente de recursos ocorrido no ano passado.
Este montante suportado pelas posições vendidas dos bancos vem sendo financiado pelo BC para que os bancos o carreguem, poupando, até quando possível, a autoridade monetária da necessidade de realizar venda a vista efetiva ao mercado utilizando definitivamente as reservas cambiais.
Portanto, a melhora do fluxo não representa ampliação da liquidez do mercado, mas sim redução da insuficiência de fluxos, por isso não há coerência em atribuir-se diretamente como causa da apreciação do real a melhora do fluxo, de forma simplista.
Estas oscilações abruptas, nesta fase do mês, provavelmente já tem a ver com movimentos induzidos focando a formação da taxa Ptax amanhã.
Na realidade, em condições normais, o preço da moeda americana já não tem mais como recuar aos parâmetros de R$ 2,20 de forma natural, e assim já não tem como proporcionar valorização adicional para proporcionar ganhos adicionais para a saída do capital especulativo, e, pode ser isto que esteja sendo buscado.
Maio já não deve ser tão generoso em termos de fluxos de recursos externos, com ênfase aos especulativos que tem sido básico, para o Brasil. Os preços das ações na Bovespa sofreram grande valorização e se tornaram atraentes para a realização de lucros e saída dos recursos do país.
A percepção de que a taxa SELIC permanecerá em 11,0% ou terá nova discreta alta para 11,25% e depois sofrerá interrupção também vai tornando desinteressante as aplicações que devem entrar em linha cadente, com reversão de fluxo.
Maio tem forte tendência a apresentar fluxo negativo de recursos ao Brasil, tendência que seria natural desde janeiro não houvesse ocorrido a intensificação de ingressos de capitais especulativos direcionados à BOVESPA e à renda fixa. É só atentar para o fato de que o ingresso de IED´s tem sido insuficiente para financiar o déficit em transações correntes.
A proximidade das férias de verão no Hemisfério Norte sugere que os investidores recuarão no seu ímpeto de especularem com recursos forjados em operações de “carry trade” e neste interregno poderá ocorrer melhora da economia americana, o que tenderá a fortalecer o dólar com reflexos nas taxas de juros dos Treasuries, que passarão a estimular adicionalmente a retirada de recursos dos países emergentes.
Enfim, seja qual for a razão é praticamente impossível realizar qualquer projeção para negócios de exportação neste ambiente de forte manipulação de preço da moeda americana!
Sem norte e sem fundamentos criveis o preço da moeda americana, altamente importante na economia brasileira, está totalmente desconectada com a realidade brasileira e, desta forma, pode deteriorar a sua capacidade de interferir na espiral inflacionária pela perda da sua condição de referência, sendo desconsiderada pelo menos relativamente na formação dos preços importador sendo substituído pelas projeções agravadas para o final do ano.
O setor exportador brasileiro não agrícola está sendo “massacrado” pelo comportamento do preço da moeda americana, que também acabará alavancando os preços dos produtos importados por salvaguarda e trazendo insegurança na formação dos preços futuros, com reflexos nas operações de “hedge”.
Se tornar-se um elemento neutro para contenção das pressões inflacionárias pela desconsideração do seu preço atual como referência, deixará na economia brasileira somente o ônus, de vez que as eventuais vantagens deixarão de existir pelo abandono da referência.
Por isso, afirmamos que o preço do real, excessivamente apreciado, é surreal.
Além do desmanche das posições especulativas com reversão dos recursos ao exterior, há em perspectiva fases neste ano que poderão exercer forte pressão sobre o preço. É presumível que se o ambiente em torno das eleições presidenciais potencializar incertezas ocorra saída de recursos estrangeiros do país, o que pode ser agravado se ocorrerem indicativos mais efetivos da mudança da politica monetária americana.
A irrealidade presente no preço atual da moeda americana no nosso mercado poderá ser determinante de mudança abrupta ao longo do ano, com potencial até para anular os eventuais ganhos que tenham sido conquistados no controle inflacionário.
O setor externo será este ano o grande desafio para o governo brasileiro, e, seguramente o Brasil não será poupado dos efeitos negativos decorrentes da perda de atratividade sustentável ocorrida nos anos mais recentes.