Embora ainda persista a excessiva liquidez no mercado internacional, há forte tendência de movimentos reversivos fundamentados pela assimetria dos desempenhos das economias e acirramentos em questões de disputas comerciais e tensões de relação entre países, em grande parte devido a truculência das atitudes do Presidente americano Donald Trump, e isto provoca impactos mutantes na formação de preços dos ativos no mercado internacional, fortemente negativos e intensos, principalmente aos países emergentes.
No caso brasileiro há vetores adicionais próprios e pontuais que acabam, em concomitância com os impactos advindos do exterior, contribuindo para o agravamento de incertezas e dúvidas, e repercutindo adicionalmente na formação dos preços dos ativos.
É perceptível o desapontamento que vem sendo gerado pela dinâmica da economia que emite sinais de desaceleração, tendendo a reverter a diminuta recuperação insinuada, em seus inúmeros setores.
O desemprego contraria as expectativas, números “falam”, e a tese levantada pelo Presidente Temer, alegando que o montante desempregado estava no desalento, e agora veio a mercado em busca de trabalho estimulado pela recuperação da economia, tem fraca sustentabilidade como tese. O indicador antecedente do mês de abril apurado pelo FGV aponta desaceleração da “recuperação” do mercado de trabalho.
Afora haver sinalização de que os tempos de bonança oriundos do exterior tendem a se exaurir e os impactos poderão ser expressivos, há toda uma gama de dúvidas e incertezas de natureza interna, transitando pelo econômico-político-jurídico que impõe postura de precaução e defensiva por parte dos nacionais e dos estrangeiros em relação ao Brasil.
Hoje se atribui pressão no mercado externo dos reflexos das discussões em torno do acordo entre Estados Unidos e Irã, que se revela mais uma truculência do governo Trump com forte desconsideração aos demais signatários e até seus parceiros, mas este é somente um ponto num universo amplo de vetores influentes.
Mas o fato é que o “conjunto de vetores e fatores” internos e externos tende a mudar fortemente a visão prospectiva a respeito das tendências para o Brasil para este ano de 2018, que ainda não estão sendo pontuadas nas projeções, exceto no câmbio que já vem sinalizando consistente mudança de patamar e na Bovespa, aonde os investidores estrangeiros vem se mantendo buscando sair com lucro, mas acabam por contribuir para a alta do preço do dólar devido a demanda por “hedge cambial”, cujo custo está atraente, para realizarem um saída mais suave.
Contudo, a Bovespa está sob risco de ter presente um “sell off”, na medida em que os estrangeiros não estão conseguindo dar sustentabilidade, junto com os nacionais, ao comportamento da Bovespa, muito pelo contrário, e começam a perder na conversão de retorno do capital provocada pela alta do dólar.
O “hedge cambial” pode estar barato e até ficar mais barato se o BC não alterar como seria recomendado, a sua tendência de reduzir ainda mais a taxa SELIC, mas o fato é que a demanda pelo instrumento de proteção acaba impactando no preço futuro da moeda americana, que contamina a taxa do mercado à vista.
O preço do dólar como temos salientado, mudou de patamar e tende a buscar preço mais elevado na medida em que se aproximem as eleições e se intensifiquem dúvidas e incertezas sobre as perspectivas para o país.
As intervenções do BC poderão somente minimizar a intensidade da alta, torná-la mais gradual, mas não conseguirá a contenção.
Entendemos que o BC deveria rever sua manifesta intenção de reduzir a taxa SELIC, já que o cenário americano indica que o FED intensificará a elevação da taxa básica, e, já temos internamente uma melhor captação de que a inflação pode se aquecer, como já indica o IGP-DI de 0,93% apurado em abril e que poderá ser mais impulsionado pela alta do preço do dólar, que tem grande capacidade de repercussão nos preços da economia.
Na realidade, os efeitos benignos advindos do exterior sinalizam que podem estar no ponto de inflexão e doravante serem preocupantes e alterar as perspectivas extremamente otimistas que, precipitadamente, foram postas a respeito da desejada recuperação do Brasil após períodos antecedentes extremamente desalentadores.
O momento já sinaliza discretamente, fato que deverá se intensificar, postura precavida e defensiva do setor produtivo, contendo investimentos e oferta maior de emprego, com consequente impacto em renda e consumo, até que se supere pelo menos o tempo das eleições de outubro, sem perder de vista o contexto externo que tem fatores de grande impacto nos países emergentes.
O otimismo, com discretas revisões, ainda perdura forte nos dados do Boletim FOCUS, que é gerado a partir de projeções dos agentes do mercado financeiro, que têm sido os grandes beneficiários da redução de juro, de vez que não repassaram de forma intensa e esperada a relevante queda do juro no país.
Estes deverão ser tempos de volatilidade crescente, mas certamente com um viés de alta no preço da moeda americana e baixa na Bovespa.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO