Intenções reiteradas e renovadas, mas incertezas persistem…

O mercado financeiro anseia conhecer quais são os novos desafios que o governo colocará como desafio a ser alcançado visando mitigar os efeitos previsíveis do desenrolar da segunda fase da crise global iniciada em 2008, e, ainda não obteve resposta efetiva, tendo o Presidente do BC reiterado discursos passados com ênfase renovada.

Algumas declarações de efeito como “todos os instrumentos estão na mesa para manter o mercado de câmbio funcionando”. O que significa esta afirmação? Não teremos falta de liquidez,  pois o BC estará atento, seja no mercado de derivativos para “hedge”, seja no mercado à vista, com concessão de linhas de financiamento aos bancos para que sejam os geradores, em ultima instância, da liquidez, com a constituição de posições “vendidas”, e, se isto se tornar inviável ou não recomendável em algum momento, então proverão a liquidez diretamente com venda ao mercado das divisas necessárias para manter o funcionamento do mercado de câmbio, evitando assim ruídos negativos.

Entendemos que não cabe a leitura de que o BC com as disponibilidades das reservas cambiais atuais pretenda em caso de pressão de depreciação sobre o real, fundada em efetiva demanda, esteja disposto ao enfrentamento com a pretensão de conter a alta, mas tão somente atendendo a necessidade de liquidez, como que aceitando o preço formado pelo próprio mercado.

Preservar as reservas cambiais como trunfo quase único referencial do país ao mercado internacional,  é absolutamente recomendável num ambiente que sugere tendência adversa de fluxos de recursos estrangeiros para o país.

Tombini demonstrou ter perfeita noção de que a moeda brasileira será atingida em consequência da redução do QE do FED americano e sofrerá pressões de depreciação, mas limitou-se a isto, visto não ser sensato à autoridade ressaltar e enfatizar estes aspectos negativos de forma objetiva, pois certamente influenciaria a formação do preço antecipadamente, que mesmo assim reagiu com depreciação atingindo R$ 2,40.

A Bovespa teve mais um dia negativo rompendo a barreira dos 47.000 pontos, visto que as perspectivas são baixas face as projeções de baixo crescimento da economia, agora afetada também pelos problemas energéticos. 

Por outro lado, a leitura de que houve sinais de freio na SELIC na fala do Presidente do BC deixa algumas dúvidas. Se por um lado os indicadores recentes de inflação tem demonstrado melhor comportamento, a “sensação térmica” da inflação na economia e na ponta do consumo básico da população tem permitido percepção de temperatura mais elevada, corroendo fortemente a renda das classes menos abastadas, ou seja, mais intensa do que a medição pelo IPCA tem captado.

Ademais há riscos de pressões inflacionárias adicionais pelo encarecimento do custo da energia, caso venha a ser assumida pela população, ou afetando a política fiscal pelo ônus que representará para o governo.

É importante rememorar que a Presidente Dilma no seu discurso em DAVOS mencionou ter perfeita noção dos efeitos negativos da inflação, e entendemos esta menção em duas direções, uma sobre a economia diretamente e outra de natureza política, pois atingiria mais fortemente a sua  base de eleitores.

O quadro atual não sugere leniência do governo perante a inflação, que embora tenha arrefecido neste inicio do ano, poderá deixar de responder se o governo não adotar austeridade na política monetária.

O governo tem a necessidade de ser austero na política monetária e flexível na admissão de um preço maior para o dólar, evitando despender reservas cambiais em confronto para conter legitima apreciação da moeda americana, mas tão somente monitorando a liquidez e optando, até onde possível, pela preservação do estoque.

Mas o ponto de maior sensibilidade para fechar o ciclo de providências requeridas no momento é a fixação da meta de superávit primário, que deve ser crível e factível. Não pode errar na dose e nem esperar que colhera o beneficio da dúvida com repercussões imediatas.

É relevante também o anúncio dos cortes orçamentários, sem perder de vista que o orçamento foi realizado com uma previsão de crescimento do PIB de 3,8% e atualmente as projeções já sugerem crescimento de 1,79%, o que quer dizer que uma parte da receita estimada no orçamento já tende a não se realizar, e então poderá estar cortando “fumaça” e não efetivamente.

Evidentemente não esperamos que se tudo for feito de forma adequada e sensata ocorrerá uma reversão imediata da percepção sobre o Brasil. Poderá cessar a expansão do negativismo, mas o otimismo só será recuperado gradualmente com a “entrega efetiva dos compromissos” assumidos.

O Ministro Mantega, em mais uma oportunidade, demonstrou sua inquietação com os estudos do FED americano e outros que colocaram o Brasil como vulnerável denominando-os um equivoco, contudo, somente com retórica e argumentando que o país tem reservas cambiais não conseguirá sucesso reversivo desta questão. É preciso que o Brasil elabore suas métricas que fundamentem o contrário e desta forma contestar os estudos apresentados por outros organismos.

Como dissemos ontem, o governo não pode errar e não tem o beneficio da dúvida para usufruir de imediato os efeitos das decisões acertadas que adotar, mas se errar nas decisões que adotará certamente o negativismo se fará presente de pronto.

Sejam quais forem as medidas a ser anunciadas, não vemos como conter o viés de alta da moeda americana com base em demanda efetiva decorrente da saída de recursos do país pela queda de liquidez no mercado internacional, seja pela opção dos investidores estrangeiros em retornar os investimentos aos Estados Unidos ou redirecionar a outros emergentes mais atraentes no momento.

O preço de R$ 2,40 ainda nós parece fora do ponto, mas continuamos entendendo que o preço da moeda americana poderá atingir R$ 2,50 ao final deste 1º trimestre.

 

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