A moeda brasileira por inúmeras vezes tem demonstrado comportamento desalinhado com as demais de países emergentes em relação à moeda americana, por vezes sendo a que é mais depreciada ou mais apreciada, o que pode ser uma sinalização de que esteja sendo objeto de movimentos oportunos de especulação, ainda que de forma discreta.
Ontem, este comportamento foi mais perceptível, pois foi a única moeda emergente a se valorizar ante o dólar, e, aparentemente ao longo do dia do mercado não ocorreu nada que pudesse determinar esta atipicidade.
Como é de amplo conhecimento a moeda brasileira é uma ótima opção para ser especulada, visto que tem liquidez que facilita o giro, o que já foi demonstrado em inúmeras oportunidades, o que até a conduziu ao posto de 2ª moeda com maior giro nos mercados internacionais, num tempo não muito distante.
Neste momento de “transição” que antecede a definição e anúncio por parte do governo das suas ações na política monetária e fiscal o ambiente convive com incertezas que fomentam a oportunidade de manipulação especulativa do preço da moeda, usando este ou aquele fato ou indicador para justificar os movimentos “oscilantes” das cotações, que por vezes sugerem que estão realizando “day trade”, numa faixa de variação em torno de 2%, que promove a alta até em torno de R$ 2,43 e baixa até R$ 2,37, que oferece risco baixo.
Estes movimentos podem estar sendo desenvolvidos localmente ou no exterior, mas afetam o comportamento do preço no nosso mercado à vista local.
Hoje a expectativa centra-se na manifestação, aguardada pela manhã, quando o Ministro Mantega deverá anunciar a nova meta de superávit fiscal para o ano e, talvez, tenhamos algumas manifestações a respeito da política monetária, cortes orçamentários, etc.
Há também muito foco sobre os eventuais anúncios de cortes orçamentários e a análise mais detida dos montantes, visto que o Orçamento foi construído com um cenário otimista de crescimento, algo como 3,8%, e agora a economia aponta para crescimento em torno da metade desta projeção, algo como 1,79%, segundo o FOCUS ou até menor segundo o IIF Instituto Internacional de Finanças, que representa as maiores financeiras do mundo, que promoveu a revisão de sua projeção de 1,8% para 1,4%. Evidentemente, com a economia crescendo menos arrecadará menos e nem todos os comprometimentos de dispêndios seriam mantidos, razão pela qual deverá ser observado se não se tratará de tão somente um ajuste à realidade, do que um efetivo corte nas despesas do orçamento. Afinal, pode ficar a impressão de que estará sendo cortada tão somente “fumaça”.
A definição destas novas intenções precisa ser bastante técnica e factível, pois se ficar fora do ponto adequado entendido pelo mercado poderá intensificar o negativismo presente, mas em contraposição se for acertada poderá contribuir para moderar o ambiente severamente crítico presente contra o país, sem contudo restabelecer o otimismo imediato, já que nossa percepção indica que desta vez “o governo precisará entregar o compromisso para que reconquiste gradualmente a credibilidade”.
O país precisa de atitudes e extremo rigor na conduta da gestão do que proporá como novas metas. Discursos, retóricas, etc. não contribuirão em nada para o restabelecimento da credibilidade do país.
Por isso, entendemos que foi muitíssimo oportuna a não ida do Ministro Mantega ao encontro do G-20, pois o discurso e a defesa que tem feito de forma retórica, em especial confrontando com os estudos recentes do FED americano, provavelmente seriam insuficientes para reversão de opiniões e conceitos sobre o “status quo” sobre o Brasil, já que precisaria apresentar métricas realizadas por técnicos brasileiros para contrapor-se aos apresentados pela autoridade monetária americana e medidas de austeridade já anunciadas. O argumento que temos “reservas cambiais” não soluciona a questão macro brasileira e o fato de ressaltar que é a 5ª maior do mundo, é um dado que isolado nada quer dizer.
Se efetivamente o Ministro Mantega disse, como atribuído pela mídia, que “um gesto pode valer mais do que mil palavras”, podemos considerar um enorme avanço na percepção da direção certa.
O Brasil precisa responder ao mercado internacional com atitudes e as cumprir com rigor, sabendo que não tem o beneficio da duvida, que lhe permitiria “sacar a melhora da percepção externa” antes de cumprir os compromissos que vier a assumir focando a reconquista da credibilidade.
Não será tarefa fácil dar uma guinada na política expansionista para contracionista por ser um ano eleitoral, o que poderá determinar certo ceticismo por parte dos analistas e o mercado financeiro como um todo, no primeiro momento.
Como temos salientado, acreditamos que o governo tolerará uma alta mais expressiva no preço do dólar, embora fomente a inflação, pois não é recomendável que “queime” reservas cambiais confrontando com a tendência do mercado, e assim só monitoraria a liquidez sem ter o objetivo de definir a taxa. O momento exige que poupe reservas cambiais o mais possível, pois os fluxos externos líquidos tendem ao negativo.
Ademais, a alta do dólar levará ao encarecimento os produtos importados que assim poderão perder competitividade frente aos produtos nacionais e estimular o setor produtivo a realizar investimentos e aumentar sua competitividade exportadora, o que no todo poderia melhorar a performance da balança comercial. O risco presente é que a participação dos produtos importados já é expressiva na economia brasileira. Esta seria uma forma de inibir as importações sem apelar para o aumento da tributação que criaria problemas com a OMC.
Por outro lado, não acreditamos que o governo dará tratamento “light” à SELIC, visto que a inflação está com “sensação térmica” superior a captação que tem havido pelo IPCA, principalmente em torno dos produtos básicos, o que sensibiliza de forma negativa a população mais carente corroendo a renda. O governo precisa começar a transformar em realidade suas constantes “promessas” de que a inflação vai convergir para a meta, que é 4,5%.
E a meta de superávit fiscal deve ser exequível e não requisitar “matemágicas” para ser alcançada, por isso precisa ser estabelecida com sensatez e equilíbrio.
Os dados menos promissores gerados recentemente pela economia americana ainda não permitem evidências claras que podem decorrer de perda de vigor do consumo ou somente das condições climáticas extremas que vem afetando a atividade econômica.
Construção de casas novas nos Estados Unidos declinou 16%; preços ao produtor subiram 0,2% ficando acima do esperado pelos analistas; índice Empire State de atividade industrial na região de NY desacelerou; vendas no varejo apresentaram queda; pedidos de financiamentos para casas novas, etc. Todos são eventos passiveis de influência das condições climáticas severas que vem afetando a economia americana, por isso poderia ser precipitado imaginar-se que a atividade econômica esteja perdendo dinamismo.
Este comportamento da economia americana precisa ser mais bem observado com cautela, pois passado o momento de influência das condições climáticas, poderão surgir indicadores também expressivos, mas no sentido positivo.
No Brasil nem mesmo o fluxo cambial líquido da semana trouxe algum sinal que possa justificar o movimento de apreciação da moeda brasileira ocorrido ontem frente ao dólar.
A semana de 10 a 14 último apresentou um saldo positivo de tão somente US$ 272,0 M, acumulando no mês de fevereiro US$ 318,0 M positivo. É muito pouco. Os bancos estão vendidos em suas posições em US$ 16,2 Bi e o BC as está ancorando com linhas de financiamento no montante de US$ 14,5 Bi.
Nosso ponto de vista, a despeito até do que o governo venha a anunciar hoje, é que o Brasil registrará ainda forte saída de recursos, pelas inúmeras razões que temos declinado, e esta visão foi reforçada ontem inclusive pelo FMI ontem.
Ainda não estamos no “pós crise”, como o Ministro Mantega costuma mencionar, estamos na transição da 2ª fase e portanto sujeito a turbulências no mercado cambial envolvendo os emergentes, inclusive o Brasil, e precisamos ir nos preparando para a 3ª quando os juros subirem nos Estados Unidos, e já há no FED americano, embora minoria, membros que entendem que esta decisão possa ser antecipada.
Hoje, certamente, será um dia muito importante e a partir dos anúncios por parte do governo deverão ocorrer repercussões importantes no mercado financeiro, contudo, no nosso entender, não sendo razoável a ocorrência de excessos de otimismo imediato.