Incertezas muitas, certezas poucas, contudo, relevantes. O Copom deve continuar elevando a taxa Selic, preço do dólar mantendo rota de apreciação e o crescimento do PIB sendo revisto para baixo.

Hoje é dia de decisão do COPOM relativa à taxa Selic. O mercado financeiro evidencia o consenso em torno de uma alta de 0,50%, passando a taxa para 8,50%. Poderia ser 0,75% e ir a 8,75%, porém, o índice oficial de inflação do mês de junho provocou certo alívio, e, como o crescimento derrapa e começa a ser, cada vez mais, revisto para baixo, a elevação de 0,50% ficará mais adequada e de bom tamanho.

Mas isto não quer dizer que a Selic ficará num ponto de conforto, pois a expectativa é de que precisará de, pelo menos, altas minimamente no total de 0,75% ou quem sabe 1,0% para situar o IPCA dentro do teto alto da meta inflacionária do governo neste ano.

Mas, há sinais de que os preços dos alimentos possam mitigar pressões mais intensas deste setor, visto que as “commodities” agrícolas continuam com preços cadentes e não há, como aconteceu no ano passado, quebras de safras americanas e nem se espera que a China venha a intensificar sua demanda neste 2º semestre.

Há, também, sinais de que o consumo possa estar perdendo força, o que pode representar fator de menor pressão na inflação.

Porém, o setor de serviços continua com forte pressão nos preços e este é um segmento que não responde a elevação de juro e está num ritmo de 8,5% ao ano.

Deve ser considerado, também, que a taxa de dispersão da inflação foi mais baixa em junho, atingindo 55,3%, um bom sinal já que desde março de 2012 esse indicador se mantinha acima de 60,0%.

Contudo, o preço do dólar aquecido ainda não despejou no índice todos os seus malefícios, o que se espera surjam a partir de agosto, até porque não há expectativa de que a tendência de alta do preço da moeda americana venha a sofrer qualquer retração no curso até o final do ano.

Não podemos desconsiderar que quase 25% dos produtos consumidos em nossa economia são importados, e assim, o dólar elevado acentua pressão inflacionária mais intensa.

Poderá haver volatilidade, intervenções com “swaps cambiais” pelo BC e até a reversão das últimas medidas restritivas ao ingresso de capital estrangeiro, mas a pressão altista está fundamentada em inúmeros vetores bastante perceptíveis, e, em sã consciência não se espera que o BC venha a irrigar a liquidez de divisas efetivas que se vislumbra como necessária proximamente.

Não é possível nutrir expectativas de melhora de fluxos de recursos externos para o país. O desgaste de imagem do Brasil, na visão do investidor estrangeiro, tem sido muito intenso. A credibilidade na política econômica em geral, incluindo o BC, é muito baixa, e as perspectivas de atividade econômica são cadentes, refletindo diretamente na perspectiva de crescimento do PIB, que vem sendo vigorosamente revisto para pior por analistas econômicos e pelo mercado financeiro.

Balança comercial fragilizada, nível de investimentos externos insuficientes, política fiscal severamente criticada, num ambiente de crescente déficit em transações correntes, fomentam e dão sustentabilidade à tendência de alta do preço da moeda americana.

O governo convive com o anseio de buscar o crescimento, num contexto em que precisa conter a inflação, e esta ambiguidade é fortemente inviabilizadora do sucesso, tendendo a promover, ao serem tratadas como prioridades concomitantemente, o insucesso.

A impressão que passa é que ao BC ficou a incumbência de controlar a inflação e ao MF a de focar o crescimento. Como são ações antagônicas passa a impressão de descompasso e o momento exige que o governo emita sinais mais evidentes a respeito dos seus objetivos.

É preciso considerar que o Brasil está sob forte observação, por isso, qualquer mexida nas “pedras do tabuleiro” em desalinho pode provocar consequências imediatas.

Continuamos ressaltando que no câmbio temos dois riscos que podem agravar o quadro já presente e sustentável de apreciação da moeda americana.

Eventual intervenção do BC no mercado de câmbio ofertando leilão de venda de divisas efetivas, pois demonstrará fragilidade do fluxo de recursos para o país e pode provocar movimento especulativo contra o real.

Eventual reclassificação do conceito de risco do país por agência de risco, que afete a classificação de grau de investimento, e que será determinante de saída em volume de recursos investidos no país, face aos dispositivos normativos dos regulamentos dos fundos estrangeiros.

 

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