O “script” da tendência anunciada segue sendo cumprido. Juros em alta, dólar em alta e perspectivas de crescimento do PIB cada vez mais baixo, para o que passa a contribuir também a debacle da atividade da nossa parceira China

O Copom foi previsível e ajustou em mais 0,5% a taxa Selic passando-a a 8,50%, mas certamente, não será esta a última elevação no ano. É bastante provável que tenhamos mais 0,75% a 1,0% para poder domar a inflação dentro do teto máximo da meta inflacionária do governo.

O comunicado pós-reunião ratifica as expectativas de melhora do cenário inflacionário. Há de fato sinais neste sentido, principalmente, a partir do item alimentos afetado pela queda de preços das “commodities” agrícolas, contudo, persistem as pressões do setor serviços e ainda são incertos os efeitos do preço do dólar apreciado na economia, já que os insumos e bens importados ocupam quase 25% do consumo no mercado interno.

No mercado de câmbio, o preço da moeda americana confirma a sua tendência natural e atingiu a máxima desde 2009 ao fechar em R$ 2,2730, porém, após ter atingido R$ 2,2810. E, para os que acham que o preço local do dólar aqui tem simetria constante com o comportamento externo, ontem, a moeda americana perdeu terreno ante as principais moedas globais.

A sensibilização com as ofertas de “swaps cambiais” realizadas pelo BC tende a ser cada vez menor, na medida em que a pressão de alta passa a ser compartilhada por pressões advindas do mercado a vista, onde a liquidez tem perspectiva de aperto no curto prazo.

O fluxo cambial persiste negativo. Na primeira semana de julho acusou saída liquida de US$ 780,0 M, resultante de fluxo positivo de US$ 582,0 M no comercial e negativo US$ 1,362 Bi no financeiro. Não é possível nutrir expectativa otimista quanto ao fluxo cambial, que, no nosso entender, deverá ter perfil negativo ao longo de todo o 2º semestre.

A posição dos bancos ainda está “comprada” em US$ 2,2 Bi, mas tudo leva a crer que esta disponibilidade será exaurida no curtíssimo prazo.

Ficaria, então, a possibilidade dos bancos ancorarem a liquidez do mercado à vista em posições vendidas, financiadas pelas linhas de crédito externas concedidas pelos banqueiros internacionais e/ou pelo próprio BC, com operações de venda e compra conjugada de divisas, porém, há dúvidas se os bancos estariam dispostos a este posicionamento num cenário que não assegura fluxo para a cobertura das mesmas num momento futuro.

Alternativa final seria a do BC fornecer liquidez ao mercado à vista através de leilões de divisas efetivas. Consideramos esta situação factível, contudo, excessivamente temerária, pois deixaria evidente que o país enfrenta um problema de fluxo de recursos.

Num contexto em que o déficit em transações correntes se avoluma, ficaria bastante claro que o país não conseguirá financiamento total externo, sendo necessária a utilização de parte das reservas cambiais.

Como temos salientado, este contexto se confirmando poderia ocorrer movimento especulativo contra o real.

Por isso, desperta atenção o fato dos fundos estrangeiros virem aumentando suas posições “compradas” no mercado futuro, que pode ser uma sinalização do prenúncio deste eventual movimento especulativo.

Para que se tenha uma dimensão da magnitude deste movimento dos fundos estrangeiros basta observar que em 3 de junho detinham posição “vendida” de US$ 6,0 Bi (US$ 3,7 Bi em cupom cambial e US$ 2,3 Bi em dólar futuro) e em 10 de julho, portanto 1 mês e pouco após, inverteram para posição “comprada” de US$ 9,5 Bi (US$ 1,0 em cupom cambial e US$ 8,5 Bi em dólar futuro). No todo, uma inversão de posição da ordem de US$ 15,5 Bi, dos quais US$ 10,8 Bi em dólar futuro, apostando na fragilização do real.

Portanto, nada mostra viabilidade de que este cenário pró-apreciação do dólar possa ser revertido, já que há fundamentos que proporcionam a sustentabilidade do mesmo, e que conduzirá o preço ao entorno de R$ 2,30, por inevitável.

A volatilidade deverá ser constante, o real já é a 2ª moeda em volatilidade no mundo, mas os pequenos recuos no preço não alteram o viés consistente de alta fundamentada.

Quando se busca obter algum alento a este contexto ambíguo em que está envolvido o Brasil, de precisar, ao mesmo tempo, crescer e confrontar um processo inflacionário aquecido, sendo foco das mais diversas e severas críticas e observações, interna e externamente, pela baixa clareza da sua política econômica, observando o cenário externo, constata-se que os tempos também são adversos ao país.

O teor da ata da última reunião do FED americano não foi tão enfático e decisivo sobre a redução gradual e término dos programas de apoio financeiro focado na retomada da atividade econômica americana, os chamados “QE´s”, quanto o discurso do Presidente Ben Bernanke, deixando evidente que há divergências quanto ao momento em que deve ser iniciado o processo de reversão. Mas de toda forma, não retirou a perspectiva de que o foco no desarme do programa está presente.

Este fato não tira as tensões em torno do fato, mas atenua ao colocar a perspectiva de que possa se alongar um pouco mais até a ocorrência final.

Parece muito evidente que a despeito da economia americana continuar gerando números e perspectivas positivos. Ao que tudo indica, o sinal de preponderante influência para a efetivação da redução e/ou término dos programas denominados “QE´s”, serão os relativos ao emprego, e estes ainda estão distantes do ideal.

Este quadro americano conspira frontalmente com os interesses das economias emergentes, que passam a ser preteridas para investimentos em benefício da economia americana.

Os “treasuries” de 10 anos estão apontando rendimento de 2,68% aa.

A melhora americana é um fator adicionalcontrário aos interesses brasileiros de curto prazo.

Ao observarmos o parceiro maior do comércio exterior brasileiro, a China, não se encontra alento.

O mês de junho revelou dados bastante preocupantes em relação ao desempenho das atividades na China.

As exportações que tinham projeção de crescimento de 3,7% em relação a junho de 2012 decepcionaram caindo 3,1% neste confronto, dado negativo bastante relevante. Por outro lado, as importações que tinham projetado crescimento em 6,0% recuaram 0,7% no mesmo período comparativo.

O índice de preços no atacado em junho sustentou a deflação, registrando queda de 2,7% frente a junho de 2012, após recuo de 2,9% no confronto tendo como base o mês de maio. Este indicativo deixa clara a substantiva capacidade ociosa do parque industrial chinês.

Portanto, na “janela externa” nenhum conforto, os “ventos” também estão contrários ao Brasil.

Este quadro externo agregado ao interno é sugestivo de que o crescimento do PIB deste ano possa ser mais severamente punido do que as projeções presentes.

A percepção agora não é só de que “patinamos”, mas sim, que começamos a andar para trás, e os sinais de desemprego na indústria podem começar a se disseminar por outros segmentos da economia.

Por isso é que o tripé – juro em alta, dólar em alta e PIB em queda – devem continuar sustentando uma tendência largamente fundamentada.

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