Temos enfatizado que em nossa percepção ainda há uma distância substantiva entre os anseios propagados com veemência de expectativas de retomada da atividade econômica e consequente crescimento da economia brasileira e a efetiva viabilidade, e, que esta realidade coloca um intervalo considerável entre ambas.
Evidentemente, não há crítica ao governo Bolsonaro, que corretamente tomou iniciativa fundamental para o equacionamento da crise fiscal com a propositura da Reforma da Previdência, atitude extremamente necessária e que o submeteu a grande desgaste popular, e que, como já salientado, deverá continuar dando sequência com a proposta de Reforma Tributária absolutamente necessária.
Iniciativas fundamentais e desgastantes a qualquer governo, por isso de há muito vinha sendo protelada por governos antecedentes.
Efetivamente, o governo atual recebeu o país em situação caótica com severa crise fiscal e economia estagnada e sem quaisquer condições de obter revitalização de sua dinâmica na rota do desenvolvimento e crescimento imediato. E, assim, vem adotando as medidas na direção correta, a despeito dos ruídos e desgaste popular, mas há uma lacuna a ser preenchido que é o restabelecimento da capacidade governamental de realizar investimentos públicos fundamentais, e este é o entrave maior para que realizadas as correções imprescindíveis a economia deslanche.
As medidas corretivas que vem sendo adotadas visam ajustar o quadro desestruturado recebido pelo atual governo focando colocar suas contas em situação administrável, bem como buscando desburocratizar a atividade econômica com novo ordenamento tributário, mas embora na direção certa, estas medidas por si não são capazes de dar impulsão a atividade econômica, pois mantém o governo sem recursos suficientes e que ocorre numa situação que encontra o setor produtivo com capacidade ociosa expressiva, que inibe as iniciativas de investimentos.
O governo precisa de recursos para promover iniciativas que incrementem a atividade econômica, mas não pode utilizar a elevação do endividamento público para gerar o custeio dos investimentos, já que o esforço atual foi corretivo à distorção consequente desta atitude de governos anteriores, e, por outro lado, o setor produtivo precisa que aumente a renda e o consumo para que ocorra a revitalização do mercado interno para motivação dos investimentos.
Então, a conclusão imediata é que o governo está na direção certa, mas será preciso mais para que tenhamos a retomada da atividade econômica em bases sustentáveis, já que falta tração ao governo e motivação ao setor produtivo.
Por isso, temos salientado que é imprescindível à implementação imediata do plano de privatizações como fonte de recursos para o governo e despertar atratividade ao capital estrangeiro como investimento em conta capital, para em seguida ocorrer a intensificação do mesmo para o mercado financeiro, como investimento em renda fixa e variável.
O governo precisa refazer o seu potencial de investimentos e isto, no quadro atual, somente se configura viável com a desestatização forte de sua participação da economia.
Naturalmente, este interregno é angustiante para um país que urge pela retomada da sua dinâmica econômica, por isso ocorrem precipitações de projeções muito auspiciosas de curto prazo consubstanciadas na pressão dos anseios, mas que sugerem estar distantes da realidade, e isto podem causar frustrações e críticas, como expectativas sobre criação de emprego, aumento de renda e consumo.
Seria razoável até se supor uma relativa sustentação do ritmo baixo da atividade econômica deste ano, mas interrompendo o viés de piora, porém o próprio governo, o BC e as medianas das projeções do mercado financeiro visualizam crescimento do PIB neste ano de tão somente 0,8% e 2º semestre com atividade econômica estagnada, o que é negativo para a formulação de perspectivas.
Em razão deste contexto é que temos sido mais comedidos em relação à tendência de valorização da Bovespa, que deverá continuar com a predominância do investidor nacional, e sermos mais comedidos, também, na projeção de apreciação do real frente ao dólar, pois o fluxo cambial negativo, fato novo nas considerações em torno deste ativo, é um fator de contenção de queda do preço e reflexos no mercado de cupom cambial, embora o país tenha uma situação cambial absolutamente defendida.
Então, o tempo é o elemento desafiador ao governo e ao país, para que complete o ciclo de ajustamentos que darão sustentação à retomada da atividade econômica, e reconquiste a atratividade sustentável dos investidores externos.
Por enquanto ainda poderá predominar este comportamento um tanto quanto volátil e até ocorrer exacerbações como ontem, pois o fato de haver indicativos de que o FED possa a vir promover forte redução do juro americano não é indutor imediato para que se projete, como no passado, perspectivas de intensos fluxos de capitais estrangeiros para o Brasil, tendo em vista que o grau de atratividade efetiva do país, neste semestre, é baixa.
Observar com acuidade é relevante e sensato!
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO