Fluxo cambial assume tendência negativa e dólar é desvalorizado (SIC!)

Difícil perceber o peso da “intervenção do BC” no mercado focando manter a apreciação do real, sendo acompanhado pelo interesse dos “players” posicionados “vendidos” no mercado futuro e no mercado à vista?

Evidentemente que não!

O fluxo cambial foi negativo em US$ 2,5 Bi na semana passada e está negativo no mês em US$ 1,737 Bi, com a persistência do fluxo negativo no segmento financeiro já ocorrido no mês passado e se repetindo neste mês de maio. A despeito dos intensos ruídos o fluxo financeiro só acumulou no ano saldo positivo de US$ 582,0 M até o dia 9 passado.

A tendência de fluxo negativo se acentua, mesmo com discreta recuperação do fluxo comercial em consequência das exportações agrícolas pontuais nesta época do ano, e deve passar a prevalecer com a intensificação da reversão dos fluxos de capitais especulativos que ingressaram no país no 1º quadrimestre, havendo também um volume considerável de passivo em comércio exterior que está tendo precipitada a liquidação face à taxa cambial estar baixa e, portanto, atraente.

Todo o cenário presente sugere o preço da moeda americana em valorização, pois além do fluxo negativo como tendência ainda há US$ 15,3 Bi de posições “vendidas” no mercado de câmbio à vista que estão sendo carregadas pelos bancos em razão da insuficiência de fluxo que já se evidencia desde o ano passado, afora um passivo liquido de comércio exterior em torno de US$ 6,0 Bi.

O país teve um inesperado fluxo especulativo de recursos externos no 1º quadrimestre, caso contrário já estaria com fluxo negativo intenso, visto que desperta cadente interesse dos IED´s e que deverão ser insuficientes para financiar, mais uma vez, o déficit em transações correntes.

Ilusório tentar, na falta de melhor argumento, atribuir a apreciação do real à expectativa de estímulos do BCE. A propensão de novo deslocamento de capitais especulativos para o país este ano como ocorreu ao longo do 1º quadrimestre é praticamente nula, visto que a partir desta fase do ano deverão se acentuar as incertezas internas e além disto ainda não afastou a parte mais relevante das suas vulnerabilidades, aliás como destacou o economista-chefe do FMI Olivier Blanchard, quais sejam problemas com a credibilidade da politica fiscal, da politica monetária ou ambas.

O Brasil tem sustentado que não é vulnerável enaltecendo o estoque de reserva cambial que detém em torno de US$ 380,0 Bi, a qual tem defendido a preservação ao máximo para evitar transparecer que se ressente de fluxos positivos suficientes desde o ano passado, o que provoca que os bancos autorizados a operar em câmbio suportem “posições vendidas” para geração de liquidez já equivalente a 4% destas reservas, que a rigor ao invés de estarem sendo ancoradas por linhas de financiamentos do próprio BC, deveriam estar sendo diretamente fornecidas na forma de divisas disponíveis à vista para o mercado de câmbio.

Portanto, é fácil detectar que se o fluxo tem viés tendente a negativo, havendo ainda substantivo volume de posições “vendidas” constituídas pelos bancos para suprir a liquidez insuficiente auto gerada pelo fluxo cambial, que a ocorrência da contraditória apreciação do real decorre da intervenção do BC no mercado com excesso de oferta de “swaps cambiais”, que acreditamos no médio prazo perderá eficácia com a demanda por estes instrumentos sofrendo retração na medida em que se intensificará a demanda no mercado à vista.

O BC assim age buscando conter as pressões inflacionárias, mas deixa presente um risco de correções abruptas, ainda neste ano, que podem determinar que os ganhos que possa ter proporcionado com o real apreciado excessivamente venham a ser anulados.

É provável que acreditando em suas convicções no sentido que seja possível reverter as pressões inflacionárias de a muito presentes na economia brasileira almeje ao obter sinais consistentes neste sentido, diminuir a intervenção no mercado de câmbio com ofertas de “swaps cambiais”.

É muito improvável que haja uma efetiva reversão significativa das tendências inflacionárias, por isso seria necessário que o BC diminuísse a intervenção sem esta perspectiva de forma a evitar impactos abruptos no preço da moeda americana.

É possível que em 30 de junho próximo quando se encerra o programa de oferta diária de 4.000 contratos novos de “swaps cambiais”, o BC o descontinue e passe a atuar se e quando necessário como sugere a boa técnica sem antecipações de suas ações que é uma atipicidade considerando a dinâmica e a sensibilidade do mercado de câmbio.

O importante é que devemos considerar que o que ocorre na formação da taxa de câmbio no mercado é absolutamente incoerente com os fundamentos, tendo a convicção de que até o final do ano tudo indica que a tendência seja de apreciação do preço da moeda americana da ordem de 10% a 18% em praticamente 7 meses, e que quanto maior for o tempo de intervenção do BC mais abrupto será o movimento de ajuste.

O Brasil ainda terá que suportar movimentos mais intensos de saída de recursos, que neste momento dão os sinais iniciais, havendo inúmeros motivos para que isto aconteça ao longo deste ano, por isso é preciso estar atento às perspectivas de impacto no preço da moeda americana.

 

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