A dispersão no debate a respeito da Reforma da Previdência provoca um tumultuado contexto que acaba dando relevância a temas menores, que assim tiram o foco no que é mais relevante e tornam nefastas as discussões de temas diversos em paralelo e absolutamente inoportunas e tudo se torna inconcluso e absolutamente negativo.
É preciso liderança e articulação e não se observa nem uma e nem outra, há muitas picuinhas e pouca efetividade nos debates e que resultam em retrocessos contínuos e desalento.
Há um efetivo retrocesso nas decisões jurídicas e políticas e uma acentuada inabilidade por parte do governo na condução das discussões e debates, que acaba por determinar-lhe derrotas em seus objetivos.
A economia está inerte e o que está ruim acaba induzindo perspectivas de ficar pior, o desemprego tem claro viés de agravamento causando a consequente redução de renda e consumo.
E mais, não sugere e nem estimula novos investimentos.
Este embate entre poderes com acentuada extrapolação das competências com as intromissões continuadas tem forte poder de indução ao desalento, e isto é muito ruim ao contaminar o “clima” em geral no país e à visão dos investidores estrangeiros, e por que não, até dos nacionais.
Desordem em nenhum ambiente é construtivo e, neste momento no Brasil não é diferente, por isso o nosso mercado financeiro reage de forma negativa demonstrando forte desalento e ficando à mercê de movimentos, em parte, especulativos e em parte coerentes com a cena presente.
É imperativo e urgente que sejam supridas as faltas de lideranças e de articuladores efetivos para que o assunto principal, a Reforma da Previdência, seja o foco absoluto de todas as partes envolvidas e amadurecendo a percepção de que a respeito da propositura “ou aprovamos ou aprovamos”, caso contrário o país poderá ficar absolutamente inviável sem recursos.
Enfim, então não há o porquê se estranhar reações atípicas exacerbadas na Bovespa, no câmbio e no juro, pois são naturais, algumas com fundamentos fomentados em visão prospectiva e outras nem tanto, mas com cunho especulativo.
Daí para a ocorrência de desorganização dos preços relativos da economia é uma curta trajetória.
O preço do petróleo e seus derivados devem repercutir rapidamente e impactar nos custos do modal de transportes do Brasil onde predomina o rodoviário, ocasionando perturbações sociais.
Por isso, quando os analistas procuram não ser tão rigorosos com este cenário áspero predominante internamente no país, evitando em falar mais detidamente do confronto entre os poderes e especulação presente no mercado financeiro brasileiro ancorado no emocional e nem sempre no racional, e, no nosso entender, enfatizam a crise sino-americana como o epicentro dos impactos no nosso mercado financeiro, consideramos um erro, não que o problema China-Estados Unidos não seja relevante, mas, neste momento, para o Brasil é de baixo impacto, visto que o que prepondera são os nossos problemas e desencontros internos.
China e Estados Unidos são nossos parceiros e concorrentes e quando afinam seus interesses o Brasil perde no mercado de soja e de carnes.
Nossos problemas maiores e mais acentuados no momento estão aqui mesmo internamente visto que, neste momento, não somos protagonistas no cenário mundial, pois, afinal, não sabemos se vamos avançar ou retroceder como economia, visto que a perspectiva ainda perdura binária.
Então não há como se estabelecer tendências de curto prazo e nem as intempestividades que podem afetar a formação de preços e indicativos do mercado financeiro, inexistindo possibilidade de visualizar projeções mais seguras em perspectiva no país.
Como a alta do dólar é, no nosso modo de entender, efêmera e não duradoura exportadores mais experientes e articulados podem aproveitar para vender posições futuras e assegurar o preço exacerbado para suas exportações que serão efetivas, como negócio de oportunidade, contrapondo-se oportunisticamente e tirando proveito do movimento especulativo comprador no mercado futuro de dólar.
Mas, permanece a advertência, especular com preço do dólar na ponta compradora no mercado futuro de dólar é de alto risco, e será maior se superar os R$ 4,00. O país não tem risco de crise cambial.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO