O mundo financeiro se manteve em alerta para conhecer os termos da Ata do FED relativa a sua reunião de julho e fomentou a expectativa no pior cenário, ou seja, o de que a autoridade monetária americana iria pontuar com maior precisão a redução ou término do seu programa de compra de bônus mensais, focando a recuperação da atividade econômica dos Estados Unidos.
Houve um absoluto desarranjo nas relações paritárias das moedas em relação ao dólar americano, colocando como presente a hipótese aventada e precificando altas e baixas considerando o grau de impacto que cada país teria com a confirmação do pressuposto.
Mas em relação ao real os impactos foram além do razoável, com os especuladores postados com suas posições compradas no mercado futuro/derivativos de dólar aproveitando para detonar forte ataque especulativo sobre a formação do preço da moeda americana, certamente, amparadas em giro jocosamente chamado pelo mercado como “zé com zé”, que promove o giro impulsionando a alta.
A sensação foi de que os especuladores buscaram a “revanche” contra o BC, que anteontem mudou sua estratégia e passou a atuar focando promover liquidez conjunta no mercado futuro e no mercado à vista, neste com leilões de linha de financiamentos aos bancos, contrariando os especuladores que certamente esperavam o BC vendendo dólares efetivos para o mercado, retirados das reservas cambiais do país, que abriria caminho para promoverem fortíssimo ataque especulativo sobre o real.
A desvalorização do real chegou a 2,33% seguido de perto pelo peso mexicano.
A presunção é de que com a redução/término do programa americano, os países emergentes, em especial, perderão grande parte dos investimentos estrangeiros em renda fixa e variável e que esta circunstância pressionará o preço das suas moedas, desvalorizando-as.
Ocorre que o FED, essencialmente, disse em sua ata que ainda está aguardando uma melhora contínua no mercado de trabalho e deu a entender que pode ainda não ser o momento para afunilar o seu programa de compra de títulos.
No próximo dia 6 de setembro ocorrerá a divulgação de dados sobre o emprego nos Estados Unidos e este evento será aguardado com grande ansiedade pela comunidade financeira global.
A despeito da exuberância do “overshooting” ocorrido na taxa cambial, o BC corretamente no nosso ponto de vista, limitou-se a realizar o leilão já programado de rolagem de 20.000 contratos de “swaps cambiais”, visto que a alta ocorrida não decorreu de demanda efetiva e sim de movimento articulado puramente especulativo.
Passado este momento, o BC deve manter o foco persistente na massificação da oferta de liquidez nos segmentos à vista e futuro do mercado de câmbio, não dando trégua aos especuladores, que buscam promover e sustentar o “overshooting” no preço da moeda americana, resgatando a formação do preço para o mercado e seus fluxos, sob sua vigilante observação e sempre que necessária impor sua ação saneadora.
A certeza de que o BC manterá sua aguda intervenção gerando liquidez, agora em especial no mercado à vista, vem do prévio anúncio ontem de que hoje realizará novo leilão de linhas de financiamento em moeda americana aos bancos, no montante de US$ 4,0 Bi.
Importante lembrar que na terça-feira a autoridade monetária já realizou leilão de idêntica magnitude.
Os tempos são adversos para o Brasil em questão de fluxos de recursos externos, mas a estratégia do BC, com atuação nos dois principais segmentos do mercado de câmbio, poderá opor-se à ação especulativa sem, contudo, levá-lo à necessidade imediata de ter de suprir a liquidez do mercado diretamente, ou seja, fazendo leilões de venda à vista direta para o mercado, o que implicaria em reduzir o montante das reservas cambiais brasileiras.
Na forma de concessão de linhas de financiamentos em dólares aos bancos (venda à vista e recompra a prazo), através leilões, o BC promove a liquidez por intermédio dos bancos, sem impactar no montante de reservas cambiais pelo conceito de liquidez internacional.
A taxa cambial tem forte poder impactante na inflação dada a sua rápida disseminação na economia e o governo precisa conter esta transmissão visto que o IPCA-15, divulgado ontem, já deixou um sinal de alerta importante de que a espiral inflacionária está viva e ativa.
O preço da moeda americana acima de R$ 2,30 neste momento não é boa para o país e, a rigor, para nenhum setor da economia brasileira. Nem mesmo a indústria exportadora, visto que os insumos importados, que se incorporam aos produtos, são onerados e há o incremento do processo inflacionário que desencadeia alta dos insumos nacionais.
É enganosa a ideia de que o preço mais elevado beneficiaria a redenção da indústria manufatureira exportadora, até porque a taxa cambial precisa estar estável com baixa volatilidade para ser base segura das negociações no exterior, que têm suas conclusões numa relação causa/efeito bastante lenta, devendo ser considerado o acirramento da concorrência presente no comércio exterior, que exige competitividade do produto brasileiro que vai muito além da taxa cambial.
Portanto, é imperativa a ação do BC focando o expurgo da exacerbação do preço da moeda americana, evitando assim, impactos mais contundentes na inflação que podem exigir que a Selic seja elevada até os 2 dígitos.
Mas é importante e fundamental que o tema câmbio não seja continuadamente abordado por membros do governo de forma conflitante, para uns é ótimo o preço alto, para outros é preocupante, etc. A Presidenta Dilma precisa colocar ordem na casa e alinhar o discurso e definir quem pode declarar posicionamentos do governo a respeito do assunto.
O importante é que passado o “stress” pré-divulgação da Ata do FED americano, que não trouxe a notícia ruim para os mercados financeiros, cuja expectativa abriu espaço para a especulação ter se renovado ontem, o BC retome a sua estratégia que foca promover farta liquidez no mercado à vista e futuro.
A persistência e a abundância de liquidez nos dois segmentos será, certamente, o melhor antídoto aos movimentos especulativos.
Há muitas semanas vimos colocando que era extremamente relevante que o BC mudasse sua estratégia, o que o fez a partir da última terça-feira, e, no nosso entendimento deveria ser agora mais agressivo também nos leilões de “swaps cambiais”, com novos colocações e não rolagens, leiloando lote de 100.000 contratos ou até mais de forma a deixar evidente a sua disposição de banir a especulação presente no mercado.
A expectativa é que o BC não esmoreça neste enfrentamento, mostrando-se firme e contundente.
O Brasil sabidamente está enfrentando inúmeros problemas, alguns até com sinais de agravamento, mas se houver liquidez abundante no mercado de cambio à vista e futuro a especulação não encontrará campo fértil para se instalar e prosperar.
As reservas cambiais devem ser utilizadas somente estrategicamente e preservadas, visto que os fluxos estão negativos para o país, o que torna mais importante ainda a preservação dos níveis atuais.